quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

Sobre escolhas...

O Pablo e o Lipe adoram assistir Youtubers que ficam jogando jogos e aquela coisa que quase toda criança de hoje gosta. Como observamos que o Pablo estava nos tratando de forma bem rude, tentei dar uma mudada de ares (quando escrevi o texto eles estavam nas intermináveis férias de verão e não controlo muito o tempo de telas nas férias). Procurei um desenho fofo no Netflix (indicado pelo Paizinho, vírgula) e ele assistiu vários episódios.

No dia seguinte, antes que ele tivesse tempo de lembrar dos Youtubers que não trazem nada de bom, eu falei pra ele continuar vendo aqueles desenhos fofos que ele amou. O problema é que eram só 10 episódios e ele não queria ver de novo. Então ele passou uma meia hora tentando escolher uma nova série pra assistir e não conseguiu escolher. Foi pro Xbox pra escolher um jogo, mas também tinham muitas opções, ele desistiu. Mas ele acabou assistindo aqueles Youtubers inúteis (pelo menos os que falam palavrão eu consegui argumentar que ele não deve assistir).

Mas o que eu queria falar agora não tem nada a ver com Youtubers, tempo de tela ou culpa de mãe. É sobre escolhas e como as coisas mudaram MUITO nos últimos anos. Vamos pensar em televisão, só pra começar. Quando eu tinha a idade do Pablo, na minha casa tinha uma TV daquelas com botãozinho de girar, com 12 opções, mas o único canal que pegava em Tijucas era a Globo. Desenhos eram só no Xou da Xuxa e eu só tinha oportunidade de assistir quando ficava doente ou nas férias, já que eu estudava de manhã.

Como éramos privilegiados, logo tivemos antena parabólica, então eu tinha a opção do SBT, da Globo e da Cultura. Uaaaaauuu.. Mas os desenhos continuavam sendo só pela manhã, então eu raramente tinha oportunidade de assistir. E quando tinha, era o que apresentavam e pronto, sem escolhas.

Em 1997, instalamos a Sky, daí era muita opção. Tinha canal de notícias, canal de filmes, canal de desenhos... Era só ligar a TV e tava alí, prontinho pra ti assistir. A gente pegava o filme pela metade, outro dia via o começo, mas assim a gente vivia. Com "várias" opções pra escolher. Hahahahahahahaha...

Desde 2013 nós só usamos Netflix. Tivemos Oi TV, mas nunca usávamos. Quando nos mudamos pra cá, também tivemos alguma TV por assinatura porque vinha no pacote, mas nunca assistimos. Agora mudamos pra Hermosa e garantimos que não viria nada escondido no pacote, pois seria dinheiro jogado fora. O problema é que diante de tantas opções, eu tenho a maior dificuldade de escolher. Se não for indicação de um amigo ou sugestão do próprio Netflix, eu nunca sei o que escolher. É muita opção.

Uma vez vi uma pesquisa sobre escolhas, era um documentário, que infelizmente não sei o nome e nem onde assisti, mas provavelmente foi no Netflix (pra variar). O documentário mostrava que quando temos muitas opções, temos dificuldades pra decidir. Quando temos só duas ou três opções, escolhemos com maior facilidade, mas sempre achamos que escolhemos errado. Quando alguém escolhe pra gente, temos tendência a gostar da escolha.

Eu não gosto que me deem dinheiro de presente. Eu gosto quando as pessoas escolhem algo pensando em mim. Eu não sei comprar roupas pros meus filhos, por 9 anos eu dei o dinheiro pra minha irmã e ela comprou, porque eu não tenho paciência pra escolher no meio da infinidade de opções. Eu não leio nenhum livro porque não sei qual escolher. Eu, particularmente, tenho uma dificuldade imensa em fazer escolhas quando se tem muitas opções. Todos os dias eu me visto igual e essa é só mais uma das razões que eu tenho poucas peças de roupa.

Mas as possibilidades de escolha aumentaram em todos os lugares, desde o tipo de maionese que tu vai comprar no mercado, passando por qual mercado tu vai comprar até a escolha da tua profissão. Sim, a escolha da tua profissão. Quando meu pai teve que escolher o que fazer na faculdade, não existiam muitas profissões disponíveis. Muito menos cursos disponíveis na universidade e não era tão fácil descobrir onde teriam outros cursos, afinal, não tinha a internet.

Quando eu fui escolher a minha profissão, já existiam muitas opções, mesmo as "culturalmente aceitáveis", eram muitas. Passou pela minha cabeça fazer arquitetura, desenho industrial, psicologia, mas acabei fazendo administração assim que sai do ensino médio, "o curso de quem não sabe o que quer fazer". Por problemas financeiros eu parei o curso, e depois entrei em Matemática, porque era o curso mais fácil de entrar, depois de letras Alemão. Passei em penúltimo lugar, mas entrei. Dois anos depois eu larguei pra casar, porque passei no concurso da Celesc, que eu só fiz porque meu irmão trabalhava lá (Antes que mais alguém me pergunte se eu ENTREI porque meu irmão me "colocou" lá dentro: NÃO, eu entrei porque eu fiz concurso público e passei, em primeiro lugar. A única coisa que ele fez foi me avisar que tinha o concurso e me desejar boa sorte antes da prova.)

Acabei fazendo administração pra cumprir o protocolo social e porque a oportunidade surgiu no meu nariz, de fazer a graduação pela UFSC, de graça e a distância. Não dava pra perder. Mas estive infeliz no meu trabalho por muitos anos, só que simplesmente, não sabia o que fazer da vida, diante de tantas opções, pra que lado ir? A Doulagem surgiu de um sonho, sim, um sonho, daqueles que vem quando você tá dormindo. Mas ainda assim, eu não sei afinal em qual área da Doulagem eu quero investir e me aprofundar.

A vida é cheia de escolhas. Escolher continuar fazendo o que sempre fez é a opção mais fácil, mesmo quando o que estamos fazendo não é bom. Tendemos a não perceber o quanto temos opção de escolha. Acreditamos que precisamos de determinadas coisas, que na verdade, não precisamos. Acabamos repetindo padrões, porque sempre foi assim e assim que temos que fazer. NÃO!!!!! Nós podemos quebrar o padrão de comportamento. Nós podemos fazer diferente. Nós podemos escolher uma profissão não convencional, podemos viver de arte na sinaleira e morar num trailer. Nós podemos não nos relacionar com quem não nos faz bem. Nós podemos usar a mesma roupa todos os dias, nós podemos sair do emprego sufocante que exige um diploma e muitas horas extras e ir trabalhar no Subway. Sim, nós podemos. Cada escolha, uma renúncia. Mas a escolha é nossa!

Só pra constar, eu tenho noção do meu privilégio de poder fazer esse tipo de escolhas e sei que você que está lendo também tem (o privilégio e a noção). Sei que pra muitas pessoas, aliás, a maioria dos brasileiros, as escolhas são bem mais limitadas, pois elas não tiveram todas as oportunidades que tivemos pra chegar onde chegamos. Entendo que sou privilegiada e espero que você também. Mas também espero que você perceba que tem escolha e que só você pode fazer o movimento pra sair de onde está.

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