quarta-feira, 20 de setembro de 2017

Quando tudo parecia bem, lá vem mais história..

Passados os três primeiros meses de fossa, eu estava com a carteira de motorista na mão e começando a fazer amizades. Todas brasileiras, mas eu estava amando. Estava adorando andar de carro sozinha, me virar. Ir a happy hours, dar gargalhadas, ter uma vida só minha. Há anos eu não sabia o que era ter uma vida minha, da Carolina, sem filhos, sem marido. Por mais que a maioria das amizades tenham surgido do grupo "Mamães brasileiras do Vale do Silício", nossos encontros raramente envolviam filhos. Estava sendo uma experiência única pra mim, eu estava realmente feliz.

A empresa que o Diego trabalha andava estranha. Tinham tido algumas demissões, o clima estava meio tenso. Um dia qualquer até tínhamos conversado sobre eu ter lido no processo do visto que dizia que ele poderia trabalhar em Sunnyvale ou Los Angeles, divagamos, falamos e ok, tudo bem se algum dia precisar morar em Los Angeles, vai ser legal. Muito fácil falar, né? 

Um belo dia o Diego me manda uma mensagem "we're moving to LA". O escritório de Sunnyvale ia fechar e não tínhamos escolha. Não haveria mais possibilidade de trabalhar remoto. As opções eram mudar pra Los Angeles ou voltar pro Brasil, ambos desempregados. Mas como?? Não, eu não quero mudar pra LA, eu tô amando morar aqui, os meninos estão adaptados na escola, eu tô fazendo amizades, eu já conheço a cidade. Não quero!!!

Por que não usei minhas possibilidades de contato pra conseguir a licença sem remuneração na Celesc? Meu Deus, voltar pro Brasil? Os meninos perderam boa parte do ano escolar. Com o que eu vou trabalhar no Brasil nessa crise que tá? Nesse desemprego absurdo? Os meninos vão estudar em escola pública? E o plano de saúde? Não quero voltar pro Brasil. Não agora. Temos muito o que viver aqui. Mas também não quero ir pra Los Angeles. Eu nunca quis nem morar em Floripa porque era muito movimentado, imagina Los Angeles????

Eu lembro de conversar com a minha prima e ela ficar toda feliz com a ideia e eu fiquei muito puta. Gente, como assim? Los Angeles não tem nada a ver comigo. Chorei também pra minha amiga de adolescência e ela gritou de emoção pela possibilidade de ver artistas de cinema pela rua, hahahhahahahah. Gente, eu que no máximo sei o nome da Julia Roberts e do Robin Willians (esse só se eu encontrar com o fantasma pela rua)? Não acho a me-nor (isso mesmo, com intonação, tem que ler as duas sílabas separadas me-nor) graça nessa possiblidade. Não tô achando graça nenhuma nessa história.

Incentivei o Diego a fazer umas entrevistas no vale do silício. O medo da mudança era tanto, o medo de mudar de novo, de sofrer tudo aquilo que sofri no início de novo. Eu estava desesperada. Não queria sentir aquilo tudo de novo. Eu disfarçava que era sobre a adaptação dos meninos, mas era comigo mesmo o problema.

O universo mais uma vez deu seu empurrão e o Diego não teve sucesso em nenhuma das entrevistas. Contamos pros meninos que iriamos nos mudar de novo e no mesmo instante o Lipe falou: "mas nós já compramos até o sofá". O Pablo falou que queria ir de avião pra Los Angeles e depois compraríamos outro carro. Na cabecinha deles nós iríamos nos desfazer de tudo de novo e começar tudo do zero de novo, igual quando viemos do Brasil.

Não sabíamos quando seria a mudança e nem pra onde seria exatamente. Procurávamos bastante coisa na internet, mas nada agradava. Buscávamos por boas escolas, perto do trabalho, mas nada brilhava nossos olhos, o que podíamos pagar não era perto o suficiente do trabalho e não nos encantava.

Uma coisa era fato, eu tinha aprendido com a última despedida a valorizar as amizades e as oportunidades enquanto elas existem. Não recusei um convite. Dei um jeito de ir a todos os happy hours, almoços e caminhadas que fui convidada e também convidei. Plantei a sementinha da amizade e reguei o quanto pude.

Eu já estava engolindo a situação, mas não gostando dela, nem um pouco. Tava puta. Mas então veio a ideia de aumentar o tempo de deslocamento pro trabalho e morar na praia. Opa! Agora brilhou os olhos. As escolas na praia tinham notas ótimas. O preço do aluguel era o mesmo que pagávamos em Sunnyvale. Achamos o apartamento perfeito pela internet. Eu teria que levar o Diego todo dia no ponto de ônibus, que ficaria a 20 minutos de casa, mas foda-se, vale tudo pra morar na praia.

Em maio viemos conhecer alguns apartamentos. Aquele que gostamos na internet laçou nosso coração. A cidade é muito bela, como o próprio nome diz. Fica a cinco minutos caminhando da praia, onde tem um calçadão delicioso pra caminhar e um pier que é impossível descrever. O apartamento é bem mais iluminado que o anterior, em Sunnyvale. Os meninos correram e pularam no apartamento pra ter certeza que não iria tremer o prédio inteiro, como acontecia no anterior. É esse. Aqui vai ser nossa casa.

Início de junho o Diego se mudou, sozinho, dormindo num colchão de acampamento, comprou uma panela, um pote e talheres descartáveis. Eu queria que os meninos terminassem o ciclo na escola em Sunnyvale. No Brasil nós não esperamos encerrar o ciclo, havíamos esperado tanto pelo resultado do visto, que eu não queria esperar nem um dia a mais, mudamos uma semana antes do fim das aulas do Lipe e 3 semanas antes do fim das aulas do Pablo. Aqui eu fiz questão de esperar. Os meninos aproveitaram cada dia da última semana de aula e todas as programações especiais desse final de ano escolar. Fiz a despedida com as minhas amigas, sem choro, tendo certeza que as de verdade vão vir me visitar e no dia 14 de junho nos mudamos.

Nos mudamos pra Hermosa Beach, no sul da California. O Diego encontrou um ônibus que ele pega super pertinho de casa (não preciso leva-lo no ponto como pensávamos no início). O bus tem wi-fi e ar condicionado, leva em torno de uma hora até o trabalho. Quando ele volta, final de tarde, sempre dá uma passadinha pra ver o mar. Ele ouve todos os podcasts possíveis e olha instagran, twitter, reddit e todas as redes sociais possíveis no caminho do trabalho pra casa. Quando ele chega em casa, ele é todo nosso.

