quarta-feira, 30 de agosto de 2017

Mais um pouquinho sobre saúde por aqui..

Passadas as primeiras experiências com médico, chegou a vez da mamãe. E senta que tem coisa pra contar, já que a mudança deixou a minha imunidade no chinelo. Na verdade, a primeira vez que precisei ir ao médico foi porque eu trouxe puran (remédio pra hipotireoidismo) pra 3 meses, já estava na última caixa e aqui precisa de receita médica. Como preciso do remédio pra me manter viva, basicamente, não dava pra enrolar mais.

Marquei a consulta com a mesma médica dos meninos, porque a idéia é que seja alguém que conhece toda a nossa família. Da mesma forma que com os meninos, a enfermeira me atendeu primeiro, me pesou e o choque: ver meu peso com um número de 3 digitos foi assustador. Mas era em libras, ufa. Eu não tava conseguindo me comunicar direito com a enfermeira, que estava sem muita paciência. Então ela conectou com uma tradutora. É um telefone viva voz que fica ligado e traduzindo tudo que tu fala e tudo que a médica fala. Mas a médica demorou tanto que a tradutora desistiu de esperar.

Quando a médica entrou na sala me olhou com aquela cara de que "parece que eu te conheço" e eu falei que ela já tinha atendido meus meninos e que a tradutora tinha desistido de esperar. Daí ela falou que da outra vez não precisamos de tradutor e que se precisássemos, chamaríamos de novo.

Ela foi mega atenciosa comigo, conversou bastante, mais falava do que ouvia, mas eu não tinha muito o que falar também, ainda mais em inglês. Me passou a receita do remédio, pediu uns exames, umas vacinas e tchau. A enferemeira veio, me deu a vacina (diferente dos meninos, que tiveram que ir num setor específico pra fazer as vacinas) e voltei outro dia pra fazer os exames que tinham que ser em jejum.

O laboratório fica no mesmo prédio, esperei menos de dois minutos pra ser atendida na recepção e nem 30 segundos pra alguém me atender pra fazer os exames. Aliás, são vários guiches e tu senta em um, coloca teu braço ali e a pessoa tira teu sangue. Uma coisa que achei diferente e melhor do que minhas experiências anteriores, é que a agulha fica longe do tubinho (tem uma sondinha que leva o sangue até o tubo), aí quando trocam os tubinhos, não parece que vão arrancar a tua veia (não sei se deu pra entender, kakakakkakka).

O resultado dos exames eu olhei pela internet de curiosa, mas a médica me telefonaria pra contar os resultados. Eu pedi pra ela me escrever, porque na época eu não conseguia entender nada que falassem no telefone. Um tempo depois chegou a carta dela dizendo que estava tudo bem com meus exames.

Ah, e o resultado não entrei num site do laboratório pra buscar. É no site do plano de saúde, que tem toda a minha história. Tem a minha carteirinha de vacinação traduzida, todas as visitas que fiz ao médico, os exames que fiz, que problemas de saúde tenho, se tenho alergias, etc. Super completo. Bem legal.

E mais ou menos um mês depois, fiquei emperebada. Candidíase. Afe, que saco. Pesquisei mil receitas naturais na internet, mas nunca tenho coragem de mergulhar a pepeca no vinagre. Pedi socorro no grupo das brasileiras, que que eu faço? Não queria gastar mais $200,00 por causa de uma porcaria de uma candidíase que já tô cansada de saber o que é. Emocional atacou, candida se aproveita. Até que uma boa alma me sugeriu, manda e-mail pra sua médica. Verdade. Não tinha pensado nisso.

Mandei e-mail através daquele mesmo portal que falei antes, ela enviou outro perguntando sobre alguns outros sintomas, respondi, ela retornou pedindo qual farmácia eu queria que ela mandasse preparar o remédio, falei qual era melhor pra mim, em poucas horas eu estava com o remédio na mão. Fui buscar na farmácia, que fica no mesmo lugar do consultório, das vacinas, do laboratório e de todo o resto. Simplesmente levei minha carteirinha do plano e lá estava minha prescrição, sem gastar nenhuma folha de papel. Não gastei nada, não me incomodei e resolvi meu problema. Simples assim.

