terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

Mas e os meninos? Estão bem no inglês?

Mas e os meninos? Estão se virando bem no inglês? Arrisco dizer que essa é a pergunta que mais me fazem desde que nos mudamos pra cá. Acho que já deu pra perceber que eu gosto sempre de seguir uma certa ordem cronológica nos meus pensamentos, né? Então, vamos lá.


Com 13 anos eu comecei a estudar inglês no CCAA. "Good Morning, Magic Eyes, How are you? Fine, Thanks, and you?". No CCAA se aprende inglês como os bebês aprendem a falar. A gente escuta, repete sem entender mesmo, depois começa a usar aquelas palavras com algum contexto e assim vai evoluindo. Leitura e escrita vem por último. No CCAA eu costumava ser a melhor aluna, sempre muito elogiada pela pronuncia e por conseguir falar rápido e me fazer entender.

Depois de quatro anos de inglês, comecei a dar aulas. Uma das professoras teve bebê nessa época e vi ela falando inglês com ele e ali decidi que quando eu tivesse filhos, falaria inglês com eles desde a barriga. Preciso dizer que não foi bem assim que aconteceu?

Por imaturidade, parei de dar aulas de inglês. Me afastei quase completamente do inglês (digo quase porque eu nunca deixei de assistir filme legendado, por exemplo), mas sempre acreditei que ele estava ali, guardadinho, e que seria como andar de bicicleta: a gente nunca esquece. 10 anos depois de eu parar o inglês, o Diego começou a trabalhar com a empresa que ele trabalha hoje. E ele, que foi meu aluno um dia, começou a ir ficando cada vez melhor no inglês, enquanto eu permanecia na mesma.

Os meninos tinham o inglês da escola e só. Nunca consegui (e quando conseguiria, não tive coragem) pagar aulas de inglês pra eles. Uns meses antes de dar certo o visto, eu disse pro Lipe fazer duolingo, e ele fazia durante a tarde, um pouco, até encher o saco. O Pablo, nada! Por ele ser mais novo, sempre me disseram que ele aprenderia mais fácil.

Nos mudamos e levou um mês e meio pras aulas começarem. O que eles ouviam de inglês nesse tempo era em vídeos e os motoristas de uber que a gente cruzava, mas não tinham oportunidade de falar. As aulas começaram e na primeira semana o Lipe já tava se comunicando bem. Ele é mais peitudo, mete a cara e vai. Em poucos meses ele já tava me corrigindo e me ajudando com coisas que eu não entendo. A única coisa que me incomoda é ver o Lipe falando I "fink" quando tá querendo dizer "I Think". Fico louca, já expliquei mil vezes, mas não tem jeito, alguma alma ensinou pra ele assim no Brasil e não consigo fazer ele mudar.

O Pablo já teve um processo mais lento. No começo tava completamente perdido. Com o tempo, percebi que ele já entendia inglês, mas se eu perguntasse algo em inglês pra ele, ele respondia em português. O tempo foi passando e ele começou a arriscar a falar. Começaram as férias de verão e ele passou a ter pouca oportunidade de praticar o inglês. Em setembro as aulas começaram na escola nova e em um ou dois meses ele passou a falar mais inglês que português. 

Eu tenho bastante dificuldade pra me comunicar. Tenho impressão que as palavras estão trancadas em algum lugar do cérebro, elas simplesmente não saem. Na verdade, elas estão ali, na ponta da língua, mas não consigo transformar de pensamento pra fala. Então dou voltas, tento explicar com gestos, explico mais ou menos e as pessoas que me conhecem, acabam completando a frase ou falando a expressão correta e menos formal pra me ajudar. Na maioria das vezes eu sabia aquela palavra ou expressão, só não conseguia acessar. Não consigo entender.

Eu tenho ainda pouca oportunidade de conversar. Quando falo, demoro bastante e é difícil fazer uma conversa fluir como eu gostaria, apesar de as pessoas afirmarem que me entendem. Consigo conversar com uma pessoa por algumas horas, se estiver só eu e ela. Mas se tiver num grupo de pessoas falando não me sinto confiante pra entrar na conversa, fico mais observando, já que eu demoro bastante pra conseguir falar o que quero e nem todo mundo sabe do meu processo de aprendizagem.

