quarta-feira, 2 de agosto de 2017

Sobre padrinhos, batismo e educação dos filhos.


Nossos filhos não são batizados em nenhuma igreja. Na época essa decisão foi tomada porque simplesmente não frequentávamos nenhuma igreja e não concordávamos totalmente com nenhuma religião ou crença. Hoje explico pra eles que cada religião pensa de uma forma e que eles podem escolher a que eles quiserem quando forem maiores, ou continuar sem nenhuma. Ano passado ofereci pro Lipe fazer catequese, mas ele não se interessou, mesmo todos os amigos dele fazendo.

Mas o assunto de hoje não é religião. O que eu gostaria de divagar hoje é sobre a escolha da madrinha e padrinho para os nossos filhos. Eu fui batizada por um casal de amigos dos meus pais. Eu ganhava presente em todo aniversário e natal, sem falta. Ela era meio atrapalhada, então vinha sempre com atraso. O último presente que ganhei foi um biquini no natal de 97, que eu acabei trocando por uma mochila, já que o biquini era minúsculo e não tinha nada a ver com a adolescente que eu estava me tornando. Eu fiz aniversário em abril, mas como os presentes sempre vinham atrasados, não ganhei presente aquele ano, pois ela faleceu em maio.

Meu padrinho? Faz uns onze ou doze anos que o vi pela última vez, pela rua, trocamos meia dúzia de palavras e nunca mais o vi. Eu nunca dormi na casa dos meus padrinhos, eles não sabiam que tipo de comida eu gostava ou como era minha personalidade. Mal sabiam quem eu era. E eu sei muito pouco deles. Sei que a minha madrinha era uma pessoa do bem e caridosa, mas nunca vivi isso com ela, nunca vi realmente, apenas soube. Eles eram amigos dos meus pais, mas não lembro de conversarem comigo. Não lembro de qualquer interação comigo além dos presentes.

Eu e o Diego temos um afilhado. Eu tinha 15 anos quando ele nasceu, eu era mega apegada a moça que cuidava da limpeza da nossa casa e eu pedi pra ser madrinha do bebê que ela estava esperando. A minha referência de ser madrinha era dar presentes. Então eu dava presentes todo aniversário e natal. Então fui mãe, e acabei esquecendo de mandar os presentes. Ele era tão novinho e nem presente ganhava mais dos padrinhos dele.

Da mesma forma que meus padrinhos não sabiam nada sobre mim, eu também não sei nada sobre nosso afilhado. E não, definitivamente não é esse tipo de relação que eu gostaria que meus filhos tivessem com seus padrinhos. E tampouco a relação que quero ter se algum dia alguém me escolher como madrinha do seu filho.

Madrinha e padrinho tem muito pouco a ver com religião. Apesar de ser comum haver uma cerimônia religiosa pra celebrar o laço, os padrinhos são pessoas que se comprometem a cuidar de alguém. Com 15 anos eu não tinha maturidade pra me comprometer a cuidar de ninguém. E nunca me senti cuidada pelos meus padrinhos.

Pra mim, muito além de ser alguém que cuide, os padrinhos são pessoas que irão passar os nossos valores pros nossos filhos. Alguém que os eduque como educaríamos. Alguém que pense como a gente, que cuide dos sentimentos deles, que deixem eles serem quem são e os incentive a buscar o próprio sucesso, o que é totalmente diferente de ter muito dinheiro.

Desejo que os padrinhos deles os levem pra tomar um sorvete e batam um papo sobre desigualdade social, sobre orientação sexual, sobre feminismo, sobre felicidade, sobre sentimentos, bons e ruins. Quero que meus filhos tenham os padrinhos como exemplo, assim como tem os pais. Que observem as atitudes deles e sigam as boas e tenham liberdade pra apontar e conversar sobre as ruins. Quero que sintam aconchego e porto seguro nessas pessoas, caso não possamos estar aqui.

Quero alguém que eu possa confiar pra ensinar as coisas da vida, da forma como nós acreditamos. E é por isso eles não tem um único casal de padrinhos, pois nós somos apenas nós e somos únicos. E pra passar cada um dos nossos valores pra eles, serão necessários muitos amigos. Se algum dia alguém me eleger como madrinha do seu filho, vou ficar extremamente lisonjeada, pois essa escolha tem um significado extremamente forte.

E nós não conseguimos fazer essa escolha, pois não existem outros de nós. Mas juntando várias pessoas que amamos, conseguimos fazer uma linda rede pra educar nossos filhos. E assim seguimos.

Pra finalizar esse post, quero contar que depois de escrever esse texto, resolvi procurar meu afilhado no facebook. E encontrei, ele me respondeu na hora e eu fiquei mega feliz. E conversamos muito. E descobri que tenho um afilhado cheio de amor pra dar e que adora conversar, ouvir novas ideias e pensar na vida. Passada a culpa de ter estado ausente nos últimos dez anos, ser chamada de madrinha me deu uma emoção muito grande. Por alguma razão, as coisas aconteceram como aconteceram. Só posso agradecer.

Nenhum comentário:

Postar um comentário