Eu estou fazendo yoga, sendo que um dia da semana é na praia (realização de mais um sonho). Estou com planos de voluntariar e provavelmente quando esse post for publicado eu já estarei voluntariando há um tempo. Todo dia eu faço questão de ver o mar. Levo a Fofinha pra passear e deixo ela cheirar os outros cachorros. Os donos dos outros cachorros deixam ela cheira-los, o que não era comum em Sunnyvale. 

Os meninos estão indo no Summer Camp, porque as aulas só começam em setembro e eu quero que eles continuem praticando o inglês e que façam amigos. Eles estão adorando ter o mar por perto e estão sentindo a alegria da mãe e do pai por estarem aqui.

Eu agradeço todo dia por essa oportunidade. Olho esse mar lindo, com o pôr do sol divino e só agradeço. Agradeço por tudo ter dado "errado". Sinto uma gratidão infinita. As vezes meu coração parece que vai explodir de gratidão. Eu tenho muito o que estruturar por aqui, mas realmente, definitivamante, não quero me mudar daqui tão cedo. E por razões totalmente diferentes da última vez que falei isso. Dessa vez eu digo que quero ficar aqui, porque me sinto em casa desde o primeiro dia que pisei aqui. Só agradeço. Gratidão.

quarta-feira, 13 de setembro de 2017

Feminista e dependente financeiramente do marido, como fica?

Bom, esse post é um dos que eu estou mais enrolando pra escrever. É punk pra mim, é difícil pra caramba, mas vamos ver como ele flui. Lá nos meus quinze anos eu comecei a "ficar" com o Diego. Um mês depois, meus pais se separaram. Antes (e depois) da separação eu presenciei muitas brigas bem feias por causa de dinheiro. Minha mãe era dona de casa por opção e o único provedor era meu pai. Sempre presenciei muito controle sobre os gastos. Presenciei a obrigação da minha mãe de mostrar onde foi gasto cada centavo enquanto ela nunca soube quanto meu pai ganhava e onde gastava. Muito controle, muita briga, mais gastos, mais brigas... e o eu tinha o exemplo exato de como eu queria que meu relacionamento NÃO fosse.

Claro que naquela época (foto esquerda) eu e o Diego não tínhamos idéia, apesar dos sonhos, de que ficaríamos juntos tanto tempo. Mas desde o início nossa vida financeira foi aberta e sem divisões. Fui professora de inglês aos 16 anos e o Diego fazia estágio da escola técnica. Eu ganhava R$120,00 e ele R$100,00. Nós guardávamos R$100,00 e vivíamos com o restante. Claro que nessa fase morávamos com nossos pais e não tínhamos que pagar nada além de alguma roupa nova ou a pizza que saíamos pra comer. Desde aquela época, nunca dividimos uma conta. Nunca foi meio a meio. Nunca. O dinheiro sempre foi nosso. Mesmo quando éramos dois pirralhos adolescentes ganhando uma merreca.

O salário dele foi crescendo, eu pulava de emprego em emprego por pura imaturidade, mas o dinheiro sempre foi nosso. Ele foi morar sozinho, mas eu sempre tive acesso a senha da conta dele, sempre fizemos as contas juntos, enfim, era assim que vivíamos. Passei no concurso da Celesc e casamos. O salário dele era maior, mas eu tinha o vale alimentação, plano de saúde e isso equiparava. Esperávamos entrar o vale pra fazer compras, esperávamos entrar o salário dele pra pagar as contas maiores (as menores normalmente já tinham sido pagas com meu salário).

Nunca dividimos. Nunca foi "eu pago o carro, tu paga a casa, eu pago a luz, tu paga a água". Nunca! Sempre foi "a conta que vence primeiro é paga com o salário que entra primeiro" e assim a vida segue. O salário dele sempre foi maior e o meu sempre foi a segurança e a estabilidade na nossa vida. Ele viajava muito a trabalho e nenhum de nós estava feliz com aquela situação. Eu já tinha pedido pra ele pedir demissão trinta mil vezes, mas faltava coragem. 

Um belo dia, a empresa avisou que ele teria que viajar no dia seguinte, sem nenhum planejamento. O Pablo era bebezinho, era uma situação chata, ele ficava sempre mais de um mês longe e morávamos longe das avós, ou seja, não tinha apoio por perto pra cuidar da criançada. Por um empurrãozinho do universo ele perdeu o vôo. Ele aproveitou, foi até a matriz e pediu demissão. Tínhamos a segurança do meu emprego. Ele queria começar a trabalhar com TI e assim foi. Por uma sorte do destino, na mesma semana ele recebeu a proposta de uma empresa que ele fazia freelances pra trabalhar em tempo integral. Perfeito. O salário ia ficar um pouco menor, mas sem as viagens.

Mas a vida não era só flores. Faltava diálogo, faltava mesmo o diálogo. E além do diálogo, faltou grana, porque aquela nova empresa ficou dois meses sem pagar. E nesses dois meses vivi um inferno. Digo vivi, porque o Diego nem fazia idéia do que eu tava passando, afinal, eu não falava, esperava que ele advinhasse, tivesse um feeling, sei lá, hahahahahahahhaha ha ha. Não tínhamos dinheiro pra pagar faxineira (e várias outras coisas) e eu queria que o Diego desse jeito na casa, afinal, ele estava o dia inteiro dentro de casa. Eu não entendia que ele estava trabalhando (sem receber, mas estava) e ele não sabia o que eu esperava dele: cooperação. Éramos imaturos, o modelo machista ainda sobressaia, onde eu achava que eu, por ser mulher, tinha que dar conta dos filhos e da casa, além das oito horas de trabalho fora e ele, claro, também se aproveitava da situação.

Eu me achava uma coitada por ter um marido que não "ajudava em casa", achava que precisava dele pra viver e que não tinha escolha. Eu achava que a solução era o divórcio, mas acreditava que não poderia me bancar (assunto pra outro post). Enfim, os pagamentos atrasados entraram, a situação financeira começou a melhorar e muito dali pra frente. O relacionamento não melhorou na mesma proporção. Continuávamos no mesmo esquema financeiro, salário que entra primeiro, paga a conta que vence primeiro e assim funcionava.

Trocamos de carro, trocamos de apartamento e exatamente dez meses depois, trocamos de cidade. Fizemos algumas escolhas beeeem erradas por falta de diálogo, quase nos separamos de verdade, construimos nossa casa e reconstruimos nossa relação. Muita terapia e entendimento sobre mim mesma. Entendi que estou com ele por escolha e não porque preciso dele e isso mudou tudo. Me encontrei no feminismo e a medida que eu ia me transformando, eu fui sentindo mudanças no Diego. Crescemos juntos. Amadurecemos juntos.

O diálogo foi surgindo naturalmente com o amadurecimento. Tudo foi ficando mais claro, aprendemos cada vez mais um sobre o outro e sobre nós mesmos. Mas eu ainda não tinha coragem de sair do meu emprego e depender totalmente dele. Eu queria ser doula, mas eu tinha o "sonho de todo mundo" nas mãos, eu tinha a história da minha mãe, eu tinha o medo. Tinha a cobrança da sociedade, tinha tanta coisa.