Só que né, emocional abalado, imunidade comprometida. Comecei a sentir aquela vontade de fazer xixi que não acaba nunca. Você vai no banheiro, não tem uma gota. Ou mesmo que tenha, a vontade não passa. No Brasil eu tomava um remedinho no começo, fazia xixi azul uns tres dias e ficava tudo certo. Só que aqui o remedinho não rola assim sem receita. Aliás, nem sei se tem algum equivalente aqui. Que não seja um antibiótico. Da próxima vez vou tomar suco de cranberry e tomar probióticos antes que o negócio aperte, mas dessa vez começou a rolar febre. 37.8 pra adulto já não é normal, calafrios, bate queixo, dor no corpo, 38.1, 38.8, 39.1.. Jesus, Maria José.. que que tá rolando? Xixi turvo e com cheiro muito estranho. Nunca tinha acontecido isso comigo.

Era uma segunda feira, eu sozinha em casa com a cachorra (que não sabe ir buscar o remédio, vê se pode). Quando batia a febre eu não conseguia levantar da cama pra buscar água, remédio ou fazer xixi. Entre começar a tremedeira e eu conseguir sair do lugar levava mais do que uma hora. Devia ser proibido alguém poder ficar sozinho em casa doente. Me perdoe universo por já ter deixado o Diego sozinho em casa alguma vez, meus filhos nunca deixei, ufa.

Quando baixava a febre eu pesquisava no portal pra ver se eu entendia a diferença entre emergency e urgent care. O urgent care era basicamente ir no médico de sempre, era só pra situações que poderiam esperar de 24 a 48 horas pra serem atendidas. Eu até estava meio disposta a esperar, mas o Diego viajaria a trabalho na quinta, eu precisava estar boa pra ficar sozinha com os meninos. No meio das minhas pesquisas, li em alguns lugares que em muitos casos a enfermeira pode te ajudar pelo telefone mesmo. 

Então resolvi ligar, se ela não pudesse me ajudar, ela iria me transferir pra marcação do urgent care. Mas explicando a minha situação pra ela, ela ficou preocupada. Achou melhor falar com o médico. E então ela voltou e disse que o médico queria que eu fosse na emergência porque poderia piorar muito até o dia seguinte.

Nós tínhamos ido até a porta da emergência um pouco mais cedo, mas lembrando do rombo que foi a vez que o Diego precisou ir, demos meia volta. Mas diante do que a enfermeira falou, sabendo como eles tratam as coisas por aqui, se ela mandou eu ir, é porque era mesmo pra eu ir. Eu não queria gastar, mas também não queria morrer (olha o drama).

Coloquei os meninos na cama e fui dirigindo. Morrendo de medo de ter que ficar internada. Cheguei lá com vergonha, nem parecia aquela pessoa morrendo por causa da febre de horas atrás. Estava disposta e sem febre. Parecia até que tava mentindo no telefone. Expliquei pra primeira enfermeira ainda na recepção qual era meu problema, ali mesmo ela mediu minha temperatura, pressão e oxigenação. 

Fui pra uma salinha, onde tiraram uns 10 tubos do meu sangue, sem mentira. Nessa sala expliquei tuuuuudo de novo pra uma enfermeira e o médico, que pelo jeito era o que a enfermeira tinha consultado ao telefone, que me explicou que precisaríamos fazer alguns exames pra ver se era infecção na bexiga ou nos rins. Que se fosse na bexiga eu poderia tratar em casa, mas que se fosse nos rins, teria que ficar no hospital porque daí eu poderia ficar muito doente.

Fui pra um lugar tipo um quarto, fiquei deitada numa cama, tomando soro pra ajudar a limpar a bexiga, fiz xixi no potinho e tive que ficar lá, deitadinha, tomando soro e esperando o resultado dos exames pra saber o que iam fazer dali pra frente. Veio uma médica residente super simpática, tive que explicar tuuuuudo de novo, um enfermeiro, expliquei de novo, outro médico... expliquei de novo... O legal disso tudo é que meu inglês foi sendo praticado, fiquei orgulhosa de mim.

