quarta-feira, 28 de junho de 2017

Ah, as surras..

Eu tenho mil coisas pra falar. Minha cabeça não pára de pensar em assuntos que eu gostaria de falar. Estou tentando escrever sem colocar dois ou três pontos, por sugestão do marido, que disse que fica chato de ler. Eu estava escrevendo no blog sem perguntar a opinião dele, pois sabia que ela alteraria meu jeito de escrever. Ninguém mandou perguntar, agora toma!!! Hahahahahahha.. não consigo, viu??? Pra eu escrever sendo espontânea, preciso dos dois ou três pontos. Na verdade, desde que ele falou, eu comecei a editar os posts, mas quando escrevo, escrevo com dois pontos. :D

Hoje quero falar de um assunto bem delicado: as tais surras! Contei o episódio do dentista pra várias pessoas e duas pessoas muito queridas fizeram comentários que me trouxeram a esse post. Uma amiga me perguntou": "e tu não teve vontade de dar umas surras?" e a outra pessoa me contou que quando os filhos não queriam escovar os dentes ele perguntava se as crianças queriam apanhar de chinelo de borracha ou de couro. Disse ainda que só precisou bater uma vez, que nas futuras era somente perguntar qual o chinelo que as crianças obedeciam.

Então. Não! Eu não tive vontade de dar umas surras e eu tenho um defeito, que na verdade é a minha maior virtude e eles se chamam empatia. Não sei como começou, mas desde que me lembro por gente, eu sempre me coloquei no lugar da outra pessoa. Eu não gostaria que fizessem isso comigo, então não faço contigo. Como eu me sentiria se tivesse passando pela situação x? Por que tal pessoa age dessa maneira? Que história de vida ela tem que a faz ter essa atitude? E eu ensino isso pros meus filhos desde sempre.

Não vou dizer que nunca bati nos meus filhos, sim, já bati. Talvez uma vez no Felipe e uma vez no Pablo. No máximo algum tapinha na mão, que doeu muito mais em mim do que neles, porque simplesmente eu não sabia outra forma de educar e oferecer limites. Não sabia. E aquilo me incomodava muito. Eu me sentia desesperada, pois não queria gritar ou bater nos meus filhos. Eles sempre foram muito queridos, foram raras as vezes que eu "precisaria" bater. Mas eu achava que eu era uma mãe "mole", que não sabia educar os filhos, que eu estava errada, sei lá, que bater era necessário pra criar "cidadãos de bem" e que talvez eu fosse uma incompetente por não conseguir "educar" meus filhos.

Até que um belo dia conheci os blogs Cientista que virou mãe e Paizinho, vírgula e vi que era possível educar sem violência e que isso era muito mais eficiente do que a maneira "convencional". Que a empatia é uma palavra mágica e que minha forma de educar estava certa (pelo menos eu tinha achado pessoas que pensavam como eu). Que os meus instintos estavam me mandando fazer a coisa certa. E então me libertei daquela sensação de ser uma mãe que não sabe educar os filhos e passei a me achar uma super mãe.

Então, considerando o episódio do dentista, eu não fiquei com vontade de dar uma surra no Pablo. Porque eu entendo que ele estava lá assistindo TV, com fone de ouvido e de repente sentiu uma picada na boca. Claro que ele ia achar que dali pra frente tudo ia doer e então ele fechou a boca, pra garantir que não fosse doer dali pra frente. Não posso esperar que uma criança de seis anos entenda que a cárie vai ser pior do que a anestesia, ou que vai custar muito dinheiro ou que a anestesia geral é muito perigosa. O que ele sabia naquele momento é que ele não queria sentir mais dor. Bastou eu me colocar na situação dele e ver como eu iria me sentir. Simples assim.

Sobre a palavra obedecer, a primeira definição que aparece no google é "submeter-se à vontade de (outrem)". Não, gente!!! Não quero que meus filhos se submetam a vontade de ninguém não, tampouco a minha. Eu quero que eles tenham vontade própria. Eu quero que eles questionem o que eu digo, o que eu peço e principalmente o que eu faço. Eu quero que meus filhos entendam o que está sendo proposto e porque aquela decisão ou atitude é importante. Não quero enfiar minha opinião goela abaixo.