Apesar de algumas pessoas aqui falarem que meu inglês é bom e que conseguem me entender, eu não me sinto segura falando inglês. Mas algo que acontece, que é interessante, é que eu não noto quando estou falando inglês ou português. Se estou falando inglês com alguém e de repente chega alguém falando português, eu começo a falar português sem perceber, esqueço que as outras pessoas não entendem português (apesar de muitas pessoas aqui falarem espanhol e ficarem curiosas por ser tão parecido). Parece que tem uma chave, que de um lado é inglês e outro português, e essa chave é automática, tu não percebe que ela mudou.

Normalmente os meninos saem da escola falando Inglês e continuam falando inglês sem perceber, até que alguém puxe algo em português, então eles mudam a chave pro português também sem notar. Mas o que hoje, um ano e dois meses depois da mudança, eu consigo perceber é que o inglês já está muito mais presente na cabeça deles do que o Português e mesmo quando eles falam português, eles acabam traduzindo do inglês pro português, como quando eles pedem "posso ter um bolinho de banana?" ou quando o Lipe fala "salvar a bateria" em vez de economizar. Em várias situações eles conseguem se expressar melhor em Inglês do que em Português.

Os meninos estão bem no inglês? Sim, estão melhores que eu, com um vocabulário super melhor que o meu e eles me ensinam coisas novas todos os dias. Tem bastante diferença entre o inglês que ensinam nos cursinhos e o inglês na prática. Também é legal falar, que por melhor que seja a nossa pronúncia, sempre vai dar pra saber de longe que não somos nativos, basta observar qualquer estrangeiro tentando falar português. O Pablo tem a pronúncia mais parecida com os americanos do que o Lipe, por causa da idade. Falamos inglês e português dentro de casa, sem nóias... e assim vivemos, as vezes pensando em português, as vezes sonhando em inglês, sem pressa, sem cobranças, só vivendo. :)

quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

Sobre escolhas...

O Pablo e o Lipe adoram assistir Youtubers que ficam jogando jogos e aquela coisa que quase toda criança de hoje gosta. Como observamos que o Pablo estava nos tratando de forma bem rude, tentei dar uma mudada de ares (quando escrevi o texto eles estavam nas intermináveis férias de verão e não controlo muito o tempo de telas nas férias). Procurei um desenho fofo no Netflix (indicado pelo Paizinho, vírgula) e ele assistiu vários episódios.

No dia seguinte, antes que ele tivesse tempo de lembrar dos Youtubers que não trazem nada de bom, eu falei pra ele continuar vendo aqueles desenhos fofos que ele amou. O problema é que eram só 10 episódios e ele não queria ver de novo. Então ele passou uma meia hora tentando escolher uma nova série pra assistir e não conseguiu escolher. Foi pro Xbox pra escolher um jogo, mas também tinham muitas opções, ele desistiu. Mas ele acabou assistindo aqueles Youtubers inúteis (pelo menos os que falam palavrão eu consegui argumentar que ele não deve assistir).

Mas o que eu queria falar agora não tem nada a ver com Youtubers, tempo de tela ou culpa de mãe. É sobre escolhas e como as coisas mudaram MUITO nos últimos anos. Vamos pensar em televisão, só pra começar. Quando eu tinha a idade do Pablo, na minha casa tinha uma TV daquelas com botãozinho de girar, com 12 opções, mas o único canal que pegava em Tijucas era a Globo. Desenhos eram só no Xou da Xuxa e eu só tinha oportunidade de assistir quando ficava doente ou nas férias, já que eu estudava de manhã.

Como éramos privilegiados, logo tivemos antena parabólica, então eu tinha a opção do SBT, da Globo e da Cultura. Uaaaaauuu.. Mas os desenhos continuavam sendo só pela manhã, então eu raramente tinha oportunidade de assistir. E quando tinha, era o que apresentavam e pronto, sem escolhas.