Fiquei conversando com uma amiga no whats (que eu conhecia de Floripa e reencontrei aqui por purissima coincidencia) e um tempo depois veio de novo um dos médicos e me explicou que era só infecção na bexiga e que eu poderia voltar pra casa. Que eu deveria tomar os antibioticos e aquela coisa toda. Já era meia noite, fui direto na farmácia, que ainda não tinha deixado meu remédio pronto. Esperei mais uns 20 minutos e voltei pra casa feliz e contente por pelo menos saber o que tinha e poder começar a me tratar.

Nosso plano mudou e até o momento não precisei pagar nada, mas ainda posso receber surpresas pelo correio. Em 3 dias tive que fazer um "follow up" que é basicamente um retorno pra ver se o tratamento estava fazendo efeito. Dessa vez paguei $20,00 de coparticipação. Fui atendida por uma enfermeira brasileira que disse que ganhou o dia por me atender, adorei conhece-la, ela está aqui há 15 anos. A minha médica estava fora essa semana e então fui atendida por outra do consultório dela. Só checou se tava tudo bem, conversou bastante comigo sobre filhos, mudanças, traumas, me mandou tomar probióticos e tchau.

Eu realmente espero não precisar usar meu plano de saúde de novo, por favor. Obrigada. Quero fazer muitos outros posts sobre muitas outras coisas, espero realmente não ter mais nada pra contar sobre saúde.

Ah, achei super fofo quando telefonei pra marcar o "follow up" e a moça ao telefone me disse bem querida "Sinto muito que você teve que ir na emergência. Melhoras". O enfermeiro que me atendeu também me disse "Melhoras". E também acho interessante como funciona a farmácia. É tudo nos mesmos tubinhos amarelos, não é em caixas como no Brasil. E eles colocam na hora a quantidade exata que você precisa, isso evita bastante problemas, né? E em casos de remédios de uso contínuo, eu posso fazer um refil da minha receita pelo portal. Depois de um ano sou obrigada a voltar na médica, repetir o exame e daí ela me prescreve de novo, mas por um ano, tá super tranquilo.

Acho que é isso. As coisas são bem diferentes de tudo que eu já tinha visto. Acho mais práticas, mais eficientes, mais inteligentes. Não pretendo voltar a usar nenhum serviço de saúde além das rotinas necessárias, mas foi bem interessante conhecer uma outra forma de se fazer as coisas. :)

quarta-feira, 23 de agosto de 2017

Um pouquinho sobre nossa experiência com saúde por aqui

Estou há um tempo pra fazer esse post, mas é tanta coisa que tenho pra falar e contar que fui enrolando. Já demos alguns passeios no lugar onde fica absolutamente tudo que a gente precisa pra cuidar da nossa saúde, então tenho algumas coisas pra compartilhar.

Assim que chegamos, tivemos que escolher nosso plano de saúde. Tínhamos que escolher o plano de saúde, o plano dentário e o plano de visão. Tinham inúmeras opções, várias prestadoras diferentes, vários valores diferentes e ninguém pra explicar. Great! A empresa pagava um valor x e não sei porque cargas d'água escolhemos um plano bem abaixo do que a empresa pagava (era só pensar um pouquinho, mas não estávamos entendendo absolutamente nada, foi praticamente no "minha mãe mandou eu escolher esse daqui, mas como eu sou teimoso eu escolhi esse da-qui").

As carteirinhas não chegavam nunca e nem tinham como chegar, já que estava tudo no endereço da casa que moramos por 20 dias quando chegamos. Já havíamos pedido novas, mas estavam vindo de carroça. Então o Diego ficou doente. Uma amiga alertou que não deveríamos ir na emergência e sim no urgent care, que provavelmente era só uma gripe americana, e que a gripe americana é horrível pra nós, brasileiros. Que na emergência gastaríamos muitos mil dólares e no urgent care no máximo uns quinhentos.