E quero que eles levem isso pra vida toda. Que não aceitem o que é imposto porque tem que ser assim e deu. Ou porque todo mundo sempre fez assim, então deve estar certo. Eu ensino pra eles que pra tudo tem opção de escolha. Que algumas pessoas pensam de uma maneira e outras pensam diferente e que essa é a graça da vida.

E sobre a escolha de chinelos. Bom, eu não quero que meus filhos tenham medo de mim. Se eles tiverem medo de mim eu errei feio. Se eles tiverem medo de mim, o máximo que vai acontecer é eles fazerem as coisas erradas quando eu não estiver vendo. Não é isso que desejo. Medo é totalmente diferente de respeito. Quero que eles tenham em mim um porto seguro, pra voltar e pedir colo, independente do que eles tenham feito. Nós quatro nos respeitamos, a necessidade de todos é ouvida.

Lembrei agora de uma história. Quando eu tinha 9 anos de idade eu fui num passeio de dia das crianças pela escola. As professoras falaram "não subam nas árvores". Mas eu era uma macaquinha e amava subir em árvores. Subi numa goiabeira, me apoiei num galho seco e cai da árvore. Sentia que meu braço estava estranho, que doia quando eu tentava mexer. Mas fiquei quietinha até o final do passeio com MEDO da professora. Quando cheguei em casa, não aguentava da dor, me levaram no hospital. Eu tinha quebrado o braço. Ok, mas o que eu quero dizer com essa história é que eu tinha MEDO da professora, então, fazendo escondida, tava tudo beleza. O que eu falaria pra uma criança de nove anos? "Eu sei que é super legal subir em árvores, mas você pode cair e se machucar. Não faça isso sem um adulto por perto, ok?"

Aqui em casa funciona. Talvez porque desde pequeneninhos eles foram educados dessa forma. Sempre expliquei o porque das coisas e nunca usei o medo pra conseguir que eles fizessem o que precisava ser feito. Ah, e principalmente empatia, empatia, empatia. Eles são crianças. O que uma criança de tal idade pode realmente fazer? O que se espera que uma criança de tal idade faça? Como uma criança de tal idade se sente?

Tudo isso é tão simples, tão óbvio e tão mais fácil de resolver do que através de violência (seja física ou verbal), basta um pouquinho de paciência, tempo e desejo de ouvir as necessidades dos nossos filhos. Talvez estejamos esperando que nossos filhos sejam mini adultos, será que não? Pensa nisso!

quarta-feira, 21 de junho de 2017

A saga do dentista..

Acho que já falei isso antes, mas aqui o correio é realmente levado a sério e por isso eu olho a caixa de correio todos os dias, afinal, as coisas importantes sempre chegam no correio. Então um belo dia chegou uma carta do distrito escolar, dizendo que novos alunos precisam passar no médico pra um check up e no dentista. Ok, eles já tinham ido ao médico (estou devendo um post sobre isso) e a papelada já estava preenchida. Só faltava o dentista, Ok, temos plano que cobre uma visita, já aproveitamos pra fazer uma limpeza e claro, eu estava curiosa pra saber como funcionavam as coisas por aqui.

Marquei numa clínica especializada em crianças, os dois juntos. A sala de espera tem um telão passando filme e várias telinhas com filme, cartoon network e outras coisas, tudo colorido e bem legal pra crianças. Como aqui eles adoram formulários, ganhei umas cinco folhas pra preencher de cada um, basicamente com informações de saúde e últimas visitas ao dentista. Fomos chamados e a primeira surpresa foi ver as várias cadeiras roxas, uma ao lado da outra, bem diferente do Brasil. Ah, e também não tinha cuspideira.

Pesaram os meninos (sim, pesaram no dentista) e foram direto tirar raio x. Depois da radiografia, eles sentaram na cadeira e foi feita a limpeza e retirada do tártaro, fio dental e flúor. Check!!! Enquanto um fazia isso, o outro jogava videogame. Também tinham TV's dentro desse consultório pra distrair as crianças. A pessoa que estava fazendo todo esse trabalho sempre super querida e sempre elogiando os meninos. O Pablo com mais tártaro que o Lipe, mas até então tudo OK. Então notei que aquela pessoa super simpática era apenas assistente de dentista, diferente do Brasil também, onde quem faz tudo é o dentista.