Em 1997, instalamos a Sky, daí era muita opção. Tinha canal de notícias, canal de filmes, canal de desenhos... Era só ligar a TV e tava alí, prontinho pra ti assistir. A gente pegava o filme pela metade, outro dia via o começo, mas assim a gente vivia. Com "várias" opções pra escolher. Hahahahahahahaha...

Desde 2013 nós só usamos Netflix. Tivemos Oi TV, mas nunca usávamos. Quando nos mudamos pra cá, também tivemos alguma TV por assinatura porque vinha no pacote, mas nunca assistimos. Agora mudamos pra Hermosa e garantimos que não viria nada escondido no pacote, pois seria dinheiro jogado fora. O problema é que diante de tantas opções, eu tenho a maior dificuldade de escolher. Se não for indicação de um amigo ou sugestão do próprio Netflix, eu nunca sei o que escolher. É muita opção.

Uma vez vi uma pesquisa sobre escolhas, era um documentário, que infelizmente não sei o nome e nem onde assisti, mas provavelmente foi no Netflix (pra variar). O documentário mostrava que quando temos muitas opções, temos dificuldades pra decidir. Quando temos só duas ou três opções, escolhemos com maior facilidade, mas sempre achamos que escolhemos errado. Quando alguém escolhe pra gente, temos tendência a gostar da escolha.

Eu não gosto que me deem dinheiro de presente. Eu gosto quando as pessoas escolhem algo pensando em mim. Eu não sei comprar roupas pros meus filhos, por 9 anos eu dei o dinheiro pra minha irmã e ela comprou, porque eu não tenho paciência pra escolher no meio da infinidade de opções. Eu não leio nenhum livro porque não sei qual escolher. Eu, particularmente, tenho uma dificuldade imensa em fazer escolhas quando se tem muitas opções. Todos os dias eu me visto igual e essa é só mais uma das razões que eu tenho poucas peças de roupa.

Mas as possibilidades de escolha aumentaram em todos os lugares, desde o tipo de maionese que tu vai comprar no mercado, passando por qual mercado tu vai comprar até a escolha da tua profissão. Sim, a escolha da tua profissão. Quando meu pai teve que escolher o que fazer na faculdade, não existiam muitas profissões disponíveis. Muito menos cursos disponíveis na universidade e não era tão fácil descobrir onde teriam outros cursos, afinal, não tinha a internet.

Quando eu fui escolher a minha profissão, já existiam muitas opções, mesmo as "culturalmente aceitáveis", eram muitas. Passou pela minha cabeça fazer arquitetura, desenho industrial, psicologia, mas acabei fazendo administração assim que sai do ensino médio, "o curso de quem não sabe o que quer fazer". Por problemas financeiros eu parei o curso, e depois entrei em Matemática, porque era o curso mais fácil de entrar, depois de letras Alemão. Passei em penúltimo lugar, mas entrei. Dois anos depois eu larguei pra casar, porque passei no concurso da Celesc, que eu só fiz porque meu irmão trabalhava lá (Antes que mais alguém me pergunte se eu ENTREI porque meu irmão me "colocou" lá dentro: NÃO, eu entrei porque eu fiz concurso público e passei, em primeiro lugar. A única coisa que ele fez foi me avisar que tinha o concurso e me desejar boa sorte antes da prova.)

Acabei fazendo administração pra cumprir o protocolo social e porque a oportunidade surgiu no meu nariz, de fazer a graduação pela UFSC, de graça e a distância. Não dava pra perder. Mas estive infeliz no meu trabalho por muitos anos, só que simplesmente, não sabia o que fazer da vida, diante de tantas opções, pra que lado ir? A Doulagem surgiu de um sonho, sim, um sonho, daqueles que vem quando você tá dormindo. Mas ainda assim, eu não sei afinal em qual área da Doulagem eu quero investir e me aprofundar.