O Diego foi piorando, até que um dia ele ficou com uma dor de cabeça tão forte, tão forte, tão forte, que foi obrigado a procurar um médico. Não conseguíamos entender onde tinha urgent care pelo nosso plano, ele andou pra cima e pra baixo e todo mundo dizia que não existe urgent care e que ele teria que ir na emergência mesmo. Ele não aguentava mais, se rendeu e foi na emergência. Teve que pagar $200,00 na entrada. Era só uma infecção de ouvido e a dor de cabeça ia vir depois, com as "bills". Cada semana chegava uma coisa nova pelo correio, uma hora era explicando como funciona o plano, uma hora era o pagamento dos honorários do médico, outra hora era o boleto pra pagar o custo pelo uso do hospital... 

No fim essa brincadeira saiu mais de $500,00, foi menos que a amiga tinha alertado, afinal, não precisou fazer nenhum exame expecífico e nem ficar no hospital. Mas é pra gente entender bem que só se vai na emergência se estiver mor-ren-do!!!!

Em janeiro foi a vez dos meninos. Graças ao bom Deus, se é que ele existe, eles não estavam doentes. Mas precisávamos traduzir as carteirinhas de vacinação deles e a única forma que encontrei de fazer isso era levando eles no médico. Tinha também uma papelada pra preencher pra escola, então não tinha como escapar.

Aqui a coisa funciona diferente. Você sempre vai primeiro no primary physician (seria como um médico da família) e se ele achar necessário, ele te encaminha pra algum especialista. Acho isso bem importante, porque assim você tem um único histórico médico e não um monte de fichas em cada canto com cada médico diferente, que nunca conversaram entre si.

Mas então marcamos e fomos. Como não era um consultório pediatrico, não tinha brinquedinhos. As enferemeiras chamaram. Uma pegou o Pablo e outra o Lipe. Mediram a pressão, pesaram, mediram, fizeram teste de visão e fomos pra sala esperar a médica. Demorou um montão, acho que ficaram procurando alguém pra traduzir a carteirinha de vacinação.

Ela chegou, conversou com os meninos (na medida do possível, já que eles não falavam nada ainda na época), explicou sobre a necessidade de fazer o TB test, que é o teste da tuberculose (obrigatório pra entrar na escola, mesmo quem tomou vacina, já que fazemos parte do grupo de risco por termos vindo de um país de terceiro mundo), fez uma carta dizendo que eles já tiveram catapora (baseada nos laudos que eu mostrei digitalizados mesmo, porque os originais chegaram quase um mês depois), já que aqui a vacina da catapora é obrigatória, falou das vacinas e tchau.

Então veio a enfermeira injetar a substância pro TB test. Começou o escândalo. Não lembro qual dos dois levou a picada primeiro, mas gritou tanto, que o segundo já estava apavorado e gritou três vezes mais. O Pablo vomitou, o Lipe ficou totalmente magoado. 

Dali saimos com a requisição das vacinas faltantes pra entrar na escola. O Lipe tomou 4 picadas e o Pablo duas. Tivemos que segurá-los e foi horrível. Um escutava o outro chorar e tornava as coisas muito mais difíceis. Mas enfim, passou. Espero que não precise pisar lá de novo na vida.. Ops, não, pera.. a mãe também teve que ir.. assunto pro próximo post, porque esse já ficou gigante.

quarta-feira, 16 de agosto de 2017

O sonho de todo mundo e o meu.

Quando eu tinha 15 anos, um pouco antes de o Diego entrar na minha vida como meu namorado, um menino pediu pra "ficar" comigo. Nunca tinha passado pela minha cabeça que ele fosse querer ficar comigo, afinal, ele era um gaaaaaato e todas as gurias da minha turma queriam ficar com ele. Também nunca tinha pensado se eu queria ficar com ele, pra mim ele era só meu colega de turma no CCAA. Mas, como ele era o sonho de todas as gurias, claro que aceitei. Nossa, as meninas ficaram morrendo de inveja e eu me achando. No fim eu me apaixonei pelo guri e ele nunca mais me deu bola, hahahahahahahahaha. Aí ficou um climão no inglês e eu sofrendo, como boa adolescente insegura, por ver ele ficar com outras meninas.