Terminada a limpeza, chega a dentista pra ver os meus dois e mais outro menino que estava esperando em outra cadeira. Ela tirou o tártaro restante do Pablo e ouvi a palavra "cavity" (cárie). Meu inglês ainda está difícil e quando as pessoas desandam a falar, eu me perco. Mas eu ouvi ela falar cavity e ouvi ela falar four cavities e ouvi ela falar em adult tooth (dente permanente).

Dali pra frente já não conseguia mais atinar nada, fui obrigada a chamar o Diego pra conversar com a dentista, porque eu já tava me sentindo totalmente "menas main". No fim nem dei mais atenção pro pobrezinho do Lipe, que graças ao bom DNA do pai dele, não tinha nenhuma cárie (afinal, ele se alimenta mil vezes pior que o Pablo e come muito mais açúcar). Então fomos embora, com um certificado de "sem cáries" do Lipe e a data do tratamento do Pablo marcada. Dali 15 dias.

Me senti um lixo de mãe. Por que não briguei o suficiente com ele pra escovar os dentes?? Por que não escovei eu mesma mais vezes?? Eu sabia que seria utilizado um gás pra tranquiliza-lo e que se fosse necessário, seria usado algo pra conter os movimentos dele. Isso estava me matando, fazendo picadinho de mim. E detalhe: eu tenho pavoooor de dentista, eu não sabia o que era pior na minha cabeça. Por uma sorte do destino, pra acabar de uma vez com meu sofrimento, ligaram adiantando em uma semana o tratamento. Ufa, vai acabar logo.

Não dormi direito aquela noite e ele tinha que fazer jejum de duas horas. Então fiquei cuidando dele pra não comer nem tomar água antes do tratamento. Então na hora de ir ele começou a chorar dizendo que não iria no dentista. Conversando, ameaçando deixar sem videogame, conversando de novo (as vezes não dou conta da disciplina positiva), ele foi. Chegando lá, me explicaram certinho o que seria feito, me mostraram as cáries na radiografia que estava no sistema do computador, onde seriam as restaurações e tudo bem certinho.

Eu não deveria entrar, mas ele não fala muito inglês ainda e eu pedi pra entrar (na verdade eu estava era com pavor de deixar ele sozinho lá dentro, pensando mil besteiras que nem vou comentar aqui). Então tiraram fotos das cáries pra mandar pro plano de saúde e ofereceram três cheirinhos pra ele escolher, morango, chiclete e laranja. Era o que ficaria no nariz dele com o gás.. Ele escolheu o de morango e colocaram o gás. A TV no teto, fone de ouvido, tudo certinho, tudo lindo, vamo que vamo. A dentista deu a anestesia e ele começou a chorar, chorar, chorar... Fechou a boca, fechou a boca com força. conversei, a assistente conversou, a dentista conversou. Abracei, briguei... A dentista disse que não tinha como, que ele iria ter que fazer com anestesia geral e fez a carta encaminhando pro outro consultório.

Se eu já tava sem chão preocupada com o gás, imagina com anestesia geral?? Que eu sei que a gente morre e ressucita??? Meu filho, de seis anos??? É arriscado demais. Mas não podemos deixar essa cárie assim, ela vai piorar. Vai doer mais que a anestesia e a minha cabeça tava um turbilhão. Pensando nas mil merdas possíveis. O Diego estava demorando pra me buscar. Eu queria chorar, queria correr, queria fugir. O Pablo relutando que não iria a lugar nenhum e que nunca iria no dentista de novo. Até que o Diego finalmente chegou e eu contei o ocorrido.

"Uma semana sem videogame!!!!" E o Pablo começa a chorar de novo. Eu falei que ele não tinha culpa. O Diego já voltou atrás, conversou com ele. Alguém tinha que ser racional, porque eu só tinha vontade de chorar de medo da anestesia geral. Sei que o Diego conversou com o Pablo e ele topou fazer. Eu fiquei bem feliz, porque ele ainda tinha mais uma hora de anestesia. Vamos torcer pra dentista atender ele de novo.

Voltamos lá, a dentista falou que tinha toda a agenda preenchuda, mas que ia tentar. Daí veio o assistente, disse que ligou pra paciente das duas horas e tinha caido na caixa postal, então não podia me responder se daria pra atender o Pablo ou não. Falei que esperaríamos. Eu saí pra dar uma caminhada, porque eu tava enlouquecendo. Voltei, veio outra assistente e disse que a dentista iria atender, mas que como já tinha passado muito tempo, ele teria que tomar outra anestesia. Levei o Lipe pra comer algo e o Pablo ficou com o Diego.