A vida é cheia de escolhas. Escolher continuar fazendo o que sempre fez é a opção mais fácil, mesmo quando o que estamos fazendo não é bom. Tendemos a não perceber o quanto temos opção de escolha. Acreditamos que precisamos de determinadas coisas, que na verdade, não precisamos. Acabamos repetindo padrões, porque sempre foi assim e assim que temos que fazer. NÃO!!!!! Nós podemos quebrar o padrão de comportamento. Nós podemos fazer diferente. Nós podemos escolher uma profissão não convencional, podemos viver de arte na sinaleira e morar num trailer. Nós podemos não nos relacionar com quem não nos faz bem. Nós podemos usar a mesma roupa todos os dias, nós podemos sair do emprego sufocante que exige um diploma e muitas horas extras e ir trabalhar no Subway. Sim, nós podemos. Cada escolha, uma renúncia. Mas a escolha é nossa!

Só pra constar, eu tenho noção do meu privilégio de poder fazer esse tipo de escolhas e sei que você que está lendo também tem (o privilégio e a noção). Sei que pra muitas pessoas, aliás, a maioria dos brasileiros, as escolhas são bem mais limitadas, pois elas não tiveram todas as oportunidades que tivemos pra chegar onde chegamos. Entendo que sou privilegiada e espero que você também. Mas também espero que você perceba que tem escolha e que só você pode fazer o movimento pra sair de onde está.

quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

Escolas, educação e o que observo por aqui: Parte 2

Então a vida na escola nova começou. De cara já me pareceu bem mais organizada que a primeira, afinal, perceberam super rápido que o Pablo não ia se dar bem no segundo ano e tomaram as atitudes necessárias pra evitar problemas futuros. No dia da inscrição eu perguntei se poderia voluntariar na secretaria, porque eu não me imaginava em sala de aula. A secretária adorou a idéia, porque ela precisava mesmo de ajuda e ninguém nunca tinha se oferecido antes.

Também descobri, conversando com uma mãe, que voluntariar na sala de aula não tem muito a ver
com estar com as crianças, que meu trabalho seria tirar cópias, cortar coisas e fazer aquelas coisas que toda professora tem que fazer, mas que precisa de tempo, sendo assim, e considerando que "quase nem gosto" de mexer com papel, me ofereci pra voluntariar na sala do Lipe e na sala do Pablo.

A presença dos pais na escola é muito valorizada. Mesmo pais que trabalham full time, conseguem um jeitinho de ajudar a escola de alguma maneira, nem que seja nos eventos. Eu amo, me sinto útil e realmente adoro brincar de cortar coisa, tirar cópias, fazer serviço que nos dez anos de Celesc sempre passei pro estagiário, mas que no fundo, eu que queria fazer. Mas também adoro ajudar nos eventos pra arrecadar dinheiro pra escola ou as festas das turmas que precisam de pais pra dar uma mãozinha.

Meu trabalho na secretaria não durou muito, porque logo na segunda semana a Mrs. Cristine ganhou uma ajudante oficial. Mas toda quarta feira eu ajudo a Mrs. Meyers na biblioteca da escola do Pablo, colocando livros na prateleira e no momento tô focada em colocar um adesivo com a letra do nível de leitura em cada livro. Cada um dos tantos mil livros se enquadra num nível de leitura, de A a Z e eu vou ter que colocar adesivo em todos (não acaba nunca). O Pablo tá lendo nível I e o Lipe não sei dizer exatamente, mas ele já lê Harry Potter, que é nível V.

Pra ajudar na sala do Lipe eu basicamente tiro cópias. A criança aqui ficou impressionada com a máquina que grampeia e fura o papel sozinha, hahahahhahah. Não entro na sala do Lipe, a professora sempre me da meu trabalho do lado de fora. Então não tenho muita vivência além do que o Lipe traz pra casa. Consigo espiar que eles não sentam em fileiras, mas sim em grupo, como nos filmes. 

