quarta-feira, 20 de setembro de 2017

Quando tudo parecia bem, lá vem mais história..

Passados os três primeiros meses de fossa, eu estava com a carteira de motorista na mão e começando a fazer amizades. Todas brasileiras, mas eu estava amando. Estava adorando andar de carro sozinha, me virar. Ir a happy hours, dar gargalhadas, ter uma vida só minha. Há anos eu não sabia o que era ter uma vida minha, da Carolina, sem filhos, sem marido. Por mais que a maioria das amizades tenham surgido do grupo "Mamães brasileiras do Vale do Silício", nossos encontros raramente envolviam filhos. Estava sendo uma experiência única pra mim, eu estava realmente feliz.

A empresa que o Diego trabalha andava estranha. Tinham tido algumas demissões, o clima estava meio tenso. Um dia qualquer até tínhamos conversado sobre eu ter lido no processo do visto que dizia que ele poderia trabalhar em Sunnyvale ou Los Angeles, divagamos, falamos e ok, tudo bem se algum dia precisar morar em Los Angeles, vai ser legal. Muito fácil falar, né? 

Um belo dia o Diego me manda uma mensagem "we're moving to LA". O escritório de Sunnyvale ia fechar e não tínhamos escolha. Não haveria mais possibilidade de trabalhar remoto. As opções eram mudar pra Los Angeles ou voltar pro Brasil, ambos desempregados. Mas como?? Não, eu não quero mudar pra LA, eu tô amando morar aqui, os meninos estão adaptados na escola, eu tô fazendo amizades, eu já conheço a cidade. Não quero!!!

Por que não usei minhas possibilidades de contato pra conseguir a licença sem remuneração na Celesc? Meu Deus, voltar pro Brasil? Os meninos perderam boa parte do ano escolar. Com o que eu vou trabalhar no Brasil nessa crise que tá? Nesse desemprego absurdo? Os meninos vão estudar em escola pública? E o plano de saúde? Não quero voltar pro Brasil. Não agora. Temos muito o que viver aqui. Mas também não quero ir pra Los Angeles. Eu nunca quis nem morar em Floripa porque era muito movimentado, imagina Los Angeles????

Eu lembro de conversar com a minha prima e ela ficar toda feliz com a ideia e eu fiquei muito puta. Gente, como assim? Los Angeles não tem nada a ver comigo. Chorei também pra minha amiga de adolescência e ela gritou de emoção pela possibilidade de ver artistas de cinema pela rua, hahahhahahahah. Gente, eu que no máximo sei o nome da Julia Roberts e do Robin Willians (esse só se eu encontrar com o fantasma pela rua)? Não acho a me-nor (isso mesmo, com intonação, tem que ler as duas sílabas separadas me-nor) graça nessa possiblidade. Não tô achando graça nenhuma nessa história.

Incentivei o Diego a fazer umas entrevistas no vale do silício. O medo da mudança era tanto, o medo de mudar de novo, de sofrer tudo aquilo que sofri no início de novo. Eu estava desesperada. Não queria sentir aquilo tudo de novo. Eu disfarçava que era sobre a adaptação dos meninos, mas era comigo mesmo o problema.

O universo mais uma vez deu seu empurrão e o Diego não teve sucesso em nenhuma das entrevistas. Contamos pros meninos que iriamos nos mudar de novo e no mesmo instante o Lipe falou: "mas nós já compramos até o sofá". O Pablo falou que queria ir de avião pra Los Angeles e depois compraríamos outro carro. Na cabecinha deles nós iríamos nos desfazer de tudo de novo e começar tudo do zero de novo, igual quando viemos do Brasil.

Não sabíamos quando seria a mudança e nem pra onde seria exatamente. Procurávamos bastante coisa na internet, mas nada agradava. Buscávamos por boas escolas, perto do trabalho, mas nada brilhava nossos olhos, o que podíamos pagar não era perto o suficiente do trabalho e não nos encantava.