Quando voltamos, eles já não estavam na sala de espera. Tentei olhar facebook, instagram, jogar qualquer coisa no celular, como se meu filho tivesse passando por uma cirurgia absurdamente complicada. Eram apenas algumas restaurações,  maaaaaassss eu tava pirando. Finalmente escutei a voz dele, conversando super feliz. A dentista veio e me disse que ele fez tudo bem certinho e não deu um piu. Disse que tem filhos e sabe que as crianças sabem muito bem com quem podem fazer o charme e com quem não podem. E eu fiquei com aquela cara de tacho.

Voltando pra casa, perguntei pro Pablo: "filho.. porque com a mãe tu fez aquele escândalo todo e com o pai tu não fez nada?" e a resposta direta dele foi: "porque eu já tinha feito!!!!" hahhahhahhahahhahahahha!!! Só pude rir, tipo, ele já tinha feito escândalo, não precisava fazer de novo. :P Filhos, filhos... Só tendo pra entender. 

Agora o Pablo tem coisinha prateada no dente, com seis anos de idade e a mãe tem ainda mais história pra contar. :) E não, não tive vontade de dar umas surras, como me perguntaram. Só consegui rir da situação e pensar num post sobre as tais "surras", já que duas pessoas me sugeriram isso quando contei a história.

quarta-feira, 14 de junho de 2017

Beep Beep.. Curiosidades do trânsito na Califórnia

A idéia, como sempre, era falar da carteira de motorista e das curiosidades do trânsito num único post. Mas eu falo demais, essa sou eu. :)

Como eu disse, eu reprovei no primeiro teste escrito e isso tem bastante relação com a diferença de regras. Apesar de muitas perguntas serem óbvias, tipo: Você está passando por um acidente, o que você deve fazer? a) Continuar seu caminho com cuidado; b) Reduzir a velocidade pra ver o que está acontecendo; c) sei lá o que eles colocaram aqui. Mas enfim, tem algumas que não são tão óbvias, como saber qual a pena caso de abandono de animal na estrada. Como o fato de ser permitido estacionar na pista das bicicletas.. oi!?

Enfim, vamos as curiosidades. Primeira coisa a acostumar, claro, aqui a distância é medida em milhas e não em quilômetros, então você precisa se habituar com as "novas velocidades". Meu primeiro comentário idiota aqui foi: "Que estranho, tu tá andando a 40 e parece que tá tão rápido.." (No coments sobre meu comentário, please).

Segunda coisa que aprendi: aqui você pode virar a direita mesmo que o sinal esteja vermelho (a não ser que tenha uma placa específica dizendo que você não pode). Você precisa ter muita atenção, pois o sinal do pedestre na rua que você está entrando pode estar aberto. 

Pedestres sempre tem preferência, mesmo que eles estejam atravessando fora da faixa (não é comum encontrar, pois tem bastante faixa de pedestre em todo canto). Ah, e as faixas na maioria das vezes não são listradas como  no Brasil. Alias, as vezes nem pintadas elas estão. Mas basta fazer menção que vai atravessar a rua e o motorista vai parar pra você passar. Nota: Não fique parado numa esquina, pois você vai acabar fazendo alguém de idiota, achando que você quer atravessar.

Os cruzamentos aqui são assustadores. Quando você vai virar pra esquerda, outros carros virão na sua direção. Mas esses carros também virarão pra esquerda e ninguém vai bater em ninguém.. mas levamos um susto na primeira vez. Normalmente nesses casos tem um sinal (semáforo) com a flecha pra esquerda.

O trânsito flui melhor assim. Leva um tempo pra acostumar, mas funciona muito bem. Ainda sobre virar a esquerda, se você estiver em uma via de mão dupla e quiser virar a esquerda, você terá que esperar as pessoas vindo na sua direção passarem, pois os sinais vão abrir juntos. No começo achei a maior loucura, achava que não seria seguro, especialmente o sinal de pedestre que abre junto com alguns outros sinais e também a situação de virar a direita, mas vivendo aqui esses meses, percebo que funciona muito bem, simplesmente porque todo mundo se respeita.

Claro que você leva uma buzinada se fizer coisa errada, mas as regras de trânsito são super respeitadas. É muito interessante de observar, por exemplo, se você estiver na calçada como pedestre e tiver um motorista que precisou avançar a calçada pra visualizar o trânsito, o motorista provavelmente irá dar ré pra te dar passagem pela calçada.