Na primeira semana de aula o Lipe teve que "aplicar" pra um "emprego", onde ele podia escolher ser o limpador do quadro, o telefonista, o abridor de porta, o banqueiro, o fiscal de deveres, fiscal de presença, entre outros. Ele teve que fazer currículo, portfólio e esperar uma semana pra ver se seria selecionado pra vaga escolhida. Toda criança tem um "emprego" e recebem salário (na moeda da turma, claro, que se chama "Dent Dollar") e tem que pagar pela sua cadeira todo mês. Se economizar, consegue comprar a cadeira e só paga imposto por ter a cadeira, mas não paga mais aluguel. Eles também pagam multa se fizerem coisa errada, ganham dinheiro extra se fizerem coisas boas e de vez em quando tem leilão com um monte de bugigangas pra eles comprarem as coisas que quiserem com seu dinheiro. Tudo isso em "Dent Dollar". Acho a idéia simplesmente brilhante. Ensinando desde cedo a cuidar do dinheiro e ter responsabilidades.

Outra coisa que me chamou a atenção foi que o Lipe tinha um parceiro de leitura no nível dele (teoricamente, porque ele foi colocado com um Canadense que só falava Francês, e a professora achava que eles estavam no mesmo nível, mas não estavam). Ele tinha que ler um certo número de páginas de um livro e o amigo também, e eles deveriam conversar a respeito no dia seguinte. Isso fez o Lipe resgatar o gosto pela leitura e eu só agradeço.

Outra coisa que observo e gosto muito é que diferente das escolas que ele teve no Brasil, aqui eles são instigados a pensar. As respostas não são prontas. As crianças são ensinadas a pesquisar as respostas pras perguntas, que eles também são incentivados a criar. Eles ensinam matemática de um jeito diferente, sem respostas necessariamente exatas, por mais estranho que possa parecer. Não vejo mais o Lipe decorando coisas, vejo ele entendendo o que tá aprendendo e isso pra mim, já fez a loucura da mudança valer a pena.

Já na sala do Pablo eu fico por duas horas toda sexta-feira, e lá dentro, vendo tudo acontecer. Lá eu corto papel, nossa, quanta coisa que tem pra cortar. A parte da pedagogia que eu sempre gostei, de fazer aquelas coisinhas fofas que só professoras fazem, bom, aqui são as mães voluntárias que fazem. Todo dia da semana tem uma, de tanta coisa que tem pra fazer. Não sei como seria possível sem a ajuda das mães. Aliás, simplesmente não seria possível.

A estrutura da sala de aula, mesmo que seja pública e bem inferior as particulares (pelo que a professora me contou), é algo que eu nunca tinha visto na vida. Tem mini biblioteca, cantinho da matemática, projetor, microfone pra professora, computador e tablet pra metade dos alunos (numa escola particular tem pra todos), pia pra lavar a mão, telefone, apontador de lápis automático, cortador de papel, estante pra secar trabalhinhos de artes, etc. Nunca entrei em sala de aula no Brasil que não fossem as que eu estudei, mas na escola que eu estudava, tinha um projetor pra escola inteira, assim como a maioria dos materiais que citei. Tudo bem que faz 17 anos que sai da escola e hoje as coisas devem ser diferentes, mas fiquei impressionada.

Todas as manhãs as professoras conferem se todos os alunos estão na sala, quem vai comer comida da cafeteria e comunica a secretaria (se ela esquece, a secretária chama ela no alto falante da sala e lembra). Aqui a presença é levada muito a sério e se chegar atrasado também, tudo controlado e vem escrito no report card (tipo um boletim). Se a criança não está na escola e os pais não avisaram que ele não estaria, os pais vão receber uma ligação informando. Isso me dá muita segurança em deixar o Felipe ir de patinete pra escola.

Sempre tem alguém dentro da sala, ou um pai que está ajudando, ou alguns funcionários que dão esse tipo de suporte, enfim, a professora quase nunca fica sozinha nas turmas iniciais. É muito interessante. Eu fico fascinada de estar dentro desse universo e vendo como tudo funciona. 