Mas... Mas... Maaaaaaaaasssss... ser dona de casa e depender do marido fora do país pode, né? Daí é tudo lindo, tudo beleza. Quando comentava com algumas pessoas que sairia da Celesc pra trabalhar como doula era a maior loucura do planeta: "sua louca, jogar um emprego maravilhoso fora e depender do marido?". Mas quando eu comentava que mudaria de país, aí é só alegria, ninguém em nenhum momento perguntou se eu iria trabalhar ou sei lá.

Pois é, minha gente, cá estou. Na California, sem permissão de trabalho e dependendo totalmente do marido financeiramente. E como foi isso? No começo uma bosta. Horrível, eu me sentia péssima, inútil, achava que devia explicações pra tudo, achava que a obrigação de manter a casa e os filhos em ordem era unicamente minha, afinal, eu não tô botando dinheiro dentro de casa.

Passamos por alguns apertos financeiros e isso piorou bastante meu sentimento, minha sensação de
impotência. Mas com o tempo a poeira foi baixando, fui lembrando que somos uma equipe e que tomamos essa decisão juntos. Que não seria possível de outra maneira, pelo menos nesse primeiro momento. Que sabíamos que seria assim e que nada mudou. O dinheiro continua sendo nosso e em nenhum momento precisei justificar onde gastei algum dólar. Claro que somos adultos e sabemos exatamente onde e quando podemos gastar. Mas basicamente hoje eu nem me lembro mais que não "coloco dinheiro dentro de casa".

Sinto falta de trabalhar, de produzir, de ver gente. Mas isso vai ser resolvido logo logo quando eu começar a voluntariar. Sinto falta de ter "meu dinheiro"? Não, não sinto. Continuamos tendo o nosso dinheiro e eu não preciso pedir autorização pra comprar uma calcinha ou fazer depilação, como muita mulher relata. Custei a me adaptar a essa nova realidade, foi preciso bastante terapia e auto conhecimento. Mas hoje estou em paz. O dinheiro que ganhamos é suficiente pra termos uma vida ótima, minimalista, sem luxos, exatamente como precisamos. Se o universo me oferecer uma oportunidade quando eu tiver permissão de trabalho por aqui, vamos analisar juntos se vale a pena. :)

quarta-feira, 6 de setembro de 2017

Staying at home mother - Experiências de Carol

Bom, nem sei por onde começar. Desde que casei, como já contei antes, eu trabalhei. Oito horas por dia, cinco dias por semana, 11 meses no ano. Com exceção dos anos em que tive a licença maternidade. Com 5 meses de idade o Lipe foi pra escolinha, minha rotina sempre foi deixar o filho na escola e correr pro trabalho. Nas férias da escola, eu pedia socorro pras avós, porque eu não tinha oportunidade de parar de trabalhar durante as férias dele. Logo veio o Pablo e então a correria aumentou, eram dois filhos na escola e a mãe trabalhando o dia inteiro.

Por muitos anos ambos estudavam em período integral. Eu passava pouquíssimo tempo com eles, essa é a verdade. Eles iam pra escola as oito da manha e algumas vezes eu peguei eles só as sete da noite. Nos mudamos pra Tijucas e o cenário mudou um pouco. O Diego trabalhava de casa e o Lipe já estava maiorzinho. O Pablo continuava em período integral e o Lipe estudava só de manhã, já almoçava conosco. Em 2016 resolvemos deixar o Pablo em casa pela manhã e o Lipe em casa no período da tarde, então ao menos eu almoçava com ambos.

Eu vivia cansada e estressada. Meu trabalho sugava todas as minhas energias, eu esgotava minha paciência e não sobrava quase nada pros meninos. Não era cansaço físico, era mental. Em outubro de 2016 eu comecei meu "processo de demissão". Eu poderia pedir demissão e ficar com o dinheiro das férias e licença que eu tinha pra tirar, mas naquele momento eu não precisava de dinheiro, eu precisava de paz. Então tirei férias e licença prêmio, enquanto criava coragem pra pedir demissão.

Como era difícil largar aquele sonho de todo mundo pra correr atrás do meu sonho de ser doula. A idéia era que eu trabalhasse como doula, me dedicasse as rodas de gestante e focasse nas consultorias em aleitamento nesse período, em que eu ainda tinha dinheiro entrando. Mas o Pablito teve catapora e foi o primeiro momento que eu agradeci por estar em casa. Agradeci por poder estar com ele, ao mesmo tempo que estava chateada por não poder ter contato com gestantes e recém nascidos. Não pude fazer meu "test drive" de como seria trabalhar como autônoma e administrar meu tempo.

Quando acabou a minha "quarentena" por causa da catapora do Pablo e eu poderia trabalhar com gestantes, já era a última semana no Brasil e tava na correria de resolver tudo pra mudança. Sim, o resultado do visto saiu enquanto eu estava fazendo meu "test drive". Nos mudamos no começo de dezembro e então começou a nova realidade. 

Serviços domésticos. Gente, socorro. Não acaba nunca. Sim, fui mimada (e privilegiada) e nunca tinha limpado uma casa na vida. Em dez anos de casados, sempre tivemos quem fizesse tudo pra gente, já que eu trabalhava com algo que não gostava, então me dava o direito de pagar pra que alguém fizesse outra coisa que eu não gostava. Limpar a casa, cuidar da roupa e da cozinha é chato pra caramba. Nós limpamos (tirar pó, limpar banheiro, etc.) a casa todos juntos, quando não dá mais pra viver nela. Mas sempre tem louça na pia, roupa pela casa, roupa pra lavar, roupa pra dobrar, lixo pra descer, etc.

É muito chato. Mas ok, faz parte da escolha que fizemos, e mesmo que volte pro Brasil, provavelmente não vamos pagar alguém pra limpar a casa, nem voltaremos a passar roupa e provavelmente teremos uma lavadora de louças. Realmente a expectativa de limpeza aqui é bem diferente e de maneira geral os serviços domésticos são mais práticos, justamente porque aqui não tem a cultura de pagar alguém pra fazer coisas que você mesmo pode fazer.

E ser mãe em tempo integral? Gente. Não tem preço. Poder estar com eles o dia todo, atender todas as necessidades deles a qualquer momento, ter tempo e paciência pra ouvir as histórias deles, poder fazer os deveres juntos, observar eles crescendo. Levar na escola sem pressa e buscar na escola com a cabeça vazia de problemas do trabalho, não tem dinheiro que pague. Mas me cobro muito por não ser a melhor mãe que eu poderia ser, por não saber brincar e sinceramente, por não ter vontade de brincar. Mas ninguém é perfeito, não é? Estou perto deles, com eles, observando e cuidando. Alimentando de comida e de amor. Não tem como explicar. Não trocaria essa experiência pelo
melhor salário que possa existir.

