quarta-feira, 5 de fevereiro de 2020

Voltando a escrever, contando sobre as experiências vividas...

Faz dois anos que escrevi pela última vez no blog. Nesses dois anos TANTA água passou por baixo da ponte. Tanta vida foi vivida, que eu nem sei por onde começar. Tenho tanta coisa pra contar, tanta coisa que eu aprendi, tanta coisa que senti. Se fosse resumir em uma palavra, eu diria que foi INTENSO.

Eu reli alguns dos posts e não sei se consigo escrever com a mesma leveza. Talvez seja a falta de vitamina D ou talvez tenham sido as experiências vividas. Um tempo depois de todo o deslumbramento com a vida na California, algumas coisas começaram a acontecer pra nos mostrar que talvez lá não fosse o nosso lugar. Eu não tinha permissão de trabalho, o visto de turista pra minha mãe e meus cunhados foi negado, assim, sem nenhuma explicação, eles julgaram que minha família era uma ameaça ao país e não permitiram que nos visitassem. Nosso tipo de visto estava sempre nas notícias, como sendo um vilão, que tirava emprego dos americanos e o governo estava fazendo o possível pra dificultar a renovação.

Junto disso, o Diego começou a sentir que as coisas estavam ficando estranhas na empresa e parecia que talvez pedir transferência pra Dublin fosse uma boa opção. Comecei a pesquisar sobre Dublin, mas não conversávamos muito claramente sobre. Eu sabia que em Dublin eu teria permissão de trabalho e que de maneira geral são mais abertos a imigrantes. Eu me preocupava um pouco com o clima, afinal, eu sabia que seria cinza, e eu sempre fiquei jururu nos dias cinzas, antes mesmo de abrir a cortina pra ver que estava cinza. Mas como eu estava morando na California e praticamente nunca chovia, quando chovia, eu ficava feliz, então achei que o clima não seria um problema.

Mas uma coisa me incomodava bastante. Eram as escolas católicas. Nós não temos religião e tudo que eu pesquisava sobre religião nas escolas era assustador. O que eu encontrava na internet eram pessoas furiosas porque seus filhos tinham que "engolir" o catolicismo nas escolas e que não tinham suas crenças respeitadas. E por isso, descartamos a ideia de mudar pra Dublin.

Um dia acordei meio banza e como sempre, tava olhando o instagram. Tinha um post dizendo "o que você faria se não tivesse medo?". Eu ainda estava em modo zumbi, o racional ainda desligado e dentro de mim, talvez até tenha falado alto e não percebi, mas respondi "Iria pra Dublin".

Demorei uns dias pra conversar com o Diego a respeito. Mas lembro muito bem de estarmos deitados conversando, e eu perguntava o que ele queria fazer e ele não queria falar antes de eu falar. E ficamos nessa, fala tu primeiro, não, fala tu.. até que falei, "eu quero ir pra Dublin". E ele disse, "Eu também, mas tava com medo de te falar, porque tenho medo de tu ficar mal como ficou quando fomos pra California."

Quando fui pra California eu fiquei MUITO mal. Eu acho que devo ter entrado em depressão, mas nunca fui diagnosticada, porque nunca fui ao médico falar a respeito, me resolvi com psicoterapia. Resolvi mais ou menos, porque as crises de ansiedade não me largam desde então.

Enfim, o Diego estava com medo de uma nova mudança provocar tudo aquilo de novo em mim. Expliquei que o contexto era completamente diferente e decidimos que ele iria pedir transferência. 

Entre a gente decidir, ele pedir, a empresa responder que sim, a empresa entrar com o processo, o visto ser aprovado e nós mudarmos pra Dublin foram 8 meses. Oito meses de muita pesquisa, oito meses que aproveitamos cada milímetro que foi possível da California. Muito pôr do sol, muitos passeios, muito voluntariado, muitos playdates, muitos castelos na areia...

E então chegou a hora de desmontar a casinha de lego de novo.. decidir o que iria pra Dublin e o que ficaria na California. Mas dessa vez foi TÃO diferente. Foi leve, foi fácil.. Tudo que eu conquistei na California, tudo que aprendi, era algo que não dava de colocar na mala. Estava comigo, e ninguém poderia tirar. Dia 25 de março de 2019 encerrou nosso ciclo California Dreams.

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