Uma coisa era fato, eu tinha aprendido com a última despedida a valorizar as amizades e as oportunidades enquanto elas existem. Não recusei um convite. Dei um jeito de ir a todos os happy hours, almoços e caminhadas que fui convidada e também convidei. Plantei a sementinha da amizade e reguei o quanto pude.

Eu já estava engolindo a situação, mas não gostando dela, nem um pouco. Tava puta. Mas então veio a ideia de aumentar o tempo de deslocamento pro trabalho e morar na praia. Opa! Agora brilhou os olhos. As escolas na praia tinham notas ótimas. O preço do aluguel era o mesmo que pagávamos em Sunnyvale. Achamos o apartamento perfeito pela internet. Eu teria que levar o Diego todo dia no ponto de ônibus, que ficaria a 20 minutos de casa, mas foda-se, vale tudo pra morar na praia.

Em maio viemos conhecer alguns apartamentos. Aquele que gostamos na internet laçou nosso coração. A cidade é muito bela, como o próprio nome diz. Fica a cinco minutos caminhando da praia, onde tem um calçadão delicioso pra caminhar e um pier que é impossível descrever. O apartamento é bem mais iluminado que o anterior, em Sunnyvale. Os meninos correram e pularam no apartamento pra ter certeza que não iria tremer o prédio inteiro, como acontecia no anterior. É esse. Aqui vai ser nossa casa.

Início de junho o Diego se mudou, sozinho, dormindo num colchão de acampamento, comprou uma panela, um pote e talheres descartáveis. Eu queria que os meninos terminassem o ciclo na escola em Sunnyvale. No Brasil nós não esperamos encerrar o ciclo, havíamos esperado tanto pelo resultado do visto, que eu não queria esperar nem um dia a mais, mudamos uma semana antes do fim das aulas do Lipe e 3 semanas antes do fim das aulas do Pablo. Aqui eu fiz questão de esperar. Os meninos aproveitaram cada dia da última semana de aula e todas as programações especiais desse final de ano escolar. Fiz a despedida com as minhas amigas, sem choro, tendo certeza que as de verdade vão vir me visitar e no dia 14 de junho nos mudamos.

Nos mudamos pra Hermosa Beach, no sul da California. O Diego encontrou um ônibus que ele pega super pertinho de casa (não preciso leva-lo no ponto como pensávamos no início). O bus tem wi-fi e ar condicionado, leva em torno de uma hora até o trabalho. Quando ele volta, final de tarde, sempre dá uma passadinha pra ver o mar. Ele ouve todos os podcasts possíveis e olha instagran, twitter, reddit e todas as redes sociais possíveis no caminho do trabalho pra casa. Quando ele chega em casa, ele é todo nosso.

Eu estou fazendo yoga, sendo que um dia da semana é na praia (realização de mais um sonho). Estou com planos de voluntariar e provavelmente quando esse post for publicado eu já estarei voluntariando há um tempo. Todo dia eu faço questão de ver o mar. Levo a Fofinha pra passear e deixo ela cheirar os outros cachorros. Os donos dos outros cachorros deixam ela cheira-los, o que não era comum em Sunnyvale. 

Os meninos estão indo no Summer Camp, porque as aulas só começam em setembro e eu quero que eles continuem praticando o inglês e que façam amigos. Eles estão adorando ter o mar por perto e estão sentindo a alegria da mãe e do pai por estarem aqui.

Eu agradeço todo dia por essa oportunidade. Olho esse mar lindo, com o pôr do sol divino e só agradeço. Agradeço por tudo ter dado "errado". Sinto uma gratidão infinita. As vezes meu coração parece que vai explodir de gratidão. Eu tenho muito o que estruturar por aqui, mas realmente, definitivamante, não quero me mudar daqui tão cedo. E por razões totalmente diferentes da última vez que falei isso. Dessa vez eu digo que quero ficar aqui, porque me sinto em casa desde o primeiro dia que pisei aqui. Só agradeço. Gratidão.

quarta-feira, 13 de setembro de 2017

Feminista e dependente financeiramente do marido, como fica?

