quarta-feira, 26 de julho de 2017

Você é uma mãezona!

Você é uma mãezona!!! Ouvi isso uma vez da mãe de um amiguinho do Lipe, em 2015. E eu escuto isso as vezes ainda. Claro que a maioria das vezes é motivada por alguma coisa que postei no facebook (Vamos ignorar que no facebook a gente só posta coisa positiva).

Na época ela me disse isso porque eu perguntei sobre um dia na escola em que o Lipe chegou comentando que todos os colegas fugiam dele na hora do recreio, inclusive o filho dela. Então eu pedi que ela investigasse com ele se estava acontecendo alguma coisa ou se era só uma brincadeira. Depois de sondar o filho, ela disse que foi só uma brincadeira e eu, pra não passar por uma neurótica real, encerrei a conversa com "eu que sou neurótica".

Na época eu não sabia se eu era neurótica (hoje sei que não sou), mas eu já sabia que eu me colocava no lugar das pessoas, incluindo meus filhos. Imaginar todos correndo de mim na hora do "recreio", simplesmente me fez sentir mal e por isso fui atrás. Tentei engolir que foi só uma brincadeira, nunca consegui.

Aquela não foi a primeira vez que ela disse que sou uma mãezona. Ela também disse isso um dia quando comentou que gosto de encher a casa de crianças, ela diz que dá muito trabalho.

Eu acho que ela e as outras pessoas que já disseram que sou uma mãezona porque acreditam que eu sente pra brincar com meus filhos, que eu faça arte com eles ou que eu seja a rainha da paciência, talvez. Acho que as pessoas pensam que faço comida com as crianças, pinto o nariz deles com chantilly e depois saio brincando de pega pega igual nos comerciais de sabão em pó.

Não, eu não sou uma mãezona nesses moldes. Deixo eles usarem muito mais telas do que o recomendado, grito com eles na TPM e ameaço deixar sem vídeogame quando a conversa não adianta. Mas ao menos eles sabem que eu tenho TPM e que nesses dias eu fico triste ou irritada.

Mesmo agora sendo mãe em tempo integral (preciso escrever um texto sobre), não consigo atender todas as necessidades deles. Não me organizo pra alimentá-los corretamente e fim de semana deixo até eles pularem o banho. Faz séculos que não conto uma historinha pra eles e todos os dias eles fazem "cineminha" antes de dormir.

Mas eu me preocupo com eles, me preocupo com o que eles sentem. Me sinto conectada com eles, a ponto de eles me oferecerem abraço fora do normal quando não estou legal. Eles dizem que me amam mil vezes por dia e tem dias que o Pablo diz que não consegue parar de me abraçar. Eles me querem perto deles todos os dias, a todo o tempo.

Quando eu grito ou faço algo errado, peço desculpas, explico porque estou fora de mim, explico como me sinto, falo dos meus medos... Nossa relação não é de poder e submissão. Nossa relação é de respeito e empatia. Eles me ensinam muito e talvez por isso as pessoas achem que eu sou uma mãezona.

Já parei de me culpar por não ser leoa, por não brincar. Hoje entendo que sou a mãe que eles precisam e que eles não me trocariam por outra (infelizmente já ouvi crianças querendo trocar a mãe deles por mim).


Eu acordo com beijinho, faço panquecas pro Pablo e torrada pro Lipe, separo a roupa e ninguém mais chega atrasado na escola (no texto original, que escrevi em 2015, além de eu dar nescau - julgue-me - na mamadeira pro Pablo, eu ainda confessava que eles chegavam atrasados todos os dias).

Na época, eles estudavam em escolas diferentes, na tentativa de oferecer o melhor pra eles. Hoje estamos em outro país, com a mesma intenção. A aula do Pablo acaba mais cedo e tento conversar o máximo possível com ele antes de ele me pedir pra fazer alguma coisa no meu celular. Logo sai o Lipe e ele sempre tem mil novidades pra contar. Chegando em casa, as vezes eles pedem comida, as vezes querem jogar primeiro, as vezes querem fazer os deveres primeiro, deixo eles escolherem, não tem porque eu determinar isso, desde que eles façam o que precisa ser feito, a ordem não importa.

Levo no parque, faço piquenique, ajudo o Lipe com as coisas que ele gosta de inventar na cozinha. Mantenho uma caixa de papelão gigante, onde veio o sofá, rolando pela casa porque eles acreditam que é um forte e não vejo porque jogar fora essa brincadeira.

Dou mais beijos e mais abraços. Escuto todas as músicas do Phineas and Ferb a cada vez que estou no carro e fico muito feliz de ouvir eles cantando em Inglês tão naturalmente. Quando alguma coisa sai errado na escola eu dou colo, escuto e abraço. Faço deveres junto com o Pablo e estou sempre perto enquanto o Lipe faz o dele.

Hoje não tem mais luta pra ir pro banho, pelo menos não com o Lipe. O Pablo é outra história. Ele inventa 4568542 mil coisas pra fazer antes de tomar banho, porque ele sabe que depois do banho é cineminha e cama. O Lipe pega o tapa olho (que ele roubou de mim), a Fofinha e fica na parte de cima do beliche esperando meu beijinho de boa noite. O Pablo dorme agarradinho comigo.

As coisas mudaram muito de 2015 pra cá. Mas basicamente, continuo cuidando muito dos sentimentos deles. Validando os sentimentos deles. Mostrando pra eles que os amo mesmo quando eles não fazem exatamente o que eu espero. E principalmente, deixando eles serem quem são. Abraço e beijo muito. Abraço e beijo mais um pouco. Tudo que eu desejo é ser o porto seguro deles. Que eles voem, mas que eles voltem pra mim quando precisarem de colo. Não sei se isso me dá o título de mãezona. Quero simplesmente ser a mãe do Lipe e do Pablo. A melhor mãe que eles puderem ter.

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