quarta-feira, 28 de junho de 2017

Ah, as surras..

Eu tenho mil coisas pra falar. Minha cabeça não pára de pensar em assuntos que eu gostaria de falar. Estou tentando escrever sem colocar dois ou três pontos, por sugestão do marido, que disse que fica chato de ler. Eu estava escrevendo no blog sem perguntar a opinião dele, pois sabia que ela alteraria meu jeito de escrever. Ninguém mandou perguntar, agora toma!!! Hahahahahahha.. não consigo, viu??? Pra eu escrever sendo espontânea, preciso dos dois ou três pontos. Na verdade, desde que ele falou, eu comecei a editar os posts, mas quando escrevo, escrevo com dois pontos. :D

Hoje quero falar de um assunto bem delicado: as tais surras! Contei o episódio do dentista pra várias pessoas e duas pessoas muito queridas fizeram comentários que me trouxeram a esse post. Uma amiga me perguntou": "e tu não teve vontade de dar umas surras?" e a outra pessoa me contou que quando os filhos não queriam escovar os dentes ele perguntava se as crianças queriam apanhar de chinelo de borracha ou de couro. Disse ainda que só precisou bater uma vez, que nas futuras era somente perguntar qual o chinelo que as crianças obedeciam.

Então. Não! Eu não tive vontade de dar umas surras e eu tenho um defeito, que na verdade é a minha maior virtude e eles se chamam empatia. Não sei como começou, mas desde que me lembro por gente, eu sempre me coloquei no lugar da outra pessoa. Eu não gostaria que fizessem isso comigo, então não faço contigo. Como eu me sentiria se tivesse passando pela situação x? Por que tal pessoa age dessa maneira? Que história de vida ela tem que a faz ter essa atitude? E eu ensino isso pros meus filhos desde sempre.

Não vou dizer que nunca bati nos meus filhos, sim, já bati. Talvez uma vez no Felipe e uma vez no Pablo. No máximo algum tapinha na mão, que doeu muito mais em mim do que neles, porque simplesmente eu não sabia outra forma de educar e oferecer limites. Não sabia. E aquilo me incomodava muito. Eu me sentia desesperada, pois não queria gritar ou bater nos meus filhos. Eles sempre foram muito queridos, foram raras as vezes que eu "precisaria" bater. Mas eu achava que eu era uma mãe "mole", que não sabia educar os filhos, que eu estava errada, sei lá, que bater era necessário pra criar "cidadãos de bem" e que talvez eu fosse uma incompetente por não conseguir "educar" meus filhos.

Até que um belo dia conheci os blogs Cientista que virou mãe e Paizinho, vírgula e vi que era possível educar sem violência e que isso era muito mais eficiente do que a maneira "convencional". Que a empatia é uma palavra mágica e que minha forma de educar estava certa (pelo menos eu tinha achado pessoas que pensavam como eu). Que os meus instintos estavam me mandando fazer a coisa certa. E então me libertei daquela sensação de ser uma mãe que não sabe educar os filhos e passei a me achar uma super mãe.

Então, considerando o episódio do dentista, eu não fiquei com vontade de dar uma surra no Pablo. Porque eu entendo que ele estava lá assistindo TV, com fone de ouvido e de repente sentiu uma picada na boca. Claro que ele ia achar que dali pra frente tudo ia doer e então ele fechou a boca, pra garantir que não fosse doer dali pra frente. Não posso esperar que uma criança de seis anos entenda que a cárie vai ser pior do que a anestesia, ou que vai custar muito dinheiro ou que a anestesia geral é muito perigosa. O que ele sabia naquele momento é que ele não queria sentir mais dor. Bastou eu me colocar na situação dele e ver como eu iria me sentir. Simples assim.

Sobre a palavra obedecer, a primeira definição que aparece no google é "submeter-se à vontade de (outrem)". Não, gente!!! Não quero que meus filhos se submetam a vontade de ninguém não, tampouco a minha. Eu quero que eles tenham vontade própria. Eu quero que eles questionem o que eu digo, o que eu peço e principalmente o que eu faço. Eu quero que meus filhos entendam o que está sendo proposto e porque aquela decisão ou atitude é importante. Não quero enfiar minha opinião goela abaixo.

E quero que eles levem isso pra vida toda. Que não aceitem o que é imposto porque tem que ser assim e deu. Ou porque todo mundo sempre fez assim, então deve estar certo. Eu ensino pra eles que pra tudo tem opção de escolha. Que algumas pessoas pensam de uma maneira e outras pensam diferente e que essa é a graça da vida.

E sobre a escolha de chinelos. Bom, eu não quero que meus filhos tenham medo de mim. Se eles tiverem medo de mim eu errei feio. Se eles tiverem medo de mim, o máximo que vai acontecer é eles fazerem as coisas erradas quando eu não estiver vendo. Não é isso que desejo. Medo é totalmente diferente de respeito. Quero que eles tenham em mim um porto seguro, pra voltar e pedir colo, independente do que eles tenham feito. Nós quatro nos respeitamos, a necessidade de todos é ouvida.

Lembrei agora de uma história. Quando eu tinha 9 anos de idade eu fui num passeio de dia das crianças pela escola. As professoras falaram "não subam nas árvores". Mas eu era uma macaquinha e amava subir em árvores. Subi numa goiabeira, me apoiei num galho seco e cai da árvore. Sentia que meu braço estava estranho, que doia quando eu tentava mexer. Mas fiquei quietinha até o final do passeio com MEDO da professora. Quando cheguei em casa, não aguentava da dor, me levaram no hospital. Eu tinha quebrado o braço. Ok, mas o que eu quero dizer com essa história é que eu tinha MEDO da professora, então, fazendo escondida, tava tudo beleza. O que eu falaria pra uma criança de nove anos? "Eu sei que é super legal subir em árvores, mas você pode cair e se machucar. Não faça isso sem um adulto por perto, ok?"

Aqui em casa funciona. Talvez porque desde pequeneninhos eles foram educados dessa forma. Sempre expliquei o porque das coisas e nunca usei o medo pra conseguir que eles fizessem o que precisava ser feito. Ah, e principalmente empatia, empatia, empatia. Eles são crianças. O que uma criança de tal idade pode realmente fazer? O que se espera que uma criança de tal idade faça? Como uma criança de tal idade se sente?

Tudo isso é tão simples, tão óbvio e tão mais fácil de resolver do que através de violência (seja física ou verbal), basta um pouquinho de paciência, tempo e desejo de ouvir as necessidades dos nossos filhos. Talvez estejamos esperando que nossos filhos sejam mini adultos, será que não? Pensa nisso!

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