quarta-feira, 24 de maio de 2017

Adaptação: As primeiras semanas. Ou meses?

Os primeiros dias depois que chegamos foram de extrema adaptação. A começar pela mudança de horário. Os meninos iam dormir super cedo e três horas da manhã estavam acordados fazendo barulho. A comida, socorro! Totalmente diferente do Brasil. Como o Lipe só come arroz, feijão e carne moída, não tava fácil achar a carne moída que ficasse do jeito que ele gosta, o arroz parboilizado, a bolacha água e sal (só encontrei meses depois no mercado brasileiro). Mesmo os nuggets que poderiam quebrar um galho (julguem-me) eram super apimentados.

Eu esperava que o Pablo fosse relutar muito. Como ele não queria vir, e quando veio disse que iria voltar pra casa no "sábado", achei que seria muito difícil pra ele aceitar a nova realidade. Também estava preocupada com o Diego, que estava acostumado a trabalhar de casa nos últimos cinco anos e estava longe da banda. Estava preocupada com o Lipe e a forma sensível dele encarar as coisas. Estava apavorada com o sofrimento da Fofinha vindo no bagageiro do avião sem entender nada. A última pessoa que eu estava achando que teria problemas seria eu. Ha ha ha!!!!!!

A Fofinha chegou ótima e no mesmo dia teve festa de final de ano da empresa do Diego, que eu tava empolgada (apesar de assustada) pra ir. Queria ver gente, interagir. Primeiro choque!!! Onde foram parar aqueles cinco anos de inglês? Por que não consigo me comunicar? Porque não consigo conversar com as pessoas como eu sempre achei que seria natural? Que vergonha, o Diego disse que eu fui professora de Inglês, que fiasco. Tudo bem. Sigamos em frente.

O clima não ajudava em nada, chuva e frio. Não tínhamos carro, não tinha nada a menos de 30 minutos caminhando da casa que estávamos (parece pouco, mas com duas crianças no frio e na chuva não é muito recomendável). Eu via as coisas acontecendo no Brasil. Show da Dbregas, todas as festas de final de ano possíveis (que eu não iria, mas não tinha sanidade mental pra entender isso no momento), meu sobrinho pitoquinho, o pesar de estar longe de todas aquelas pessoas que fizeram declarações de amor nas nossas despedidas (que a essa altura já nem lembravam mais da nossa existência).

Começou a bater o desespero. Eu botava a mão na cabeça e os pensamentos borbulhavam na minha cabeça: "o que que eu fiz da minha vida?", "por que eu quis tanto vir pra cá?", "joguei a minha vida perfeita no lixo". Eu chorava dia, noite e madrugada. Ainda não tínhamos encontrado nossa casa definitiva, os meninos não tinham escola, eles só jogavam videogame e eu me culpava. Não que eles fossem fazer algo diferente se estivéssemos no Brasil, mas eu me culpava mesmo assim.

Encontramos nossa casa atual e nos mudamos. Alugamos um carro pra fazer a mudança e pra passar natal e ano novo, assim poderíamos passear e eu sairia daquela fossa. Mas não. O Diego ficou doente e o máximo que o carro foi usado foi pra ele ir na emergência. Ok, nós demos umas passeadinhas, mas o Diego doente fica num mau humor absurdo e hoje eu me sinto culpada (pra variar) por esperar que ele tivesse feliz e sorrindo mesmo com febre (eu nunca tinha ficado doente na minha vida antes, mas claro que aqui já fiquei, então pude sentir na pele como é, sempre achei que fosse frescura de homem - Não é!).

Como que aquele ano que tinha sido tão intenso e feliz poderia estar acabando de uma forma tão desagradável? Mas ele finalmente acabou, ufa. Com o início do novo ano as coisas começaram a dar uma engrenada. Devagarinho. Os meninos tinham que começar a escola, tínhamos que providenciar documentação, exames médicos, carteitinha de vacinação traduzida e isso foi me tirando daquela nóia. O foco agora era a adaptação deles na escola e só durou dois dias, pois eles se adaptaram muito mais rápido do que eu esperava.

Levávamos eles na escola de Uber e eu os buscava a pé. Sem problemas dos outros pra resolver, eu era obrigada a olhar pra mim. Eu tinha um longo tempo sozinha em casa com a Fofinha. E agora? Chorei muito sozinha em casa. Eu fiquei totalmente perdida, sem saber quem eu era. A única coisa que eu tinha pra fazer era serviço "de casa", que convenhamos, sempre tem e é um pé no saco. Fui fuçando no facebook, encontrei uma brasileira na mesma situação que me indicou uns grupos de facebook de brasileiras aqui na região e o grupo de conversação na biblioteca.

Comecei a escrever esse blog como forma de ocupar meu tempo e organizar as idéias. Decidi ir na conversação e me senti super importante por andar de ônibus sozinha, hahahahahah. Logo compramos o carro, fiz a carteira de motorista e me senti livre de verdade, já que amo dirigir. Coloco o destino no google maps e vou ser feliz. Com o carro na mão, comecei a ir nos playdates me encontrar com as brasileiras, depois comecei a ir num happy hour de gringos que querem aprender português (que tem mais brasileiros que gringos :oP), happy hour de mamães brasileiras, enfim, fazer amizades. Aquele pacote cheio de lego que estava uma bagunça já está separado por cores e a boa parte da nova casinha já está montada.

Estou fazendo terapia e claro que tem muitas questões pra serem trabalhadas ainda, vou ter que olhar cada cor de peça. Tem muitas peças que não sei onde devem ser encaixadas ou SE elas ainda devem ser encaixadas. Tem peças de cores que só tem aqui e que já fazem parte da minha nova construção. Tem um monte de peças que não servem mais e vão pro lixo, com toda certeza. Muitas já foram. A cor referente ao lado profissional? Bom, preciso pensar sobre ela pra saber o que fazer quando eu tiver autorização pra trabalhar. Ser dona de casa e dependente do marido? Putz, essas peças ainda estão uma zona, mas vai rolar um post inteirinho sobre esse assunto.

O tempo passou e já tem quase seis meses que estamos aqui. Se estou feliz aqui? Sim, hoje tenho certeza que estou. Foi difícil? Foi, muito! Agradeço a cada amigo que me aturou super depressiva no whatsapp nos primeiros meses e a cada nova amiga que me ajudou a sair do chororô. Não foi fácil. Mas está valendo a pena e hoje já tenho certeza que faria tudo de novo e de novo... não tem bem material que equivalha a essa experiência. Só agradeço. :)

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