Se eu tenho vontade de voltar a trabalhar? Sim, tenho muita. Sinto falta de produzir, sinto falta de ser útil pra alguma coisa além de manter a casa em ordem. Mas não tenho vontade de voltar a ficar presa numa empresa, sem poder ficar com eles nas férias, sem poder ficar com eles no dia que acordarem com febre. Meu tipo de visto não me permite trabalhar. Então sigo vivendo minha vida como staying at home mother, mas hoje eu não trocaria a situação atual por um emprego com salário no final do mês.

Aproveito todo esse tempo que tenho pra olhar pra mim e buscar coisas que eu gosto. Confesso que é difícil de me organizar, de dar o primeiro passo, mas agora tenho todo tempo do mundo pra fazer as coisas que eu nunca fiz porque não tinha tempo. Agora posso aprender a costurar, posso caminhar com as amigas, estudar sobre qualquer assunto, ou simplesmente ficar largada no sofá assistindo série sem a menor culpa.

Não foi fácil a transição, chorei demais e me perguntei muito o que foi que eu fiz da minha vida "perfeita" no Brasil. Mas essa experiência que estou vivendo não tem preço. Devo voluntariar em breve. Eu poderia ter voluntariado desde a primeira semana, mas precisei de um tempo "vazio" pra olhar pra dentro de mim. Hoje os sentimentos estão bem mais claros dentro de mim. E já sei que não pretendo trabalhar fora do horário escolar dos meninos. Quero continuar estando com eles, cuidando, amando, curtindo...

quarta-feira, 30 de agosto de 2017

Mais um pouquinho sobre saúde por aqui..

Passadas as primeiras experiências com médico, chegou a vez da mamãe. E senta que tem coisa pra contar, já que a mudança deixou a minha imunidade no chinelo. Na verdade, a primeira vez que precisei ir ao médico foi porque eu trouxe puran (remédio pra hipotireoidismo) pra 3 meses, já estava na última caixa e aqui precisa de receita médica. Como preciso do remédio pra me manter viva, basicamente, não dava pra enrolar mais.

Marquei a consulta com a mesma médica dos meninos, porque a idéia é que seja alguém que conhece toda a nossa família. Da mesma forma que com os meninos, a enfermeira me atendeu primeiro, me pesou e o choque: ver meu peso com um número de 3 digitos foi assustador. Mas era em libras, ufa. Eu não tava conseguindo me comunicar direito com a enfermeira, que estava sem muita paciência. Então ela conectou com uma tradutora. É um telefone viva voz que fica ligado e traduzindo tudo que tu fala e tudo que a médica fala. Mas a médica demorou tanto que a tradutora desistiu de esperar.

Quando a médica entrou na sala me olhou com aquela cara de que "parece que eu te conheço" e eu falei que ela já tinha atendido meus meninos e que a tradutora tinha desistido de esperar. Daí ela falou que da outra vez não precisamos de tradutor e que se precisássemos, chamaríamos de novo.

Ela foi mega atenciosa comigo, conversou bastante, mais falava do que ouvia, mas eu não tinha muito o que falar também, ainda mais em inglês. Me passou a receita do remédio, pediu uns exames, umas vacinas e tchau. A enferemeira veio, me deu a vacina (diferente dos meninos, que tiveram que ir num setor específico pra fazer as vacinas) e voltei outro dia pra fazer os exames que tinham que ser em jejum.

O laboratório fica no mesmo prédio, esperei menos de dois minutos pra ser atendida na recepção e nem 30 segundos pra alguém me atender pra fazer os exames. Aliás, são vários guiches e tu senta em um, coloca teu braço ali e a pessoa tira teu sangue. Uma coisa que achei diferente e melhor do que minhas experiências anteriores, é que a agulha fica longe do tubinho (tem uma sondinha que leva o sangue até o tubo), aí quando trocam os tubinhos, não parece que vão arrancar a tua veia (não sei se deu pra entender, kakakakkakka).

O resultado dos exames eu olhei pela internet de curiosa, mas a médica me telefonaria pra contar os resultados. Eu pedi pra ela me escrever, porque na época eu não conseguia entender nada que falassem no telefone. Um tempo depois chegou a carta dela dizendo que estava tudo bem com meus exames.

Ah, e o resultado não entrei num site do laboratório pra buscar. É no site do plano de saúde, que tem toda a minha história. Tem a minha carteirinha de vacinação traduzida, todas as visitas que fiz ao médico, os exames que fiz, que problemas de saúde tenho, se tenho alergias, etc. Super completo. Bem legal.

E mais ou menos um mês depois, fiquei emperebada. Candidíase. Afe, que saco. Pesquisei mil receitas naturais na internet, mas nunca tenho coragem de mergulhar a pepeca no vinagre. Pedi socorro no grupo das brasileiras, que que eu faço? Não queria gastar mais $200,00 por causa de uma porcaria de uma candidíase que já tô cansada de saber o que é. Emocional atacou, candida se aproveita. Até que uma boa alma me sugeriu, manda e-mail pra sua médica. Verdade. Não tinha pensado nisso.

Mandei e-mail através daquele mesmo portal que falei antes, ela enviou outro perguntando sobre alguns outros sintomas, respondi, ela retornou pedindo qual farmácia eu queria que ela mandasse preparar o remédio, falei qual era melhor pra mim, em poucas horas eu estava com o remédio na mão. Fui buscar na farmácia, que fica no mesmo lugar do consultório, das vacinas, do laboratório e de todo o resto. Simplesmente levei minha carteirinha do plano e lá estava minha prescrição, sem gastar nenhuma folha de papel. Não gastei nada, não me incomodei e resolvi meu problema. Simples assim.

Só que né, emocional abalado, imunidade comprometida. Comecei a sentir aquela vontade de fazer xixi que não acaba nunca. Você vai no banheiro, não tem uma gota. Ou mesmo que tenha, a vontade não passa. No Brasil eu tomava um remedinho no começo, fazia xixi azul uns tres dias e ficava tudo certo. Só que aqui o remedinho não rola assim sem receita. Aliás, nem sei se tem algum equivalente aqui. Que não seja um antibiótico. Da próxima vez vou tomar suco de cranberry e tomar probióticos antes que o negócio aperte, mas dessa vez começou a rolar febre. 37.8 pra adulto já não é normal, calafrios, bate queixo, dor no corpo, 38.1, 38.8, 39.1.. Jesus, Maria José.. que que tá rolando? Xixi turvo e com cheiro muito estranho. Nunca tinha acontecido isso comigo.