Outra coisa interessante são os crossing guards. Em frente a todas as escolas (pelo menos as Elementary), nos horários de entrada e saída terá um guarda, vestindo um colete refletor e uma placa de STOP. Eles sinalizam para os carros pararem, mesmo que tenha uma única pessoa pra atravessar. E quem não respeitar, leva um xingão, seja motorista ou pedestre. Aprendi isso como pedestre, não quis tirar ela da sombra só pra eu atravessar e ela brigou comigo, disse que é fiscalizada e que ela teria problemas se vissem que eu atravessei sem ela. 

As regras de trânsito são realmente, realmente, realmeeeente levadas a sério. Os ônibus escolares tem luzes diferentes pra cada situação. Se a luz vermelha estiver piscando, você não pode passar o ônibus, provavelmente porque uma criança vai atravessar a rua. Se for a luz amarela que estiver piscando, você pode passar, mas com atenção.

Se você estiver num cruzamento com STOP em todas as direções, quem tem a preferência é quem chegar primeiro. SIIIIMMM!!!! E as pessoas respeitam. Se chegaram ao mesmo tempo, a preferência é de quem está na direita, e siiiiimmm, as pessoas respeitam. E se tiver fila de carros em várias direções, vai um carro de cada fila. Simples assim, as pessoas respeitam, ninguém tenta se achar o gostoso e passar na frente de quem chegou primeiro, as regras de trânsito existem e simplesmente são seguidas.

Ah, e claro, o famoso look over your shoulders, quando você trocar de pista você DEVE olhar por cima dos seus ombros além de olhar os espelhos. Há quinze anos, quando fiz minha carteira, fui ensinada a utilizar somente os espelhos retrovisores e jamais me virar pra olhar pra trás, inclusive fazer balisa e qualquer tipo de ré. Me ensinaram que um bom motorista teria que saber dirigir utilizando somente os retrovisores, pois bem, aqui você pre-ci-sa olhar por cima dos ombros pra verificar o ponto cego, o que sinceramente, demorei a me acostumar, mas hoje não vivo sem. Esqueci algumas vezes durante o teste de motorista e achei que seria reprovada por isso, mas não fui, ufa.

Ah, e uma coisa chata, nunca, nunquinha assuma que um motorista vai dar uma "aliviada" pra você trocar de pista ou entrar na pista. Essa é a única parte que eu acho chata, os motoristas não aliviam (e também não esperam que você alivie). Hoje ainda levei um susto, o carro na nossa frente parou pra virar a esquerda e fiquei olhando no retrovisor sem respirar, com medo de que alguém batesse na nossa traseira, mas todos trocaram de pista super tranquilos, sem reduzir a velocidade.

Bom, acho que é isso que eu tinha pra falar sobre o trânsito, escrevendo esse post fui me lembrando do que eu tanto queria. Eu queria viver outra cultura e acho que eu queria mesmo mesmo, era ter história pra contar.. :)

quarta-feira, 7 de junho de 2017

Beep Beep.. Carteira de motorista na California :)

E hoje finalmente passei no "behind the wheels test". Finalmente porque fazem três meses que estamos aqui (apesar de o post estar programado pra ser publicado em junho) e só agora tenho liberdade pra dirigir.

Alugamos três carros desde que chegamos, um na chegada no aeroporto, um pra passar natal e ano novo (no fim ficou praticamente estacionado na garagem todo o tempo porque o Diego ficou doente) e um pro feriado de Martin Luther King. Final de janeiro finalmente compramos o nosso. Foi mais fácil do que esperávamos, ainda estou com medo de descobrir que fizemos algo errado. Mesmo sendo um carro zero e não tendo crédito (um dia explico essa história de crédito por aqui), conseguimos um bom financiamento, com entrada baixa e parcelas baixas. As taxas de juros pra quem não tem crédito são mais altas do que pra quem já tem crédito, mas ainda assim, mais baixas que no Brasil, sem contar que o valor do carro é bem mais acessível.