Do mesmo jeito que fiquei com aquele menino por ele ser o sonho de todas as gurias, eu permaneci na Celesc por causa do sonho dos outros. E quantas outras coisas a gente faz na vida por ser o sonho dos outros? Por ser o que a sociedade espera? Quantos engenheiros, médicos e advogados queriam ser professores, músicos ou ter uma barraquinha de vender água de coco na praia? Quanto tempo passamos lutando pra conquistar coisas, que nem sabemos se queremos, só pra cumprir os protocolos sociais? Quantas mulheres estão chegando perto dos quarenta e preocupadas porque ainda não tiveram filhos, não tem certeza se querem, mas acabam gerando uma vida porque "é o sonho de toda mulher"?

Quem disse que é o sonho de todo menino ser jogador de futebol? Quem disse que é o sonho de toda mulher receber flores? Gente. Tá tudo muito errado. Por que passamos a vida sem saber quem somos e vamos apenas repetindo padrões, acreditando termos sonhos que sequer paramos pra observar se são nossos ou se foram os pais que sonharam isso e colocaram na nossa cabeça?

Como deu pra perceber pelo último post, meus 10 anos de concursada não foram muito felizes. Eu tinha um salário bom, um vale alimentação ótimo, plano de saúde maravilhoso e estabilidade de emprego. O sonho de todo mundo. Mas não era o meu. Eu queria que meu trabalho fosse reconhecido e que eu pudesse subir de cargo quando merecesse. Eu queria ter feito gastronomia. Eu queria trabalhar de terninho, salto alto e maquiagem (definitivamente isso não tem nada a ver comigo, mas era o que eu achava que era sucesso em algum momento da vida). Em algum momento eu quis ser doula.

Cheguei a prestar vestibular pra arquitetura pra deixar meu pai feliz, mas não passei, ufa. Fiz uma faculdade de administração aos trancos e barrancos, com dois filhos pequenos e um marido que não me ajudava na época (na época eu achava que ele tinha que me "ajudar"- hahahahahha - ainda bem que as coisas mudam) somente pra fazer um "check" na lista do timing social, afinal, eu ja tinha quase 30 e não tinha um curso superior.

Eu já realizei muitos sonhos. Já tive uma rede pra relaxar em casa, já tive um filtro de sonhos, um mensageiro dos ventos, uma casinha e balanço pros meus filhos brincarem, tive filhoooooss... meu maior sonho de toda a vida. Estou realizando o sonho de morar em outro país. Já fiz um mochilão, já assisti partos, já tenho um cachorro (falta o gato). Sonhei em ter uma papelaria, mas nunca corri atrás desse sonho. 

Quando realizei o sonho de morar em outro país, experimentei um vazio. Mas não era um vazio ruim (bom, em alguns momentos foi). De maneira geral foi um vazio gostoso. Um vazio que veio pra eu me perguntar qual seria meu próximo sonho. Penso em aprender a programar, voltar a estudar matemática, quem sabe business, trabalhar com RH ou Produção, que eram as matérias que eu curtia na Adm? Ou vou focar na doulagem? Aprender a costurar, a dançar, a jogar tênis, a desenhar, fotografar?

Por que meu sonho tem que ser que eu seja uma profissional "bem sucedida" e trabalhar dentro de uma empresa? Por que meu sonho tem que ser um concurso público ou ter muito dinheiro? Por que eu não posso sonhar em viver numa comunidade alternativa naturista e auto suficiente? (esse tá na minha lista). Ou quem sabe viajar o mundo numa van/casa (esse entrou pra lista a pouco tempo) Por que não posso sonhar em ser artista de circo? E se meu sonho for nadar com baleias? A vida é tão curta pra gente ficar preso ao sonho dos outros. Qual o meu próximo sonho que eu quero investir? O que faz meus olhos brilharem? O que faz os seus? Qual o seu sonho de verdade? Pensa nisso. :)

quarta-feira, 9 de agosto de 2017

De English Teacher a Concursada, minha trilha profissional.