Era uma segunda feira, eu sozinha em casa com a cachorra (que não sabe ir buscar o remédio, vê se pode). Quando batia a febre eu não conseguia levantar da cama pra buscar água, remédio ou fazer xixi. Entre começar a tremedeira e eu conseguir sair do lugar levava mais do que uma hora. Devia ser proibido alguém poder ficar sozinho em casa doente. Me perdoe universo por já ter deixado o Diego sozinho em casa alguma vez, meus filhos nunca deixei, ufa.

Quando baixava a febre eu pesquisava no portal pra ver se eu entendia a diferença entre emergency e urgent care. O urgent care era basicamente ir no médico de sempre, era só pra situações que poderiam esperar de 24 a 48 horas pra serem atendidas. Eu até estava meio disposta a esperar, mas o Diego viajaria a trabalho na quinta, eu precisava estar boa pra ficar sozinha com os meninos. No meio das minhas pesquisas, li em alguns lugares que em muitos casos a enfermeira pode te ajudar pelo telefone mesmo. 

Então resolvi ligar, se ela não pudesse me ajudar, ela iria me transferir pra marcação do urgent care. Mas explicando a minha situação pra ela, ela ficou preocupada. Achou melhor falar com o médico. E então ela voltou e disse que o médico queria que eu fosse na emergência porque poderia piorar muito até o dia seguinte.

Nós tínhamos ido até a porta da emergência um pouco mais cedo, mas lembrando do rombo que foi a vez que o Diego precisou ir, demos meia volta. Mas diante do que a enfermeira falou, sabendo como eles tratam as coisas por aqui, se ela mandou eu ir, é porque era mesmo pra eu ir. Eu não queria gastar, mas também não queria morrer (olha o drama).

Coloquei os meninos na cama e fui dirigindo. Morrendo de medo de ter que ficar internada. Cheguei lá com vergonha, nem parecia aquela pessoa morrendo por causa da febre de horas atrás. Estava disposta e sem febre. Parecia até que tava mentindo no telefone. Expliquei pra primeira enfermeira ainda na recepção qual era meu problema, ali mesmo ela mediu minha temperatura, pressão e oxigenação. 

Fui pra uma salinha, onde tiraram uns 10 tubos do meu sangue, sem mentira. Nessa sala expliquei tuuuuudo de novo pra uma enfermeira e o médico, que pelo jeito era o que a enfermeira tinha consultado ao telefone, que me explicou que precisaríamos fazer alguns exames pra ver se era infecção na bexiga ou nos rins. Que se fosse na bexiga eu poderia tratar em casa, mas que se fosse nos rins, teria que ficar no hospital porque daí eu poderia ficar muito doente.

Fui pra um lugar tipo um quarto, fiquei deitada numa cama, tomando soro pra ajudar a limpar a bexiga, fiz xixi no potinho e tive que ficar lá, deitadinha, tomando soro e esperando o resultado dos exames pra saber o que iam fazer dali pra frente. Veio uma médica residente super simpática, tive que explicar tuuuuudo de novo, um enfermeiro, expliquei de novo, outro médico... expliquei de novo... O legal disso tudo é que meu inglês foi sendo praticado, fiquei orgulhosa de mim.

Fiquei conversando com uma amiga no whats (que eu conhecia de Floripa e reencontrei aqui por purissima coincidencia) e um tempo depois veio de novo um dos médicos e me explicou que era só infecção na bexiga e que eu poderia voltar pra casa. Que eu deveria tomar os antibioticos e aquela coisa toda. Já era meia noite, fui direto na farmácia, que ainda não tinha deixado meu remédio pronto. Esperei mais uns 20 minutos e voltei pra casa feliz e contente por pelo menos saber o que tinha e poder começar a me tratar.

Nosso plano mudou e até o momento não precisei pagar nada, mas ainda posso receber surpresas pelo correio. Em 3 dias tive que fazer um "follow up" que é basicamente um retorno pra ver se o tratamento estava fazendo efeito. Dessa vez paguei $20,00 de coparticipação. Fui atendida por uma enfermeira brasileira que disse que ganhou o dia por me atender, adorei conhece-la, ela está aqui há 15 anos. A minha médica estava fora essa semana e então fui atendida por outra do consultório dela. Só checou se tava tudo bem, conversou bastante comigo sobre filhos, mudanças, traumas, me mandou tomar probióticos e tchau.

Eu realmente espero não precisar usar meu plano de saúde de novo, por favor. Obrigada. Quero fazer muitos outros posts sobre muitas outras coisas, espero realmente não ter mais nada pra contar sobre saúde.

Ah, achei super fofo quando telefonei pra marcar o "follow up" e a moça ao telefone me disse bem querida "Sinto muito que você teve que ir na emergência. Melhoras". O enfermeiro que me atendeu também me disse "Melhoras". E também acho interessante como funciona a farmácia. É tudo nos mesmos tubinhos amarelos, não é em caixas como no Brasil. E eles colocam na hora a quantidade exata que você precisa, isso evita bastante problemas, né? E em casos de remédios de uso contínuo, eu posso fazer um refil da minha receita pelo portal. Depois de um ano sou obrigada a voltar na médica, repetir o exame e daí ela me prescreve de novo, mas por um ano, tá super tranquilo.

Acho que é isso. As coisas são bem diferentes de tudo que eu já tinha visto. Acho mais práticas, mais eficientes, mais inteligentes. Não pretendo voltar a usar nenhum serviço de saúde além das rotinas necessárias, mas foi bem interessante conhecer uma outra forma de se fazer as coisas. :)

quarta-feira, 23 de agosto de 2017

Um pouquinho sobre nossa experiência com saúde por aqui

Estou há um tempo pra fazer esse post, mas é tanta coisa que tenho pra falar e contar que fui enrolando. Já demos alguns passeios no lugar onde fica absolutamente tudo que a gente precisa pra cuidar da nossa saúde, então tenho algumas coisas pra compartilhar.

Assim que chegamos, tivemos que escolher nosso plano de saúde. Tínhamos que escolher o plano de saúde, o plano dentário e o plano de visão. Tinham inúmeras opções, várias prestadoras diferentes, vários valores diferentes e ninguém pra explicar. Great! A empresa pagava um valor x e não sei porque cargas d'água escolhemos um plano bem abaixo do que a empresa pagava (era só pensar um pouquinho, mas não estávamos entendendo absolutamente nada, foi praticamente no "minha mãe mandou eu escolher esse daqui, mas como eu sou teimoso eu escolhi esse da-qui").

As carteirinhas não chegavam nunca e nem tinham como chegar, já que estava tudo no endereço da casa que moramos por 20 dias quando chegamos. Já havíamos pedido novas, mas estavam vindo de carroça. Então o Diego ficou doente. Uma amiga alertou que não deveríamos ir na emergência e sim no urgent care, que provavelmente era só uma gripe americana, e que a gripe americana é horrível pra nós, brasileiros. Que na emergência gastaríamos muitos mil dólares e no urgent care no máximo uns quinhentos.

