quarta-feira, 31 de maio de 2017

O que sinto falta da vida no Brasil..

Dizem que a comparação é inimiga da felicidade, realmente é, mas acho que numa mudança de cultura tão grande é inevitável comparar. É inevitável sentir falta de algumas coisas e preferir outras. Não pretendo me alongar muito nesse post, mas vamos ver onde ele vai dar. :)

Pão de queijo. Ah, com certeza é a primeira coisa que eu sinto falta, hehehehehhe. Eu comia pão de queijo todos os dias e encontrava pão de queijo em qualquer esquina, literalmente. Se eu fosse tomar um café na rua com certeza envolveria pão de queijo (e sempre que possível, chocoleite).  Na rodoviária, aeroporto, padaria famosa, mercadinho de bairro... todo lugar tinha pão de queijo. Aqui tem pão de queijo congelado, mas só em alguns mercados e a experiência é bem diferente de tu passar na padaria e pegar um pão de queijo quentinho.

Pão francês, pão salgado, pão de trigo. Eu comia com banana frita, com ovo mexido, com queijo e presunto, puro, com doce de leite... nham nham, deu saudades e água na boca! :oP Tem algo parecido nos mercados aqui, mas sinceramente não me convenceu, é meio adocicado, "massudo", sei lá. Não tem nada a ver com o pãozinho do Koch ou do Angeloni que eu adorava. Comprei baguetes algumas vezes e quebra um galho, lembra mesmo o sabor do pãozinho de trigo, mas assim como o pão de queijo, a experiência é bem diferente de comprar pãozinho todo dia.

Santo Antônio de Lisboa. Sinto falta não só do Polvo do Marisqueira de Sintra, mas daquele lugar de maneira geral. É simplesmente mágico, uma energia inexplicável. Tínhamos Floripa inteira pra explorar (aliás, Santa Catarina inteira), mas não conseguíamos deixar de ir lá. Tinha um parquinho pras crianças, o pôr do sol, pastel de berbigão, feirinha de artesanato, além das várias noites que o Diego tocou naquele bar do lado da igreja. Morro de saudades.

Nossa casa. Não preciso nem comentar, né? Sinto falta do sofá que eu tinha, da rede, de poder deixar as crianças pularem a vontade, do meu varal, da minha grama, das minhas árvores, das minhas flores. Mas hoje sinto uma saudade gostosa e não mais uma saudade com pesar. Nosso lar já é aqui agora e a casa de Tijucas certamente vai ser vendida assim que for desocupada, pois por mais que algum dia a gente volte pro Brasil, provavelmente não será pra Tijucas. :)

Por muito tempo senti falta de fazer as unhas. Eu sou totalmente estabanada, não arrisco colocar um alicate na minha cutícula sendo que quem tá manuseando o alicate é minha mão esquerda, a mão direita já seria risco suficiente. Fiquei quase cinco meses sem fazer, encontrei uma manicuri brasileira e fiz as unhas algumas vezes. Mas é engraçado, o serviço dela foi bacana, mas não tenho mais a menor vontade de fazer, não sei explicar, acho que simplesmente mudei.

Deixar os filhos com a vó pra fazer algo com o marido. No Brasil os pais do Diego moravam no mesmo bairro que a gente e minha mãe a uma hora de distância. Qualquer coisa que a gente quisesse fazer, era só deixar eles com a vó, seja lá qual fosse. Aqui ainda não saimos nenhuma vez sozinhos. Queremos explorar alguns restaurantes diferentes, mas ficamos totalmente limitados aos que possuem batata frita, já que o Sr. Felipe não experimenta nada de novo. Ainda não tive confiança pra deixa-los com babysitter ou talvez ainda não tenhamos encontrado a ocasião que valha a pena.. :)

Ao mesmo tempo que velhos hábitos ficaram pra trás, novos foram surgindo. Por exemplo, agora usamos abacate no hamburger e no pão com ovo, temos uma torradeira e sempre comemos pão torrado. Como não tem almoço na vó todo final de semana e arroz e feijão não se encontra em qualquer boteco como no Brasil, sempre temos arroz e feijão na geladeira. Aqui não passo roupa e toda a roupa vai pra secadora. A louça é quase toda lavada na máquina, dishwasher é vida.