Com 16 anos eu comecei a dar aulas de inglês no CCAA, mas a imaturidade me fez sair. Trabalhei como estagiária em uma academia por alguns meses e a imaturidade junto da contenção de despesas me fizeram ser a primeira a ser eliminada. Trabalhei numa floricultura, mas a falta de jeito e mais uma vez a imaturidade me fizeram sair. Dei aulas de inglês na Wizard, passei no vestibular pra Matemática, mas quem me fez sair foi quem? A falta de maturidade. Eu achava que não daria conta de estudar e dar duas horas de aula por semana. Fui monitora de uma disciplina na faculdade e a tal falta de maturidade apareceu de novo. Trabalhei por um mês cobrindo as férias de uma pessoa em um provedor de internet a cabo e o retorno das férias me fez sair. Fui chamada na empresa que ficava no mesmo prédio e que tiveram contato com o meu trabalho e gostaram e mais uma vez, mas eu não me acertava com o chefe e então a imaturidade me fez sair.

O Diego morava em Urussanga e eu fazia faculdade em Floripa. Finais de semana íamos os dois pra Tijucas. Eu trabalhava de fiscal de concursos em alguns finais de semana, pra ganhar um dinheirinho extra. Mas não tinha a menor idéia do que era um concurso, serviço público ou enfim. Mas depois de ser fiscal tantas vezes comecei a me perguntar o que era aquilo, já que tinha tanta gente interessada. E então comecei a fazer concursos. Atirava pra tudo que era lado. O primeiro que fiz, nem lembro pra onde era. Mas eu não entendia absolutamente nada, chutei tudo. 

O segundo que ia fazer era o da distribuidora de energia do estado e lembro do meu irmão me dizendo antes de sair de casa pra prova: "Pelo menos lê a prova dessa vez". Ok, vou ler. E a prova estava fluindo bem. Cairam algumas coisas que eu tinha estudado no primeiro semestre de administração (que eu parei de fazer porque meu pai não pagava as mensalidades direito e a bonitona aqui não cogitava trabalhar pra bancar os estudos), também algumas coisas que eu lembrava do ensino médio e claro, o fato de ser uma estudante de matemática fazia com que meu raciocínio fosse "xuxu beleza".

Na semana seguinte fiz o da companhia de água e então era esperar o resultado dos concursos. Fiquei em 11o no da água e em primeiro no de energia, ambos pra região de Criciúma. Eu pulava na cama de alegria (foto da esquerda e sim, eu tinha cabelo curtíssimo). Finalmente eu tinha um emprego perto do Diego e a gente finalmente ia poder casar. Ele ia ter que parar de me enrolar, hahahahahhah.

Então alugamos um apê e fomos morar juntos. Casamos no civil pra que ele pudesse entrar no plano de saúde e no mês seguinte descobri que estava grávida. Foi super emocionante, nós queríamos e eu tinha um emprego. Estava no estágio probatório, pensava em esconder a gravidez até passar do estágio, mas tive um sangramento e tive que contar antes do planejado. Mas eles gostavam do meu trabalho e iam me deixar ficar de qualquer jeito.

No começo era tudo oba oba, tudo lindo, tudo maravilhoso. Só que era atendimento ao público e era chato pra dedéu. Eu sentia meu potencial escorrendo pelas mãos. Eu sabia que podia mais do que aquilo, mas não tinha possibilidades de mudança dentro da empresa. Só por indicação política e eu não tinha nenhuma indicação (na época eu usaria de certeza, mas quem eu sou hoje não me permite usar esse tipo de artimanha pra conseguir o que quer). 

Depois de passar a não engolir mais os sapos dos consumidores e acabar causando muito transtorno no atendimento, acabei mudando de setor. Não lembro bem quanto tempo fiquei nesse setor. Sei que saí por pensar mais nos outros do que em mim. Pra implantar um horário diferenciado pro atendimento, eu precisaria voltar pro atendimento, pois eles precisariam de mais pessoas pra atender. Então topei. Trabalharia 6 horas ao invés de 8, mas com atendimento.