O Diego foi piorando, até que um dia ele ficou com uma dor de cabeça tão forte, tão forte, tão forte, que foi obrigado a procurar um médico. Não conseguíamos entender onde tinha urgent care pelo nosso plano, ele andou pra cima e pra baixo e todo mundo dizia que não existe urgent care e que ele teria que ir na emergência mesmo. Ele não aguentava mais, se rendeu e foi na emergência. Teve que pagar $200,00 na entrada. Era só uma infecção de ouvido e a dor de cabeça ia vir depois, com as "bills". Cada semana chegava uma coisa nova pelo correio, uma hora era explicando como funciona o plano, uma hora era o pagamento dos honorários do médico, outra hora era o boleto pra pagar o custo pelo uso do hospital... 

No fim essa brincadeira saiu mais de $500,00, foi menos que a amiga tinha alertado, afinal, não precisou fazer nenhum exame expecífico e nem ficar no hospital. Mas é pra gente entender bem que só se vai na emergência se estiver mor-ren-do!!!!

Em janeiro foi a vez dos meninos. Graças ao bom Deus, se é que ele existe, eles não estavam doentes. Mas precisávamos traduzir as carteirinhas de vacinação deles e a única forma que encontrei de fazer isso era levando eles no médico. Tinha também uma papelada pra preencher pra escola, então não tinha como escapar.

Aqui a coisa funciona diferente. Você sempre vai primeiro no primary physician (seria como um médico da família) e se ele achar necessário, ele te encaminha pra algum especialista. Acho isso bem importante, porque assim você tem um único histórico médico e não um monte de fichas em cada canto com cada médico diferente, que nunca conversaram entre si.

Mas então marcamos e fomos. Como não era um consultório pediatrico, não tinha brinquedinhos. As enferemeiras chamaram. Uma pegou o Pablo e outra o Lipe. Mediram a pressão, pesaram, mediram, fizeram teste de visão e fomos pra sala esperar a médica. Demorou um montão, acho que ficaram procurando alguém pra traduzir a carteirinha de vacinação.

Ela chegou, conversou com os meninos (na medida do possível, já que eles não falavam nada ainda na época), explicou sobre a necessidade de fazer o TB test, que é o teste da tuberculose (obrigatório pra entrar na escola, mesmo quem tomou vacina, já que fazemos parte do grupo de risco por termos vindo de um país de terceiro mundo), fez uma carta dizendo que eles já tiveram catapora (baseada nos laudos que eu mostrei digitalizados mesmo, porque os originais chegaram quase um mês depois), já que aqui a vacina da catapora é obrigatória, falou das vacinas e tchau.

Então veio a enfermeira injetar a substância pro TB test. Começou o escândalo. Não lembro qual dos dois levou a picada primeiro, mas gritou tanto, que o segundo já estava apavorado e gritou três vezes mais. O Pablo vomitou, o Lipe ficou totalmente magoado. 

Dali saimos com a requisição das vacinas faltantes pra entrar na escola. O Lipe tomou 4 picadas e o Pablo duas. Tivemos que segurá-los e foi horrível. Um escutava o outro chorar e tornava as coisas muito mais difíceis. Mas enfim, passou. Espero que não precise pisar lá de novo na vida.. Ops, não, pera.. a mãe também teve que ir.. assunto pro próximo post, porque esse já ficou gigante.

quarta-feira, 16 de agosto de 2017

O sonho de todo mundo e o meu.

Quando eu tinha 15 anos, um pouco antes de o Diego entrar na minha vida como meu namorado, um menino pediu pra "ficar" comigo. Nunca tinha passado pela minha cabeça que ele fosse querer ficar comigo, afinal, ele era um gaaaaaato e todas as gurias da minha turma queriam ficar com ele. Também nunca tinha pensado se eu queria ficar com ele, pra mim ele era só meu colega de turma no CCAA. Mas, como ele era o sonho de todas as gurias, claro que aceitei. Nossa, as meninas ficaram morrendo de inveja e eu me achando. No fim eu me apaixonei pelo guri e ele nunca mais me deu bola, hahahahahahahahaha. Aí ficou um climão no inglês e eu sofrendo, como boa adolescente insegura, por ver ele ficar com outras meninas.

Do mesmo jeito que fiquei com aquele menino por ele ser o sonho de todas as gurias, eu permaneci na Celesc por causa do sonho dos outros. E quantas outras coisas a gente faz na vida por ser o sonho dos outros? Por ser o que a sociedade espera? Quantos engenheiros, médicos e advogados queriam ser professores, músicos ou ter uma barraquinha de vender água de coco na praia? Quanto tempo passamos lutando pra conquistar coisas, que nem sabemos se queremos, só pra cumprir os protocolos sociais? Quantas mulheres estão chegando perto dos quarenta e preocupadas porque ainda não tiveram filhos, não tem certeza se querem, mas acabam gerando uma vida porque "é o sonho de toda mulher"?

Quem disse que é o sonho de todo menino ser jogador de futebol? Quem disse que é o sonho de toda mulher receber flores? Gente. Tá tudo muito errado. Por que passamos a vida sem saber quem somos e vamos apenas repetindo padrões, acreditando termos sonhos que sequer paramos pra observar se são nossos ou se foram os pais que sonharam isso e colocaram na nossa cabeça?

Como deu pra perceber pelo último post, meus 10 anos de concursada não foram muito felizes. Eu tinha um salário bom, um vale alimentação ótimo, plano de saúde maravilhoso e estabilidade de emprego. O sonho de todo mundo. Mas não era o meu. Eu queria que meu trabalho fosse reconhecido e que eu pudesse subir de cargo quando merecesse. Eu queria ter feito gastronomia. Eu queria trabalhar de terninho, salto alto e maquiagem (definitivamente isso não tem nada a ver comigo, mas era o que eu achava que era sucesso em algum momento da vida). Em algum momento eu quis ser doula.

Cheguei a prestar vestibular pra arquitetura pra deixar meu pai feliz, mas não passei, ufa. Fiz uma faculdade de administração aos trancos e barrancos, com dois filhos pequenos e um marido que não me ajudava na época (na época eu achava que ele tinha que me "ajudar"- hahahahahha - ainda bem que as coisas mudam) somente pra fazer um "check" na lista do timing social, afinal, eu ja tinha quase 30 e não tinha um curso superior.

Eu já realizei muitos sonhos. Já tive uma rede pra relaxar em casa, já tive um filtro de sonhos, um mensageiro dos ventos, uma casinha e balanço pros meus filhos brincarem, tive filhoooooss... meu maior sonho de toda a vida. Estou realizando o sonho de morar em outro país. Já fiz um mochilão, já assisti partos, já tenho um cachorro (falta o gato). Sonhei em ter uma papelaria, mas nunca corri atrás desse sonho. 