Agora o Pablo toma café da manhã antes de sair de ir pra escola e tiramos os sapatos antes de entrar em casa. Também limpamos a casa todos juntos pela primeira vez na nossa história (já que sempre tivemos quem limpasse pra gente). Aqui também olhamos a caixa de correio todo dia, já que o correio é levado a sério. Os meninos levam marmita pra escola e vamos a parques e museus com bem mais frequencia.

São tantas pequenas mudanças. Não temos mais Santo Antônio de Lisboa mas temos a HighWay one, que é um presente que ganhamos por morar na California, onde podemos ver o pôr do sol espetacular, que não tem foto que demonstre. Não tem pão de queijo a toda esquina, mas tem donuts e bagels. Não tem pão frances, mas tem comida de todo o mundo pra experimentar. Não tem a nossa casa daquele jeitinho, mas tem aquecimento no apartamento (eu sempre odeiei ficar encolhida durante todo o inverno no Brasil).

Não saio sozinha com o marido, mas temos um país inteiro pra explorar em família. Não temos a vó pra deixar os filhos, mas estamos oferecendo uma educação, no mínimo, diferente pros nossos meninos.

Algumas nos chamam de corajosos, outros dizem que somos loucos. Apesar de o começo ter sido extremamente doloroso (muito mais pra mim do que pros meninos), tenho certeza que fizemos a escolha certa e eu faria tudo de novo. A vida é muito curta pra fazer exatamente a mesma coisa em toda ela. Mas isso é só uma questão de opinião. Bom, acho que me alonguei.

quarta-feira, 24 de maio de 2017

Adaptação: As primeiras semanas. Ou meses?

Os primeiros dias depois que chegamos foram de extrema adaptação. A começar pela mudança de horário. Os meninos iam dormir super cedo e três horas da manhã estavam acordados fazendo barulho. A comida, socorro! Totalmente diferente do Brasil. Como o Lipe só come arroz, feijão e carne moída, não tava fácil achar a carne moída que ficasse do jeito que ele gosta, o arroz parboilizado, a bolacha água e sal (só encontrei meses depois no mercado brasileiro). Mesmo os nuggets que poderiam quebrar um galho (julguem-me) eram super apimentados.

Eu esperava que o Pablo fosse relutar muito. Como ele não queria vir, e quando veio disse que iria voltar pra casa no "sábado", achei que seria muito difícil pra ele aceitar a nova realidade. Também estava preocupada com o Diego, que estava acostumado a trabalhar de casa nos últimos cinco anos e estava longe da banda. Estava preocupada com o Lipe e a forma sensível dele encarar as coisas. Estava apavorada com o sofrimento da Fofinha vindo no bagageiro do avião sem entender nada. A última pessoa que eu estava achando que teria problemas seria eu. Ha ha ha!!!!!!

A Fofinha chegou ótima e no mesmo dia teve festa de final de ano da empresa do Diego, que eu tava empolgada (apesar de assustada) pra ir. Queria ver gente, interagir. Primeiro choque!!! Onde foram parar aqueles cinco anos de inglês? Por que não consigo me comunicar? Porque não consigo conversar com as pessoas como eu sempre achei que seria natural? Que vergonha, o Diego disse que eu fui professora de Inglês, que fiasco. Tudo bem. Sigamos em frente.

O clima não ajudava em nada, chuva e frio. Não tínhamos carro, não tinha nada a menos de 30 minutos caminhando da casa que estávamos (parece pouco, mas com duas crianças no frio e na chuva não é muito recomendável). Eu via as coisas acontecendo no Brasil. Show da Dbregas, todas as festas de final de ano possíveis (que eu não iria, mas não tinha sanidade mental pra entender isso no momento), meu sobrinho pitoquinho, o pesar de estar longe de todas aquelas pessoas que fizeram declarações de amor nas nossas despedidas (que a essa altura já nem lembravam mais da nossa existência).