O Pablo sai da escola todo dia dizendo que foi muito legal e eu consigo entender porque. É tudo muito dinâmico, as atividades são rápidas, não dá tempo de ficar entediado. O aprendizado não é através de brincadeiras, mas é leve e gostoso. Toda semana uma criança é o cientista da semana e eles fazem experiências super simples e eu tenho a sorte de acompanhar quase todas, pois geralmente são nas sextas-feiras bem cedo. O cientista fica muito feliz, se sentindo importante, e as crianças que assistem, sempre ficam impressionadas com as descobertas. É muito fofo.

Eles ficam na escola das 08:15/08:30 as 14:49/14:35, almoçam na escola a comida que eu mando na marmita, o Pablo gosta de comer na cafeteria de vez em quando, eu deixo ele escolher dois dias da semana. Normalmente ele gosta de comer pizza, nuggets, mac and cheese ou cheeseburger, sim, é isso mesmo que servem na escola. Mesmo que eles coloquem os vegetais ali junto pra disfarçar, creio que a maioria das crianças jogue os vegetais fora. Por isso só permitimos duas vezes na semana. O Lipe só come na cafeteria quando é Emoji Fries e Nuggets.

Outra coisa que a gente vê nos filmes e que é real são os treinamentos pra terremotos, fogo e outras situações de perigo. Eles são muito frequentes, o que realmente é bom, porque se realmente acontecer, as crianças estão preparadas. Eu já passei por dois, um de lock down (quando vem um maluco atirando na escola ou outra situação parecida) e um de terremoto. Não interessa se eu sou só uma voluntária de passagem, preciso participar do treinamento. 

No dia do treinamento de lock down, eu tava na escola do Lipe e tive que ir pra baixo da carteira com ele. No dia do treinamento de terremoto eu entrei em pânico, mesmo sabendo que teria um treinamento. Eu estava na escola do Pablo, mas na biblioteca, com uma turma de pré. Tive que ir pra baixo da mesa junto com as crianças, lembrar elas de protegerem o pescoço e depois fomos caminhando até o pátio, onde os pais vão buscar as crianças depois, em casos de terremoto real. Foi tenso, mas é importante ter, pras crianças não pirarem igual eu pirei só no treinamento.

Sei que escrevi demais, mas é tanta emoção e tanta coisa pra contar, que fica difícil selecionar. Eu acho realmente que a nossa loucura valeu a pena, mesmo que fosse só pela experiência com a educação. Provavelmente esqueci de falar de um monte de coisa legal. Mas vou anotando e quem sabe, ainda caiba mais um post.

quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

Escolas, educação e o que observo por aqui: Parte 1

Cá estou, depois de muitos meses sem escrever e fazendo um esforço gigante pra não colocar dois pontinhos no final de casa frase.. ops!?
Tem tanta coisa pra falar sobre escola, que nem sei por onde começar, mas acho que vou dividir em dois posts.

Vou começar pelo começo. Lá em Sunnyvale ainda. Estávamos totalmente perdidos com relação a escola, mas sabíamos que o preço do aluguel estava relacionado com a qualidade das escolas do local. No vale do silício, o aluguel que podíamos pagar era de casas (apartamentos) perto de escolas nota 6 ou 7, não mais do que isso. Notas maiores ficavam muito longe do trabalho do Diego (hahahahah, mal sabíamos o que o destino nos guardava).

Gostamos de um apartamento dentro do nosso preço e fomos conhecer a escola. A secretária era bem mal humorada, mas a escola não parecia ruim. Ok, vai ser aqui mesmo! Nos mudamos da casa provisória pro apto novo dia 23 de dezembro e a escola estava obviamente em recesso. Início de janeiro levei a papelada, mas faltavam as vacinas traduzidas. Até marcar a consulta no médico, traduzir as vacinas e ter tudo resolvido, eles começaram a escola uma semana depois.