Todas as vezes que alugamos carros, o Diego ficou como motorista principal, então não pude dirigir, pois meu nome não estava no seguro. Quando compramos o nosso, o Diego também não tinha licença da California, então o seguro ficou super caro. Se colocasse o meu nome junto, ia ficar caríssimo.  Aqui você precisa provar que pode arcar com as despesas em um possível acidente. O seguro mais simples aqui envolve somente danos a terceiros, seu carro que se exploda. O que importa é que você não cause prejuizos a outras pessoas. E você paga o seguro por pessoa que dirige o veículo. Não sei como fica se você emprestar seu carro, mas enfim, optamos por enrolar mais um pouco só ele dirigindo.

Como eu ando medrosa, ele fez a carteira de motorista primeiro, pra me contar como era.. Ele precisou passar no oftalmologista porque tem um problema de visão e o teste de voltante dele foi mais demorado, também por causa do problema no olho esquerdo. Ele já tinha feito o teste escrito e disse que era tranquilo e confiando nisso, fui fazer o teste sem estudar.

Pra fazer o teste escrito têm vários computadores com touch screen que você usa pra responder as perguntas em pé mesmo, sem ninguém te olhando. Você coloca o polegar no identificador e te vira. Você pode errar cinco questões, se não me engano. Você pode pular questões, mas vai ter que respondê-las no final. No final aparece a mensagem dizendo se você passou ou não.

Como eu reprovei na primeira tentativa, estudei todo o livro do código de trânsito da Califórnia e fiz os simulados disponíveis no próprio site do DMV várias vezes. Você tem a opção e fazer o teste na sua língua nativa, mas eu descobri depois que já tinha estudado o livro inteiro em Inglês. Bom, dessa vez eu passei. :)

De maneira geral, todos os funcionários do DMV (Equivalente ao Detran no Brasil) são super simpáticos e felizes trabalhando. As filas são imensas, mas eles sempre te atendem bem. Enquanto eu esperava pra marcar o teste de volante, um atendente velhinho super simpático saiu pra tomar café, na mesma velocidade que o Flecha (foto). Ri muito internamente lembrando do filme, porque ele é realmente um querido, mas andava de bengalinha bem de-va-gar.

 Na hora de marcar o teste, a moça me perguntou se eu tive carteira de motorista antes e eu respondi que não. Na minha cabeça, ela perguntou se eu tive carteira de motorista nos EUA, mas enfim, diante da minha resposta, ela colou um adesivo gigante na minha carteira provisória dizendo que eu só poderia dirigir com algum motorista habilitado, ou seja, eu só poderia dirigir com o Diego do meu lado. Se eu tivesse mencionado minha carteira no Brasil, eu poderia dirigir sozinha, pois provaria que eu já sabia dirigir.

Enfim, marquei o teste pra três semanas depois, pois queria treinar. Dirigi por 15 anos no Brasil, as regras mudam um pouco/bastante e eu também precisava me acostumar com o carro automático (sempre achei que a emoção maior de dirigir era passar a marcha, mas aqui carro com câmbio manual é raridade).

Treinei muito pouco. O fato de o Diego ter que estar do lado limitou meus treinos aos finais de semana.. Chegamos no DMV na hora marcada (Diego junto, pois eu precisava sempre de um motorista licenciado junto comigo) e ficamos uma hora na fila esperando pra fazer o teste.

Quando chegou minha vez, a avaliadora disse que o Diego deveria sair e conferiu comigo os itens de segurança no carro. Seta pra direita, seta pra esquerda, pisca-alerta, luz de freio, farol, buzina, limpador de parabrisas, farol e desembaçador. Também precisei fazer os sinais com a mão, pra direita, esquerda e parar.

Então ela entrou no carro e fomos "passear". O teste durou apenas 15 minutos, o trajeto era curto. Passamos por área residencial, escolas, faixas de pedestres, pedestres fora da faixa, cruzamentos, virei pra esquerda, virei pra direita, dei ré. Ela ia anotando e rabiscando o papel. Engraçado, faço isso há quinze anos, amo dirigir, mas ser avaliada me dava um baita frio na barriga. Ter reprovado na primeira tentativa do teste escrito me deixou apreensiva também. Quando estacionei e ela disse que fui aprovada, nossa, deu um alívio imenso (vamos desconsiderar que eu poderia cometer 15 erros leves e eu cometi 14, mas basicamente os erros eram por andar muito devagar e ser cautelosa demais nos cruzamentos e faixas de pedestres, acreditem). Finalmente posso dirigir, volto a ter a liberdade que tanto gosto, ir onde quero, na hora que quero, não depender de uber/lyft ou marido. Ufa..