Quando realizei o sonho de morar em outro país, experimentei um vazio. Mas não era um vazio ruim (bom, em alguns momentos foi). De maneira geral foi um vazio gostoso. Um vazio que veio pra eu me perguntar qual seria meu próximo sonho. Penso em aprender a programar, voltar a estudar matemática, quem sabe business, trabalhar com RH ou Produção, que eram as matérias que eu curtia na Adm? Ou vou focar na doulagem? Aprender a costurar, a dançar, a jogar tênis, a desenhar, fotografar?

Por que meu sonho tem que ser que eu seja uma profissional "bem sucedida" e trabalhar dentro de uma empresa? Por que meu sonho tem que ser um concurso público ou ter muito dinheiro? Por que eu não posso sonhar em viver numa comunidade alternativa naturista e auto suficiente? (esse tá na minha lista). Ou quem sabe viajar o mundo numa van/casa (esse entrou pra lista a pouco tempo) Por que não posso sonhar em ser artista de circo? E se meu sonho for nadar com baleias? A vida é tão curta pra gente ficar preso ao sonho dos outros. Qual o meu próximo sonho que eu quero investir? O que faz meus olhos brilharem? O que faz os seus? Qual o seu sonho de verdade? Pensa nisso. :)

quarta-feira, 9 de agosto de 2017

De English Teacher a Concursada, minha trilha profissional.

Com 16 anos eu comecei a dar aulas de inglês no CCAA, mas a imaturidade me fez sair. Trabalhei como estagiária em uma academia por alguns meses e a imaturidade junto da contenção de despesas me fizeram ser a primeira a ser eliminada. Trabalhei numa floricultura, mas a falta de jeito e mais uma vez a imaturidade me fizeram sair. Dei aulas de inglês na Wizard, passei no vestibular pra Matemática, mas quem me fez sair foi quem? A falta de maturidade. Eu achava que não daria conta de estudar e dar duas horas de aula por semana. Fui monitora de uma disciplina na faculdade e a tal falta de maturidade apareceu de novo. Trabalhei por um mês cobrindo as férias de uma pessoa em um provedor de internet a cabo e o retorno das férias me fez sair. Fui chamada na empresa que ficava no mesmo prédio e que tiveram contato com o meu trabalho e gostaram e mais uma vez, mas eu não me acertava com o chefe e então a imaturidade me fez sair.

O Diego morava em Urussanga e eu fazia faculdade em Floripa. Finais de semana íamos os dois pra Tijucas. Eu trabalhava de fiscal de concursos em alguns finais de semana, pra ganhar um dinheirinho extra. Mas não tinha a menor idéia do que era um concurso, serviço público ou enfim. Mas depois de ser fiscal tantas vezes comecei a me perguntar o que era aquilo, já que tinha tanta gente interessada. E então comecei a fazer concursos. Atirava pra tudo que era lado. O primeiro que fiz, nem lembro pra onde era. Mas eu não entendia absolutamente nada, chutei tudo. 

O segundo que ia fazer era o da distribuidora de energia do estado e lembro do meu irmão me dizendo antes de sair de casa pra prova: "Pelo menos lê a prova dessa vez". Ok, vou ler. E a prova estava fluindo bem. Cairam algumas coisas que eu tinha estudado no primeiro semestre de administração (que eu parei de fazer porque meu pai não pagava as mensalidades direito e a bonitona aqui não cogitava trabalhar pra bancar os estudos), também algumas coisas que eu lembrava do ensino médio e claro, o fato de ser uma estudante de matemática fazia com que meu raciocínio fosse "xuxu beleza".

Na semana seguinte fiz o da companhia de água e então era esperar o resultado dos concursos. Fiquei em 11o no da água e em primeiro no de energia, ambos pra região de Criciúma. Eu pulava na cama de alegria (foto da esquerda e sim, eu tinha cabelo curtíssimo). Finalmente eu tinha um emprego perto do Diego e a gente finalmente ia poder casar. Ele ia ter que parar de me enrolar, hahahahahhah.

Então alugamos um apê e fomos morar juntos. Casamos no civil pra que ele pudesse entrar no plano de saúde e no mês seguinte descobri que estava grávida. Foi super emocionante, nós queríamos e eu tinha um emprego. Estava no estágio probatório, pensava em esconder a gravidez até passar do estágio, mas tive um sangramento e tive que contar antes do planejado. Mas eles gostavam do meu trabalho e iam me deixar ficar de qualquer jeito.

No começo era tudo oba oba, tudo lindo, tudo maravilhoso. Só que era atendimento ao público e era chato pra dedéu. Eu sentia meu potencial escorrendo pelas mãos. Eu sabia que podia mais do que aquilo, mas não tinha possibilidades de mudança dentro da empresa. Só por indicação política e eu não tinha nenhuma indicação (na época eu usaria de certeza, mas quem eu sou hoje não me permite usar esse tipo de artimanha pra conseguir o que quer). 

Depois de passar a não engolir mais os sapos dos consumidores e acabar causando muito transtorno no atendimento, acabei mudando de setor. Não lembro bem quanto tempo fiquei nesse setor. Sei que saí por pensar mais nos outros do que em mim. Pra implantar um horário diferenciado pro atendimento, eu precisaria voltar pro atendimento, pois eles precisariam de mais pessoas pra atender. Então topei. Trabalharia 6 horas ao invés de 8, mas com atendimento.

O horário era horrível, não me trouxe benefício nenhum e trabalhar com atendimento sempre foi um inferno pra mim. Não deu tempo de me arrepender totalmente, tive a brilhante idéia de pedir transferência pra minha terra natal. Usei influência política e me envergonho MUITO disso. Mas enfim, voltei pra minha terra natal, mesmo tendo sido alertada que estaria indo pra "pior regional do estado".

Eu já havia conversado com a funcionária que trabalhava lá e eu sabia que lá eu teria muito o que aprender, pois ela fazia tudo sozinha e a minha ajuda seria muito bem vinda. Mudança feita, no meu primeiro dia no novo posto de trabalho, veio o balde de água fria, ela iria trabalhar com o serviço interno e eu com atendimento. Dali pra frente a coisa desandou. Os últimos quatro anos na empresa foram os piores. Eu trabalhava com atendimento ao público numa cidade minúscula, onde muita gente me conhecia e se achava no direito de pedir "favorzinhos". Eu me desentendia com um consumidor inadimplente e dava de cara com ele no mercado, sendo que meu filho estava do meu lado com o uniforme da escola.