O horário era horrível, não me trouxe benefício nenhum e trabalhar com atendimento sempre foi um inferno pra mim. Não deu tempo de me arrepender totalmente, tive a brilhante idéia de pedir transferência pra minha terra natal. Usei influência política e me envergonho MUITO disso. Mas enfim, voltei pra minha terra natal, mesmo tendo sido alertada que estaria indo pra "pior regional do estado".

Eu já havia conversado com a funcionária que trabalhava lá e eu sabia que lá eu teria muito o que aprender, pois ela fazia tudo sozinha e a minha ajuda seria muito bem vinda. Mudança feita, no meu primeiro dia no novo posto de trabalho, veio o balde de água fria, ela iria trabalhar com o serviço interno e eu com atendimento. Dali pra frente a coisa desandou. Os últimos quatro anos na empresa foram os piores. Eu trabalhava com atendimento ao público numa cidade minúscula, onde muita gente me conhecia e se achava no direito de pedir "favorzinhos". Eu me desentendia com um consumidor inadimplente e dava de cara com ele no mercado, sendo que meu filho estava do meu lado com o uniforme da escola.

Sempre me senti muito vulnerável enquanto estive lá. Eu queria fugir do atendimento e também explorar meu potencial. Então eu abraçava tudo que vinha pela frente, na tentativa de me sentir mais realizada lá dentro. No fim, eu estava sobrecarregada e sempre atendendo. Sempre tentando me esquivar dos favorzinhos, tentando telefonar pros inadimplentes que eu conhecia pra que eles pagassem antes de serem cortados e eu não ter que encará-los na mesa de atendimento.

Eu pensava em pedir transferência pra Central em Floripa, mas pensava na qualidade de vida, trânsito. Não!! Trabalhar são "só" 8 horas por dia, vou ser feliz nas demais. E o tempo ia passando e eu sempre infeliz. A minha relação com o dinheiro era mais ou menos assim: foda-se, tô trabalhando com algo que odeio pra ter dinheiro, então vou fazer o que quiser com ele. Então eu me dava o luxo de ter faxineira, de fazer a unha toda semana, de gastar com roupas, de almoçar em restaurante caro.

As coisas foram piorando, pois o chefe saiu e a minha amiga virou minha chefe. Ela tinha todas as atriuições de chefe, eu acabei ficando ainda mais sobrecarregada e mais infeliz. Tinha a doulagem que estava surgindo, mas eu não tinha coragem de pedir demissão por n coisas que vou contar no próximo post. Dez anos se passaram desde que eu entrei e enfim tive coragem de pedir demissão. Claro que sou grata a oportunidade de ter esse emprego com tantos benefícios por dez anos. Mas essa é a minha história e a minha jornada.

Não tive tempo de sentir/sofrer (será?) o reflexo da minha decisão, pois acabei vindo pra cá. Nos próximos posts devo divagar um pouco sobre a mudança de concursada pra staying at home mother, sobre o meu sonho e o sonho de todo mundo, sobre mulher independente sumbissa a feminista dependente do marido...

quarta-feira, 2 de agosto de 2017

Sobre padrinhos, batismo e educação dos filhos.


Nossos filhos não são batizados em nenhuma igreja. Na época essa decisão foi tomada porque simplesmente não frequentávamos nenhuma igreja e não concordávamos totalmente com nenhuma religião ou crença. Hoje explico pra eles que cada religião pensa de uma forma e que eles podem escolher a que eles quiserem quando forem maiores, ou continuar sem nenhuma. Ano passado ofereci pro Lipe fazer catequese, mas ele não se interessou, mesmo todos os amigos dele fazendo.

Mas o assunto de hoje não é religião. O que eu gostaria de divagar hoje é sobre a escolha da madrinha e padrinho para os nossos filhos. Eu fui batizada por um casal de amigos dos meus pais. Eu ganhava presente em todo aniversário e natal, sem falta. Ela era meio atrapalhada, então vinha sempre com atraso. O último presente que ganhei foi um biquini no natal de 97, que eu acabei trocando por uma mochila, já que o biquini era minúsculo e não tinha nada a ver com a adolescente que eu estava me tornando. Eu fiz aniversário em abril, mas como os presentes sempre vinham atrasados, não ganhei presente aquele ano, pois ela faleceu em maio.

