quarta-feira, 3 de maio de 2017

O Luto

O último post terminou de forma dramática, eu sei. Eu terminei o post com "adeus vida" e o título desse é "o luto". Parece exagero, mas se nós parássemos de tentar fingir que os sentimentos negativos não existem, a vida seria mais leve.

Você já assistiu o filme Divertidamente? Assisti inúmeras vezes com os meninos, especialmente por causa da mudança. Conversei muito com eles sobre deixar a tristeza fazer o trabalho dela. Não podemos expulsar a tristeza de nós e na maioria das vezes, quando deixamos ela fazer o trabalho dela, ela vai embora sozinha.

Se olharmos o significado da palavra Luto no dicionário ela trata apenas do sentido que conhecemos, que é a tristeza profunda pela morte de um ente querido. Mas eu acredito no luto de outra forma, talvez pelo fato de eu ter feito muita terapia na vida, eu acredite no luto como a tristeza profunda pela morte de quem você era. Você pode viver um luto porque era casada e agora se separou. Você pode viver um luto porque era uma aluna de universidade e agora é uma profissional. Quando você passa a ser mãe e a mulher que existia antes morre. Eu acredito no luto de várias maneiras.

A Carolina do Brasil morreu. Mesmo que eu volte pro Brasil, aquela Carolina não existe mais. Eu simplesmente não tenho como voltar a ter exatamente a vida que eu tinha lá considerando as experiências que eu vivi até agora. No meio do meu luto, duas pessoas queridas compartilharam um texto comigo. Esse texto falava que quando ele saiu do Brasil, ele morreu e no texto dele, ele inclui várias coisas que o fizeram se sentir assim.

O texto dele está disponível no link, mas eu quero contar do meu luto. Quero contar porque aquela Carolina morreu. Tudo começou com as despedidas. Assim como quando uma pessoa morre, onde as pessoas dão um jeito de se despedir (com o ritual velório-sepultamento/cremação ou seja lá qual a escolha de cada um, um dia conto a minha). Como eu tinha data pra viajar, várias pessoas que nunca tinham tempo pra tomar aquele café e bater um papo, arrumaram um tempo para se despedir.

No Brasil eu era a filha do Dr. Eli, mãe do Lipe e do Pablo, a doula da Roda Luz, voluntária do gestar, a doula que ensina as grávidas sobre parto no posto de saúde, a mulher da Celesc, esposa do Cabron,  nora da Beta, filha da Divanita. Até o sobrenome tinha um peso nos espaços que eu pertencia.

No Brasil eu tinha meus projetos, tinha meus amigos, minha casa, minha rotina. No Brasil eu tinha meus restaurantes preferidos, tinha minha bebida preferida, mercado e cabeleireiro preferidos. No Brasil eu fazia a unha toda semana e entregava a Fofinha pro banho toda quarta feira. No Brasil eu sabia onde comprar roupa, material escolar e bolo de chocolate. No Brasil eu sabia pra quem doar as coisas que eu não iria mais usar, sabia em qual cinema ir e em qual parque ou praia levar os meninos em dia de sol (tudo bem que eu não ia nunca, mas sabia, hehehehe).

No Brasil eu dirigia pra onde eu quisesse, quando eu quisesse. Me sentia livre. No Brasil eu sabia o nome das coisas e sabia ir no mercado e passar o cartão, porque até isso aqui é diferente. Eu sabia qual o corte de carne deveria comprar e sabia qual comportamento era esperado em cada situação.

Pra piorar a transição tinha o facebook. Com todas aquelas comemorações lindas de natal, todo mundo reunido... Mas eu estava tão envolvida no meu sofrimento que não conseguia ser racional a ponto de entender que se eu tivesse no Brasil, não estaria fazendo absolutamente nada daquilo que estava nas fotos, porque eu simplesmente nunca comemorei o natal.

Minha prima me mandou uns florais pelo correio. Comecei a tomar e então a reagir. Encontrei alguns grupos de brasileiras no facebook e comecei a me movimentar. Pra lidar com meu luto precisei sair do facebook, do instagran e dos grupos de whatsapp. Simplesmente precisei. Precisei parar de ver a vida colorida acontecendo no calor brasileiro enquanto eu chorava no frio americano (em todos os sentidos).

Eu precisava aprender sobre absolutamente TUDO e eu não sei dizer exatamente o que me fazia chorar. Mas eu chorei e chorei por 30 dias seguidos. Um pouco mais, na verdade, bem mais... Não sei se eu chorava pela casinha de lego desmontada que ficou no Brasil ou por não saber por onde começar a montar a nova casinha aqui. Mas fui deixando a tristeza fazer o trabalho dela e o Brasil foi ficando pra trás. Quem eu era foi ficando pra trás pra trás e a nova Carolina começou a despertar.

A Carolina conseguiu jogar todas aquelas peças de lego no chão e começar a montar, uma a uma. Tirei carteira de motorista, fiz amizades, encontrei o melhor supermercado, o cabeleireiro, a manicuri, o pet shop da Fofinha e as pecinhas foram se encaixando. Agora, depois de tantos posts, vou começar a falar da experiência de viver por aqui.. :)

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