Começou a bater o desespero. Eu botava a mão na cabeça e os pensamentos borbulhavam na minha cabeça: "o que que eu fiz da minha vida?", "por que eu quis tanto vir pra cá?", "joguei a minha vida perfeita no lixo". Eu chorava dia, noite e madrugada. Ainda não tínhamos encontrado nossa casa definitiva, os meninos não tinham escola, eles só jogavam videogame e eu me culpava. Não que eles fossem fazer algo diferente se estivéssemos no Brasil, mas eu me culpava mesmo assim.

Encontramos nossa casa atual e nos mudamos. Alugamos um carro pra fazer a mudança e pra passar natal e ano novo, assim poderíamos passear e eu sairia daquela fossa. Mas não. O Diego ficou doente e o máximo que o carro foi usado foi pra ele ir na emergência. Ok, nós demos umas passeadinhas, mas o Diego doente fica num mau humor absurdo e hoje eu me sinto culpada (pra variar) por esperar que ele tivesse feliz e sorrindo mesmo com febre (eu nunca tinha ficado doente na minha vida antes, mas claro que aqui já fiquei, então pude sentir na pele como é, sempre achei que fosse frescura de homem - Não é!).

Como que aquele ano que tinha sido tão intenso e feliz poderia estar acabando de uma forma tão desagradável? Mas ele finalmente acabou, ufa. Com o início do novo ano as coisas começaram a dar uma engrenada. Devagarinho. Os meninos tinham que começar a escola, tínhamos que providenciar documentação, exames médicos, carteitinha de vacinação traduzida e isso foi me tirando daquela nóia. O foco agora era a adaptação deles na escola e só durou dois dias, pois eles se adaptaram muito mais rápido do que eu esperava.

Levávamos eles na escola de Uber e eu os buscava a pé. Sem problemas dos outros pra resolver, eu era obrigada a olhar pra mim. Eu tinha um longo tempo sozinha em casa com a Fofinha. E agora? Chorei muito sozinha em casa. Eu fiquei totalmente perdida, sem saber quem eu era. A única coisa que eu tinha pra fazer era serviço "de casa", que convenhamos, sempre tem e é um pé no saco. Fui fuçando no facebook, encontrei uma brasileira na mesma situação que me indicou uns grupos de facebook de brasileiras aqui na região e o grupo de conversação na biblioteca.

Comecei a escrever esse blog como forma de ocupar meu tempo e organizar as idéias. Decidi ir na conversação e me senti super importante por andar de ônibus sozinha, hahahahahah. Logo compramos o carro, fiz a carteira de motorista e me senti livre de verdade, já que amo dirigir. Coloco o destino no google maps e vou ser feliz. Com o carro na mão, comecei a ir nos playdates me encontrar com as brasileiras, depois comecei a ir num happy hour de gringos que querem aprender português (que tem mais brasileiros que gringos :oP), happy hour de mamães brasileiras, enfim, fazer amizades. Aquele pacote cheio de lego que estava uma bagunça já está separado por cores e a boa parte da nova casinha já está montada.

Estou fazendo terapia e claro que tem muitas questões pra serem trabalhadas ainda, vou ter que olhar cada cor de peça. Tem muitas peças que não sei onde devem ser encaixadas ou SE elas ainda devem ser encaixadas. Tem peças de cores que só tem aqui e que já fazem parte da minha nova construção. Tem um monte de peças que não servem mais e vão pro lixo, com toda certeza. Muitas já foram. A cor referente ao lado profissional? Bom, preciso pensar sobre ela pra saber o que fazer quando eu tiver autorização pra trabalhar. Ser dona de casa e dependente do marido? Putz, essas peças ainda estão uma zona, mas vai rolar um post inteirinho sobre esse assunto.