Sempre me senti muito vulnerável enquanto estive lá. Eu queria fugir do atendimento e também explorar meu potencial. Então eu abraçava tudo que vinha pela frente, na tentativa de me sentir mais realizada lá dentro. No fim, eu estava sobrecarregada e sempre atendendo. Sempre tentando me esquivar dos favorzinhos, tentando telefonar pros inadimplentes que eu conhecia pra que eles pagassem antes de serem cortados e eu não ter que encará-los na mesa de atendimento.

Eu pensava em pedir transferência pra Central em Floripa, mas pensava na qualidade de vida, trânsito. Não!! Trabalhar são "só" 8 horas por dia, vou ser feliz nas demais. E o tempo ia passando e eu sempre infeliz. A minha relação com o dinheiro era mais ou menos assim: foda-se, tô trabalhando com algo que odeio pra ter dinheiro, então vou fazer o que quiser com ele. Então eu me dava o luxo de ter faxineira, de fazer a unha toda semana, de gastar com roupas, de almoçar em restaurante caro.

As coisas foram piorando, pois o chefe saiu e a minha amiga virou minha chefe. Ela tinha todas as atriuições de chefe, eu acabei ficando ainda mais sobrecarregada e mais infeliz. Tinha a doulagem que estava surgindo, mas eu não tinha coragem de pedir demissão por n coisas que vou contar no próximo post. Dez anos se passaram desde que eu entrei e enfim tive coragem de pedir demissão. Claro que sou grata a oportunidade de ter esse emprego com tantos benefícios por dez anos. Mas essa é a minha história e a minha jornada.

Não tive tempo de sentir/sofrer (será?) o reflexo da minha decisão, pois acabei vindo pra cá. Nos próximos posts devo divagar um pouco sobre a mudança de concursada pra staying at home mother, sobre o meu sonho e o sonho de todo mundo, sobre mulher independente sumbissa a feminista dependente do marido...

quarta-feira, 2 de agosto de 2017

Sobre padrinhos, batismo e educação dos filhos.


Nossos filhos não são batizados em nenhuma igreja. Na época essa decisão foi tomada porque simplesmente não frequentávamos nenhuma igreja e não concordávamos totalmente com nenhuma religião ou crença. Hoje explico pra eles que cada religião pensa de uma forma e que eles podem escolher a que eles quiserem quando forem maiores, ou continuar sem nenhuma. Ano passado ofereci pro Lipe fazer catequese, mas ele não se interessou, mesmo todos os amigos dele fazendo.

Mas o assunto de hoje não é religião. O que eu gostaria de divagar hoje é sobre a escolha da madrinha e padrinho para os nossos filhos. Eu fui batizada por um casal de amigos dos meus pais. Eu ganhava presente em todo aniversário e natal, sem falta. Ela era meio atrapalhada, então vinha sempre com atraso. O último presente que ganhei foi um biquini no natal de 97, que eu acabei trocando por uma mochila, já que o biquini era minúsculo e não tinha nada a ver com a adolescente que eu estava me tornando. Eu fiz aniversário em abril, mas como os presentes sempre vinham atrasados, não ganhei presente aquele ano, pois ela faleceu em maio.

Meu padrinho? Faz uns onze ou doze anos que o vi pela última vez, pela rua, trocamos meia dúzia de palavras e nunca mais o vi. Eu nunca dormi na casa dos meus padrinhos, eles não sabiam que tipo de comida eu gostava ou como era minha personalidade. Mal sabiam quem eu era. E eu sei muito pouco deles. Sei que a minha madrinha era uma pessoa do bem e caridosa, mas nunca vivi isso com ela, nunca vi realmente, apenas soube. Eles eram amigos dos meus pais, mas não lembro de conversarem comigo. Não lembro de qualquer interação comigo além dos presentes.

Eu e o Diego temos um afilhado. Eu tinha 15 anos quando ele nasceu, eu era mega apegada a moça que cuidava da limpeza da nossa casa e eu pedi pra ser madrinha do bebê que ela estava esperando. A minha referência de ser madrinha era dar presentes. Então eu dava presentes todo aniversário e natal. Então fui mãe, e acabei esquecendo de mandar os presentes. Ele era tão novinho e nem presente ganhava mais dos padrinhos dele.

Da mesma forma que meus padrinhos não sabiam nada sobre mim, eu também não sei nada sobre nosso afilhado. E não, definitivamente não é esse tipo de relação que eu gostaria que meus filhos tivessem com seus padrinhos. E tampouco a relação que quero ter se algum dia alguém me escolher como madrinha do seu filho.

Madrinha e padrinho tem muito pouco a ver com religião. Apesar de ser comum haver uma cerimônia religiosa pra celebrar o laço, os padrinhos são pessoas que se comprometem a cuidar de alguém. Com 15 anos eu não tinha maturidade pra me comprometer a cuidar de ninguém. E nunca me senti cuidada pelos meus padrinhos.

Pra mim, muito além de ser alguém que cuide, os padrinhos são pessoas que irão passar os nossos valores pros nossos filhos. Alguém que os eduque como educaríamos. Alguém que pense como a gente, que cuide dos sentimentos deles, que deixem eles serem quem são e os incentive a buscar o próprio sucesso, o que é totalmente diferente de ter muito dinheiro.

Desejo que os padrinhos deles os levem pra tomar um sorvete e batam um papo sobre desigualdade social, sobre orientação sexual, sobre feminismo, sobre felicidade, sobre sentimentos, bons e ruins. Quero que meus filhos tenham os padrinhos como exemplo, assim como tem os pais. Que observem as atitudes deles e sigam as boas e tenham liberdade pra apontar e conversar sobre as ruins. Quero que sintam aconchego e porto seguro nessas pessoas, caso não possamos estar aqui.

Quero alguém que eu possa confiar pra ensinar as coisas da vida, da forma como nós acreditamos. E é por isso eles não tem um único casal de padrinhos, pois nós somos apenas nós e somos únicos. E pra passar cada um dos nossos valores pra eles, serão necessários muitos amigos. Se algum dia alguém me eleger como madrinha do seu filho, vou ficar extremamente lisonjeada, pois essa escolha tem um significado extremamente forte.

E nós não conseguimos fazer essa escolha, pois não existem outros de nós. Mas juntando várias pessoas que amamos, conseguimos fazer uma linda rede pra educar nossos filhos. E assim seguimos.

Pra finalizar esse post, quero contar que depois de escrever esse texto, resolvi procurar meu afilhado no facebook. E encontrei, ele me respondeu na hora e eu fiquei mega feliz. E conversamos muito. E descobri que tenho um afilhado cheio de amor pra dar e que adora conversar, ouvir novas ideias e pensar na vida. Passada a culpa de ter estado ausente nos últimos dez anos, ser chamada de madrinha me deu uma emoção muito grande. Por alguma razão, as coisas aconteceram como aconteceram. Só posso agradecer.