Bom, esse post é um dos que eu estou mais enrolando pra escrever. É punk pra mim, é difícil pra caramba, mas vamos ver como ele flui. Lá nos meus quinze anos eu comecei a "ficar" com o Diego. Um mês depois, meus pais se separaram. Antes (e depois) da separação eu presenciei muitas brigas bem feias por causa de dinheiro. Minha mãe era dona de casa por opção e o único provedor era meu pai. Sempre presenciei muito controle sobre os gastos. Presenciei a obrigação da minha mãe de mostrar onde foi gasto cada centavo enquanto ela nunca soube quanto meu pai ganhava e onde gastava. Muito controle, muita briga, mais gastos, mais brigas... e o eu tinha o exemplo exato de como eu queria que meu relacionamento NÃO fosse.

Claro que naquela época (foto esquerda) eu e o Diego não tínhamos idéia, apesar dos sonhos, de que ficaríamos juntos tanto tempo. Mas desde o início nossa vida financeira foi aberta e sem divisões. Fui professora de inglês aos 16 anos e o Diego fazia estágio da escola técnica. Eu ganhava R$120,00 e ele R$100,00. Nós guardávamos R$100,00 e vivíamos com o restante. Claro que nessa fase morávamos com nossos pais e não tínhamos que pagar nada além de alguma roupa nova ou a pizza que saíamos pra comer. Desde aquela época, nunca dividimos uma conta. Nunca foi meio a meio. Nunca. O dinheiro sempre foi nosso. Mesmo quando éramos dois pirralhos adolescentes ganhando uma merreca.

O salário dele foi crescendo, eu pulava de emprego em emprego por pura imaturidade, mas o dinheiro sempre foi nosso. Ele foi morar sozinho, mas eu sempre tive acesso a senha da conta dele, sempre fizemos as contas juntos, enfim, era assim que vivíamos. Passei no concurso da Celesc e casamos. O salário dele era maior, mas eu tinha o vale alimentação, plano de saúde e isso equiparava. Esperávamos entrar o vale pra fazer compras, esperávamos entrar o salário dele pra pagar as contas maiores (as menores normalmente já tinham sido pagas com meu salário).

Nunca dividimos. Nunca foi "eu pago o carro, tu paga a casa, eu pago a luz, tu paga a água". Nunca! Sempre foi "a conta que vence primeiro é paga com o salário que entra primeiro" e assim a vida segue. O salário dele sempre foi maior e o meu sempre foi a segurança e a estabilidade na nossa vida. Ele viajava muito a trabalho e nenhum de nós estava feliz com aquela situação. Eu já tinha pedido pra ele pedir demissão trinta mil vezes, mas faltava coragem. 

Um belo dia, a empresa avisou que ele teria que viajar no dia seguinte, sem nenhum planejamento. O Pablo era bebezinho, era uma situação chata, ele ficava sempre mais de um mês longe e morávamos longe das avós, ou seja, não tinha apoio por perto pra cuidar da criançada. Por um empurrãozinho do universo ele perdeu o vôo. Ele aproveitou, foi até a matriz e pediu demissão. Tínhamos a segurança do meu emprego. Ele queria começar a trabalhar com TI e assim foi. Por uma sorte do destino, na mesma semana ele recebeu a proposta de uma empresa que ele fazia freelances pra trabalhar em tempo integral. Perfeito. O salário ia ficar um pouco menor, mas sem as viagens.