O tempo passou e já tem quase seis meses que estamos aqui. Se estou feliz aqui? Sim, hoje tenho certeza que estou. Foi difícil? Foi, muito! Agradeço a cada amigo que me aturou super depressiva no whatsapp nos primeiros meses e a cada nova amiga que me ajudou a sair do chororô. Não foi fácil. Mas está valendo a pena e hoje já tenho certeza que faria tudo de novo e de novo... não tem bem material que equivalha a essa experiência. Só agradeço. :)

quarta-feira, 17 de maio de 2017

Viagem da Fofinha

Lá em 2014 nós adotamos a Fofinha. O Pablo vinha pedindo um cão pequenininho e peludinho já tinha um tempo. Tinham abandonado um cãozinho no sítio do meu sogro, que ele tinha levado no pet shop pra dar um banho e o cão estava na casa dele. Eu bem o conheço, sabia que logo ele iria se desfazer do cãozinho. Ela era tão querida. Levei na nossa casa, como quem não quer nada, pra ver como o Diego reagiria. Não lembro como aconteceu, mas ela foi ficando. O Pablo nem deu mais bola pra ela, mas o Lipe de apegou de uma maneira... Mas não podemos negar, todos gostamos dela. 

Ela é uma pentelha, incomoda, afinal, é um cachorro. Mas é parte da nossa família. Sou sim mãe de um cão. Ela é uma figurinha, se deita de barriga pra cima pra ganhar carinho de qualquer um que passe perto dela. Sobe na minha cama, mas quando escuta o Diego chegar desce, porque sabe que vai levar bronca. Mentira, ela já perdeu o medo do Diego faz tempo! E sendo parte da nossa família, óbvio que ela teria que vir.

Claro que ouvimos várias pessoas dizerem que cachorro é tudo igual, que era só comprar um cachorro aqui e blá blá blá. Mas não. Além do amor do Lipe por ela, ela é ela. Ela é única. É dela que gostamos. Não é assim que funciona, compra outro que tá tudo resolvido. Mas então fui buscar informação pra traze-la.

Primeiro de tudo perguntei pra uma amiga que mora no Texas que já tinha trazido o cão dela. Ela me indicou uma empresa chamada Carga Viva. Fiz o orçamento e era o preço do meu fígado. Mais de R$5.000,00 pra trazer um cachorro???  Pqp.. comecei a pesquisar mais, outras maneiras de trazer e outras empresas. Ela poderia vir com a gente como bagagem, mas eu achei que dois filhos, um monte de mala e mais um cachorro pra dar conta não seria fácil. Sairia mais barato, claro, mas seria infinitamente mais estressante.

As outras empresas não pareciam saber o que estavam fazendo, não me passavam confiança e os orçamentos eram meio estranhos. Então, quando soubemos que as nossas passagens seriam pagas pela empresa, deu uma folguinha e voltei a conversar com a Carga Viva.

Eles fazem tudo. O cão só precisa estar com as vacinas em dia. Aliás, a da raiva é a única que eles exigem pra entrar aqui. Tirei as medidas da Fofinha umas 10 vezes e mandei pra eles. Mandei a carteirinha de vacinação dela pelo correio, junto com um atestado da veterinária dela de que ela estava bem.


Me mandaram a caixa. Um dia antes de embarcarmos o Diego deixou a Fofinha, a caixa e os documentos necessários com o vocalista da Dbregas que morava perto do aeroporto em Floripa. Na terça feira ela foi deixada no aeroporto em Floripa. Ela ficou num pet hotel em Guarulhos enquanto a empresa providenciava os últimos atestados.

Na quarta feira ela embarcaria em Guarulhos. E então a Carga Viva me liga dizendo que a cia aérea não estava aceitando a caixa dela e que eu precisava depositar R$640,00 pela caixa correta. Minha cachorra lá, longe de mim, o que eu ia fazer??? Sozinha em São Paulo! Depositei correndo. Na hora nem questionei o fato de eles terem me mandado a caixa errada.

O segundo vôo dela era pela United Airlines pra Houston, um aeroporto que tem tratamento pra pet, onde teoricamente eles são cuidados entre os vôos, onde as caixas são limpas e eles são alimentados. Teoricamente, eu teria acesso em tempo real pra ver onde ela estava. Teoricamente.