Como o ano letivo começa em agosto/setembro, eles começariam na metade do ano letivo (Janeiro). Lipe foi pro quarto ano, o que achei ótimo, já que ele tinha terminado o quarto ano no Brasil, seria bom refazer metade pra ir pegando o jeito. Pablo foi pra segunda metade do primeiro ano, mesmo eu tendo explicado que ele não sabia a língua e que ele só tinha terminado o pré no Brasil. Não interessa. O que vale é a idade. Segura na mão de Deus e vai. Lipe foi super bem desde o começo (na foto ele tá conversando com a professora, super natural, no terceiro ou quarto dia de aula, mesmo sem nunca ter feito aula de inglês na vida) e o Pablo mais perdido que cego em tiroteio. Não tinha nenhum tipo de apoio, NENHUM tipo de apoio pra alunos que não falavam a língua. A professora do Pablo sugeriu autismo, já que ele não falava e se isolava. No mínimo previsível o comportamento dele, né? A criança nunca falou inglês além de cores e números na vida e de repente tem que entender tudo que pedem, aprender a ler, interagir com amigos falando em inglês assim, pá pum. Não sei que milagre ela esperava dele.

Enfim, veio a notícia da mudança, eu fiquei triste porque eles estavam adaptados e fazendo amigos, mas era a vida. Tínhamos que mudar. Perguntei pra professora do Pablo se ela achava que ele deveria repetir o primeiro ano e ela disse que não. Meu coração dizia que sim, mas achei que eu fosse uma incompetente na área pedagógica, resolvi confiar na professora.

Mudamos quando as aulas acabaram e fui nas escolas novas na primeira semana por aqui. A escola do Pablo vai até o terceiro ano e a do Lipe do quarto até o oitavo, pertencem ao mesmo distrito, mas são escolas diferentes. Nas duas escolas pediram se eu podia voltar depois, já que era a última semana de aula, mas nas duas escolas elas ficaram felizes porque eu tinha tudo prontinho e organizado, acabaram aceitando a inscrição naquele dia.

Mas agora estamos num distrito nota 10 (o aluguel aqui na região é um pouco mais acessível que era no vale so silício, então pelo mesmo valor, conseguimos escolas melhores) e também optamos por morar longe do trabalho do Diego pra vivermos melhor de maneira geral (ah, o mar...). Enfim, por ser um distrito nota 10, muita gente tenta burlar comprovante de endereço pra conseguir uma vaguinha. Então a inscrição só efetivou depois que eu recebi uma carta via correio com o "código secreto" meses depois, porque era férias de verão.

No fim de semana antes do começo das aulas eu já estava voluntariando em evento pra arrecadar dinheiro pra escola, mesmo sem entender direito como as coisas funcionavam, mas eu queria estar presente nas escolas dessa vez. As aulas começaram em setembro. Eu estava empolgadíssima com a idéia de voluntariar e os meninos estavam adorando suas turmas e as aulas.

Segundo dia de aula a professora do Pablo (2o ano) nos chama pra conversar. O Pablo foi avaliado e ele precisaria ir pro primeiro ano. Ele tinha perdido toda a base pra aprender a ler e escrever, ele corria o risco de passar a vida inteira com dificuldades na escola. Entrei em pânico, não por não achar que ele devesse ir pro primeiro ano, mas por não saber como falar pra ele que ele teria que trocar de turma DE NOVO. Afinal, ele tinha acabado de trocar de escola, tava amando a turma e a professora nova e teria que trocar mais uma vez.

Eu contei, contaminada pelas minhas emoções assustadas e ele desandou a chorar, dizendo que não trocaria de turma e ponto final. Era uma sexta feira e ele só começaria no primeiro ano na segunda-feira, o que transformou meu final de semana num mundo de ansiedade, apesar de o Pablo estar ótimo, já que o Diego já tinha comprado ele com um videogame novo.

Segunda feira combinamos que o Diego o levaria, porque meu nervosismo não ia fazer bem pra ele. Óbvio que eu não consegui respirar durante a manhã inteirinha. Quando fui busca-lo, ele estava saltitante e disse que foi o "best day ever". Ufa, mãe. Pode respirar aliviada. Vai ficar tudo bem. :)