Mas a vida não era só flores. Faltava diálogo, faltava mesmo o diálogo. E além do diálogo, faltou grana, porque aquela nova empresa ficou dois meses sem pagar. E nesses dois meses vivi um inferno. Digo vivi, porque o Diego nem fazia idéia do que eu tava passando, afinal, eu não falava, esperava que ele advinhasse, tivesse um feeling, sei lá, hahahahahahahhaha ha ha. Não tínhamos dinheiro pra pagar faxineira (e várias outras coisas) e eu queria que o Diego desse jeito na casa, afinal, ele estava o dia inteiro dentro de casa. Eu não entendia que ele estava trabalhando (sem receber, mas estava) e ele não sabia o que eu esperava dele: cooperação. Éramos imaturos, o modelo machista ainda sobressaia, onde eu achava que eu, por ser mulher, tinha que dar conta dos filhos e da casa, além das oito horas de trabalho fora e ele, claro, também se aproveitava da situação.

Eu me achava uma coitada por ter um marido que não "ajudava em casa", achava que precisava dele pra viver e que não tinha escolha. Eu achava que a solução era o divórcio, mas acreditava que não poderia me bancar (assunto pra outro post). Enfim, os pagamentos atrasados entraram, a situação financeira começou a melhorar e muito dali pra frente. O relacionamento não melhorou na mesma proporção. Continuávamos no mesmo esquema financeiro, salário que entra primeiro, paga a conta que vence primeiro e assim funcionava.

Trocamos de carro, trocamos de apartamento e exatamente dez meses depois, trocamos de cidade. Fizemos algumas escolhas beeeem erradas por falta de diálogo, quase nos separamos de verdade, construimos nossa casa e reconstruimos nossa relação. Muita terapia e entendimento sobre mim mesma. Entendi que estou com ele por escolha e não porque preciso dele e isso mudou tudo. Me encontrei no feminismo e a medida que eu ia me transformando, eu fui sentindo mudanças no Diego. Crescemos juntos. Amadurecemos juntos.

O diálogo foi surgindo naturalmente com o amadurecimento. Tudo foi ficando mais claro, aprendemos cada vez mais um sobre o outro e sobre nós mesmos. Mas eu ainda não tinha coragem de sair do meu emprego e depender totalmente dele. Eu queria ser doula, mas eu tinha o "sonho de todo mundo" nas mãos, eu tinha a história da minha mãe, eu tinha o medo. Tinha a cobrança da sociedade, tinha tanta coisa.

Mas... Mas... Maaaaaaaaasssss... ser dona de casa e depender do marido fora do país pode, né? Daí é tudo lindo, tudo beleza. Quando comentava com algumas pessoas que sairia da Celesc pra trabalhar como doula era a maior loucura do planeta: "sua louca, jogar um emprego maravilhoso fora e depender do marido?". Mas quando eu comentava que mudaria de país, aí é só alegria, ninguém em nenhum momento perguntou se eu iria trabalhar ou sei lá.

Pois é, minha gente, cá estou. Na California, sem permissão de trabalho e dependendo totalmente do marido financeiramente. E como foi isso? No começo uma bosta. Horrível, eu me sentia péssima, inútil, achava que devia explicações pra tudo, achava que a obrigação de manter a casa e os filhos em ordem era unicamente minha, afinal, eu não tô botando dinheiro dentro de casa.

Passamos por alguns apertos financeiros e isso piorou bastante meu sentimento, minha sensação de
impotência. Mas com o tempo a poeira foi baixando, fui lembrando que somos uma equipe e que tomamos essa decisão juntos. Que não seria possível de outra maneira, pelo menos nesse primeiro momento. Que sabíamos que seria assim e que nada mudou. O dinheiro continua sendo nosso e em nenhum momento precisei justificar onde gastei algum dólar. Claro que somos adultos e sabemos exatamente onde e quando podemos gastar. Mas basicamente hoje eu nem me lembro mais que não "coloco dinheiro dentro de casa".