O coração já estava na mão por causa da viagem dela. Pensar na pobrezinha no bagageiro do avião, sozinha, sem entender, sem a gente, devia doer o ouvido, sei lá. E não pode dar remedio pra sedar, pois com a turbulência o animal pode se machucar se estiver sedado. Ok. O sistema da United Cargo estava fora do ar. Liguei pra Carga Viva, perguntei o que eu deveria fazer. Me orientaram a busca-la no horário combinado.

Quinta feira, onze horas da noite, um horário maravilhoso pra andar com criança dormindo de Uber (ironia mode On), eu estava lá, pra retirar a Fofinha no balcão de cargas. E o moço super simpático (de verdade) e com cara de assustado me diz: "Não, não veio nenhuma carga viva nesse vôo".

Ótimo! Ainda bem que as crianças estão dormindo e não vão se desesperar, já basta eu desesperada aqui. Então o moço querido telefona pra uma galera, até que dizem pra ele que nenhuma carga foi despachada naquele dia porque o sistema estava fora e que ela estava em Houston. Ok. Respira fuuuuundo. Em Houston tem tratamento especial pra pet.. ela deve estar assustada, mas tá alimentada e limpa. Volta pra casa. Paga uber pra voltar. Crianças dormindo no colo. Até que é melhor que o cachorro não esteja aqui, como a gente ia levar todo mundo???

No dia seguinte fomos busca-la de novo. Dessa vez ela estava lá. Tentei fazer um vídeo, mas a emoção era tão grande que no vídeo só tem chão, kakakakakakkaka. Que alívio receber ela, que alegria. Não sei quem tava mais feliz, eu, ela, o Lipe ou o Pablo.. o vídeo tá guardado.. porque dá pra sentir a emoção no áudio. Foi muito bom estar com ela de novo. Família completa. :)

Sobre a empresa Carga Viva, tive que insistir um pouco pra receber o reembolso de R$550,00 da primeira caixa que foi enviada, já que a caixa ficou com eles e estava nova (além de eu ter medido conforme orientação e eles terem me mandado aquela caixa). Também fiquei bem chateada com o tratamento com relação ao sistema fora. Eu perguntei o que deveria fazer. Eles não entraram em contato com a cia aérea pra ver se estava tudo OK. Espero não precisar do serviço deles de novo. Mas ainda assim, acho que de maneira geral, foram bons. Se realmente eu precisar novamente, vou procurá-los.

Sobre a United Cargo fiquei chateada por não terem avisado que a "carga" não seria despachada e principalmente, a Fofinha estava morrendo de fome e sede quando a pegamos.. me parece que ela ficou em Houston e não foi devidamente tratada. Mas ela está comigo e é isso que importa agora.

Sinceramente, espero não precisar transportá-la novamente, foi muito angustiante e mesmo eu tendo contratado uma empresa pra fazer o serviço, acabei me incomodando.

Fofinha com a gente, e agora? Como faz pra levar pra casa? Nem todo motorista de Uber aceita animais. Eu precisaria mandar mensagem pra avisar que tinha um pet e o motorista poderia cancelar a corrida caso não concordasse em levar animal. Fui mandar mensagem e o aplicativo não reconhecia o número, pois meu uber tava cadastrado ainda com o número do brasil, afe maria.

Sorte que tinha um motorista de Uber parado bem na frente do aeroporto e acabou nos trazendo "por fora". Nem usei o aplicativo. Todo mundo saiu ganhando. Eu paguei mais barato e ainda assim ele ganhou mais, pois não precisou dar a porcentagem do uber. Ainda viemos conversando no caminho sobre a viagem da Fofinha, a tragédia da chapecoense e mudanças.. :)

quarta-feira, 10 de maio de 2017

Chegada..

Dia 3 de dezembro pisamos em solo americano. Passamos na imigração. Eu morria de medo de eles nos barrarem na imigração, mas o cara que nos atendeu foi simpático. Depois passamos por outro lugar e lembro que o cara olhava o passaporte do Pablo, olhava o Felipe e chamava o Felipe de Pablo, ou vice versa, não lembro exatamente de quem era o passaporte e quem era o confundido, heheheheheh. Mas daí falamos, não, esse é o outro. Ele olhou que tinha outro rodopiando ali perto e abriu um sorriso e disse algo do tipo: "nossa, eles são muito parecidos". Confesso que aquele sorriso me deu uma paz gigante, porque eu estava com medo, sei lá, talvez por causa daquele filme "o terminal" que o Tom Hanks fica morando no aeroporto por meses.