Meu padrinho? Faz uns onze ou doze anos que o vi pela última vez, pela rua, trocamos meia dúzia de palavras e nunca mais o vi. Eu nunca dormi na casa dos meus padrinhos, eles não sabiam que tipo de comida eu gostava ou como era minha personalidade. Mal sabiam quem eu era. E eu sei muito pouco deles. Sei que a minha madrinha era uma pessoa do bem e caridosa, mas nunca vivi isso com ela, nunca vi realmente, apenas soube. Eles eram amigos dos meus pais, mas não lembro de conversarem comigo. Não lembro de qualquer interação comigo além dos presentes.

Eu e o Diego temos um afilhado. Eu tinha 15 anos quando ele nasceu, eu era mega apegada a moça que cuidava da limpeza da nossa casa e eu pedi pra ser madrinha do bebê que ela estava esperando. A minha referência de ser madrinha era dar presentes. Então eu dava presentes todo aniversário e natal. Então fui mãe, e acabei esquecendo de mandar os presentes. Ele era tão novinho e nem presente ganhava mais dos padrinhos dele.

Da mesma forma que meus padrinhos não sabiam nada sobre mim, eu também não sei nada sobre nosso afilhado. E não, definitivamente não é esse tipo de relação que eu gostaria que meus filhos tivessem com seus padrinhos. E tampouco a relação que quero ter se algum dia alguém me escolher como madrinha do seu filho.

Madrinha e padrinho tem muito pouco a ver com religião. Apesar de ser comum haver uma cerimônia religiosa pra celebrar o laço, os padrinhos são pessoas que se comprometem a cuidar de alguém. Com 15 anos eu não tinha maturidade pra me comprometer a cuidar de ninguém. E nunca me senti cuidada pelos meus padrinhos.

Pra mim, muito além de ser alguém que cuide, os padrinhos são pessoas que irão passar os nossos valores pros nossos filhos. Alguém que os eduque como educaríamos. Alguém que pense como a gente, que cuide dos sentimentos deles, que deixem eles serem quem são e os incentive a buscar o próprio sucesso, o que é totalmente diferente de ter muito dinheiro.

Desejo que os padrinhos deles os levem pra tomar um sorvete e batam um papo sobre desigualdade social, sobre orientação sexual, sobre feminismo, sobre felicidade, sobre sentimentos, bons e ruins. Quero que meus filhos tenham os padrinhos como exemplo, assim como tem os pais. Que observem as atitudes deles e sigam as boas e tenham liberdade pra apontar e conversar sobre as ruins. Quero que sintam aconchego e porto seguro nessas pessoas, caso não possamos estar aqui.

Quero alguém que eu possa confiar pra ensinar as coisas da vida, da forma como nós acreditamos. E é por isso eles não tem um único casal de padrinhos, pois nós somos apenas nós e somos únicos. E pra passar cada um dos nossos valores pra eles, serão necessários muitos amigos. Se algum dia alguém me eleger como madrinha do seu filho, vou ficar extremamente lisonjeada, pois essa escolha tem um significado extremamente forte.

E nós não conseguimos fazer essa escolha, pois não existem outros de nós. Mas juntando várias pessoas que amamos, conseguimos fazer uma linda rede pra educar nossos filhos. E assim seguimos.

Pra finalizar esse post, quero contar que depois de escrever esse texto, resolvi procurar meu afilhado no facebook. E encontrei, ele me respondeu na hora e eu fiquei mega feliz. E conversamos muito. E descobri que tenho um afilhado cheio de amor pra dar e que adora conversar, ouvir novas ideias e pensar na vida. Passada a culpa de ter estado ausente nos últimos dez anos, ser chamada de madrinha me deu uma emoção muito grande. Por alguma razão, as coisas aconteceram como aconteceram. Só posso agradecer.