quarta-feira, 6 de setembro de 2017

Staying at home mother - Experiências de Carol

Bom, nem sei por onde começar. Desde que casei, como já contei antes, eu trabalhei. Oito horas por dia, cinco dias por semana, 11 meses no ano. Com exceção dos anos em que tive a licença maternidade. Com 5 meses de idade o Lipe foi pra escolinha, minha rotina sempre foi deixar o filho na escola e correr pro trabalho. Nas férias da escola, eu pedia socorro pras avós, porque eu não tinha oportunidade de parar de trabalhar durante as férias dele. Logo veio o Pablo e então a correria aumentou, eram dois filhos na escola e a mãe trabalhando o dia inteiro.

Por muitos anos ambos estudavam em período integral. Eu passava pouquíssimo tempo com eles, essa é a verdade. Eles iam pra escola as oito da manha e algumas vezes eu peguei eles só as sete da noite. Nos mudamos pra Tijucas e o cenário mudou um pouco. O Diego trabalhava de casa e o Lipe já estava maiorzinho. O Pablo continuava em período integral e o Lipe estudava só de manhã, já almoçava conosco. Em 2016 resolvemos deixar o Pablo em casa pela manhã e o Lipe em casa no período da tarde, então ao menos eu almoçava com ambos.

Eu vivia cansada e estressada. Meu trabalho sugava todas as minhas energias, eu esgotava minha paciência e não sobrava quase nada pros meninos. Não era cansaço físico, era mental. Em outubro de 2016 eu comecei meu "processo de demissão". Eu poderia pedir demissão e ficar com o dinheiro das férias e licença que eu tinha pra tirar, mas naquele momento eu não precisava de dinheiro, eu precisava de paz. Então tirei férias e licença prêmio, enquanto criava coragem pra pedir demissão.

Como era difícil largar aquele sonho de todo mundo pra correr atrás do meu sonho de ser doula. A idéia era que eu trabalhasse como doula, me dedicasse as rodas de gestante e focasse nas consultorias em aleitamento nesse período, em que eu ainda tinha dinheiro entrando. Mas o Pablito teve catapora e foi o primeiro momento que eu agradeci por estar em casa. Agradeci por poder estar com ele, ao mesmo tempo que estava chateada por não poder ter contato com gestantes e recém nascidos. Não pude fazer meu "test drive" de como seria trabalhar como autônoma e administrar meu tempo.

Quando acabou a minha "quarentena" por causa da catapora do Pablo e eu poderia trabalhar com gestantes, já era a última semana no Brasil e tava na correria de resolver tudo pra mudança. Sim, o resultado do visto saiu enquanto eu estava fazendo meu "test drive". Nos mudamos no começo de dezembro e então começou a nova realidade. 

Serviços domésticos. Gente, socorro. Não acaba nunca. Sim, fui mimada (e privilegiada) e nunca tinha limpado uma casa na vida. Em dez anos de casados, sempre tivemos quem fizesse tudo pra gente, já que eu trabalhava com algo que não gostava, então me dava o direito de pagar pra que alguém fizesse outra coisa que eu não gostava. Limpar a casa, cuidar da roupa e da cozinha é chato pra caramba. Nós limpamos (tirar pó, limpar banheiro, etc.) a casa todos juntos, quando não dá mais pra viver nela. Mas sempre tem louça na pia, roupa pela casa, roupa pra lavar, roupa pra dobrar, lixo pra descer, etc.

É muito chato. Mas ok, faz parte da escolha que fizemos, e mesmo que volte pro Brasil, provavelmente não vamos pagar alguém pra limpar a casa, nem voltaremos a passar roupa e provavelmente teremos uma lavadora de louças. Realmente a expectativa de limpeza aqui é bem diferente e de maneira geral os serviços domésticos são mais práticos, justamente porque aqui não tem a cultura de pagar alguém pra fazer coisas que você mesmo pode fazer.

E ser mãe em tempo integral? Gente. Não tem preço. Poder estar com eles o dia todo, atender todas as necessidades deles a qualquer momento, ter tempo e paciência pra ouvir as histórias deles, poder fazer os deveres juntos, observar eles crescendo. Levar na escola sem pressa e buscar na escola com a cabeça vazia de problemas do trabalho, não tem dinheiro que pague. Mas me cobro muito por não ser a melhor mãe que eu poderia ser, por não saber brincar e sinceramente, por não ter vontade de brincar. Mas ninguém é perfeito, não é? Estou perto deles, com eles, observando e cuidando. Alimentando de comida e de amor. Não tem como explicar. Não trocaria essa experiência pelo
melhor salário que possa existir.

Se eu tenho vontade de voltar a trabalhar? Sim, tenho muita. Sinto falta de produzir, sinto falta de ser útil pra alguma coisa além de manter a casa em ordem. Mas não tenho vontade de voltar a ficar presa numa empresa, sem poder ficar com eles nas férias, sem poder ficar com eles no dia que acordarem com febre. Meu tipo de visto não me permite trabalhar. Então sigo vivendo minha vida como staying at home mother, mas hoje eu não trocaria a situação atual por um emprego com salário no final do mês.

Aproveito todo esse tempo que tenho pra olhar pra mim e buscar coisas que eu gosto. Confesso que é difícil de me organizar, de dar o primeiro passo, mas agora tenho todo tempo do mundo pra fazer as coisas que eu nunca fiz porque não tinha tempo. Agora posso aprender a costurar, posso caminhar com as amigas, estudar sobre qualquer assunto, ou simplesmente ficar largada no sofá assistindo série sem a menor culpa.

Não foi fácil a transição, chorei demais e me perguntei muito o que foi que eu fiz da minha vida "perfeita" no Brasil. Mas essa experiência que estou vivendo não tem preço. Devo voluntariar em breve. Eu poderia ter voluntariado desde a primeira semana, mas precisei de um tempo "vazio" pra olhar pra dentro de mim. Hoje os sentimentos estão bem mais claros dentro de mim. E já sei que não pretendo trabalhar fora do horário escolar dos meninos. Quero continuar estando com eles, cuidando, amando, curtindo...

Um comentário:

  1. Que lindeza 💛
    Entendo bem da parte dos afazeres domésticos. Me sinto como se estivesse enxugando gelo sempre!Mas estar com as crias compensa tudo!!!

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