Passamos dessa segunda parte e a diferença entre chegada do vôo do Brasil e o vôo do Texas pra San José era de apenas duas horas. Já tínhamos certeza que perderíamos o vôo. Mas então chegou um carrinho e um carinha também simpático perguntando que horas era nosso vôo e qual o nosso portão, respondemos e ganhamos uma carona. Deu tempo, ufa!!!! Nesse vôo sobrevoamos o Grand Canyon e lembro de sentir muita emoção. Um pouco de medo também. Os meninos estavam dormindo, cansados da viagem, tinha pouca gente no avião e eu ficava trocando de poltrona pra olhar tudo, bem turista, kakakakakakka.

Descemos em San José. E agora? O mau humor se instalou. Chegamos de manhã e só poderíamos entrar no nosso airbnb as 4 da tarde. Era frio, estávamos cansados. Seis malas, golias, ursinho, trompete... Trompete cai do carrinho, Diego bufa. Não adianta pegar um taxi, não podemos entrar no Airbnb ainda. Telefone não funciona pra usar o maps. Vamos alugar um carro, ok. O aluguel de carro ficava do ooooooutro lado do aeroporto. Começou a bater um desespero. Meninos cansados, nós também, aquela parafernalha pra carregar pra cima e pra baixo, eu só agradecia por não ter trazido o cachorro junto no mesmo voo.

Ficamos mais de uma hora reclamando da vida, sem tomar a decisão de alugar a porra do carro. Os meninos com fome, de saco cheio de esperar. Eu e o Diego com aquele ódio um pelo outro. Não sei exatamente o que estava acontecendo ali, mas foi tenso. Naquela época e nos meses iniciais eu não tomava iniciativa pra nada, como se o Diego estivesse mais preparado do que eu pra fazer tudo, então eu largava tudo no ombro dele. Passados mais uns minutos de climão, finalmente o Diego resolveu ir lá e alugar o carro.

Passamos num Mc Donalds pra comer qualquer coisa, mas ainda era cedo e só serviam o café da manhã. Foi interessante comer um sanduiche de panqueca com bacon, mas não tinha nada que o Lipe comesse. O pobrezinho foi sobrevivendo de bolacha que eu tinha levado na bolsa, afinal, conheço o meu filho e sabia que a alimentação dele seria um problema. Enfim, dali fomos direto a um shopping comprar chip pros nossos celulares. Não lembro o que fizemos além disso. Mas as quatro da tarde estávamos na nossa casa provisória. No dia seguinte compramos lego minicraft como prometido e o Xbox, pra suavizar a mudança pros meninos. Também fizemos nossa primeira compra no mercado e a nossa nova vida começou a começar. :)

quarta-feira, 3 de maio de 2017

O Luto

O último post terminou de forma dramática, eu sei. Eu terminei o post com "adeus vida" e o título desse é "o luto". Parece exagero, mas se nós parássemos de tentar fingir que os sentimentos negativos não existem, a vida seria mais leve.

Você já assistiu o filme Divertidamente? Assisti inúmeras vezes com os meninos, especialmente por causa da mudança. Conversei muito com eles sobre deixar a tristeza fazer o trabalho dela. Não podemos expulsar a tristeza de nós e na maioria das vezes, quando deixamos ela fazer o trabalho dela, ela vai embora sozinha.

Se olharmos o significado da palavra Luto no dicionário ela trata apenas do sentido que conhecemos, que é a tristeza profunda pela morte de um ente querido. Mas eu acredito no luto de outra forma, talvez pelo fato de eu ter feito muita terapia na vida, eu acredite no luto como a tristeza profunda pela morte de quem você era. Você pode viver um luto porque era casada e agora se separou. Você pode viver um luto porque era uma aluna de universidade e agora é uma profissional. Quando você passa a ser mãe e a mulher que existia antes morre. Eu acredito no luto de várias maneiras.

A Carolina do Brasil morreu. Mesmo que eu volte pro Brasil, aquela Carolina não existe mais. Eu simplesmente não tenho como voltar a ter exatamente a vida que eu tinha lá considerando as experiências que eu vivi até agora. No meio do meu luto, duas pessoas queridas compartilharam um texto comigo. Esse texto falava que quando ele saiu do Brasil, ele morreu e no texto dele, ele inclui várias coisas que o fizeram se sentir assim.

O texto dele está disponível no link, mas eu quero contar do meu luto. Quero contar porque aquela Carolina morreu. Tudo começou com as despedidas. Assim como quando uma pessoa morre, onde as pessoas dão um jeito de se despedir (com o ritual velório-sepultamento/cremação ou seja lá qual a escolha de cada um, um dia conto a minha). Como eu tinha data pra viajar, várias pessoas que nunca tinham tempo pra tomar aquele café e bater um papo, arrumaram um tempo para se despedir.

No Brasil eu era a filha do Dr. Eli, mãe do Lipe e do Pablo, a doula da Roda Luz, voluntária do gestar, a doula que ensina as grávidas sobre parto no posto de saúde, a mulher da Celesc, esposa do Cabron,  nora da Beta, filha da Divanita. Até o sobrenome tinha um peso nos espaços que eu pertencia.

No Brasil eu tinha meus projetos, tinha meus amigos, minha casa, minha rotina. No Brasil eu tinha meus restaurantes preferidos, tinha minha bebida preferida, mercado e cabeleireiro preferidos. No Brasil eu fazia a unha toda semana e entregava a Fofinha pro banho toda quarta feira. No Brasil eu sabia onde comprar roupa, material escolar e bolo de chocolate. No Brasil eu sabia pra quem doar as coisas que eu não iria mais usar, sabia em qual cinema ir e em qual parque ou praia levar os meninos em dia de sol (tudo bem que eu não ia nunca, mas sabia, hehehehe).

No Brasil eu dirigia pra onde eu quisesse, quando eu quisesse. Me sentia livre. No Brasil eu sabia o nome das coisas e sabia ir no mercado e passar o cartão, porque até isso aqui é diferente. Eu sabia qual o corte de carne deveria comprar e sabia qual comportamento era esperado em cada situação.

Pra piorar a transição tinha o facebook. Com todas aquelas comemorações lindas de natal, todo mundo reunido... Mas eu estava tão envolvida no meu sofrimento que não conseguia ser racional a ponto de entender que se eu tivesse no Brasil, não estaria fazendo absolutamente nada daquilo que estava nas fotos, porque eu simplesmente nunca comemorei o natal.

Minha prima me mandou uns florais pelo correio. Comecei a tomar e então a reagir. Encontrei alguns grupos de brasileiras no facebook e comecei a me movimentar. Pra lidar com meu luto precisei sair do facebook, do instagran e dos grupos de whatsapp. Simplesmente precisei. Precisei parar de ver a vida colorida acontecendo no calor brasileiro enquanto eu chorava no frio americano (em todos os sentidos).

Eu precisava aprender sobre absolutamente TUDO e eu não sei dizer exatamente o que me fazia chorar. Mas eu chorei e chorei por 30 dias seguidos. Um pouco mais, na verdade, bem mais... Não sei se eu chorava pela casinha de lego desmontada que ficou no Brasil ou por não saber por onde começar a montar a nova casinha aqui. Mas fui deixando a tristeza fazer o trabalho dela e o Brasil foi ficando pra trás. Quem eu era foi ficando pra trás pra trás e a nova Carolina começou a despertar.

A Carolina conseguiu jogar todas aquelas peças de lego no chão e começar a montar, uma a uma. Tirei carteira de motorista, fiz amizades, encontrei o melhor supermercado, o cabeleireiro, a manicuri, o pet shop da Fofinha e as pecinhas foram se encaixando. Agora, depois de tantos posts, vou começar a falar da experiência de viver por aqui.. :)