Sinto falta de trabalhar, de produzir, de ver gente. Mas isso vai ser resolvido logo logo quando eu começar a voluntariar. Sinto falta de ter "meu dinheiro"? Não, não sinto. Continuamos tendo o nosso dinheiro e eu não preciso pedir autorização pra comprar uma calcinha ou fazer depilação, como muita mulher relata. Custei a me adaptar a essa nova realidade, foi preciso bastante terapia e auto conhecimento. Mas hoje estou em paz. O dinheiro que ganhamos é suficiente pra termos uma vida ótima, minimalista, sem luxos, exatamente como precisamos. Se o universo me oferecer uma oportunidade quando eu tiver permissão de trabalho por aqui, vamos analisar juntos se vale a pena. :)

quarta-feira, 6 de setembro de 2017

Staying at home mother - Experiências de Carol

Bom, nem sei por onde começar. Desde que casei, como já contei antes, eu trabalhei. Oito horas por dia, cinco dias por semana, 11 meses no ano. Com exceção dos anos em que tive a licença maternidade. Com 5 meses de idade o Lipe foi pra escolinha, minha rotina sempre foi deixar o filho na escola e correr pro trabalho. Nas férias da escola, eu pedia socorro pras avós, porque eu não tinha oportunidade de parar de trabalhar durante as férias dele. Logo veio o Pablo e então a correria aumentou, eram dois filhos na escola e a mãe trabalhando o dia inteiro.

Por muitos anos ambos estudavam em período integral. Eu passava pouquíssimo tempo com eles, essa é a verdade. Eles iam pra escola as oito da manha e algumas vezes eu peguei eles só as sete da noite. Nos mudamos pra Tijucas e o cenário mudou um pouco. O Diego trabalhava de casa e o Lipe já estava maiorzinho. O Pablo continuava em período integral e o Lipe estudava só de manhã, já almoçava conosco. Em 2016 resolvemos deixar o Pablo em casa pela manhã e o Lipe em casa no período da tarde, então ao menos eu almoçava com ambos.

Eu vivia cansada e estressada. Meu trabalho sugava todas as minhas energias, eu esgotava minha paciência e não sobrava quase nada pros meninos. Não era cansaço físico, era mental. Em outubro de 2016 eu comecei meu "processo de demissão". Eu poderia pedir demissão e ficar com o dinheiro das férias e licença que eu tinha pra tirar, mas naquele momento eu não precisava de dinheiro, eu precisava de paz. Então tirei férias e licença prêmio, enquanto criava coragem pra pedir demissão.

Como era difícil largar aquele sonho de todo mundo pra correr atrás do meu sonho de ser doula. A idéia era que eu trabalhasse como doula, me dedicasse as rodas de gestante e focasse nas consultorias em aleitamento nesse período, em que eu ainda tinha dinheiro entrando. Mas o Pablito teve catapora e foi o primeiro momento que eu agradeci por estar em casa. Agradeci por poder estar com ele, ao mesmo tempo que estava chateada por não poder ter contato com gestantes e recém nascidos. Não pude fazer meu "test drive" de como seria trabalhar como autônoma e administrar meu tempo.

Quando acabou a minha "quarentena" por causa da catapora do Pablo e eu poderia trabalhar com gestantes, já era a última semana no Brasil e tava na correria de resolver tudo pra mudança. Sim, o resultado do visto saiu enquanto eu estava fazendo meu "test drive". Nos mudamos no começo de dezembro e então começou a nova realidade. 

Serviços domésticos. Gente, socorro. Não acaba nunca. Sim, fui mimada (e privilegiada) e nunca tinha limpado uma casa na vida. Em dez anos de casados, sempre tivemos quem fizesse tudo pra gente, já que eu trabalhava com algo que não gostava, então me dava o direito de pagar pra que alguém fizesse outra coisa que eu não gostava. Limpar a casa, cuidar da roupa e da cozinha é chato pra caramba. Nós limpamos (tirar pó, limpar banheiro, etc.) a casa todos juntos, quando não dá mais pra viver nela. Mas sempre tem louça na pia, roupa pela casa, roupa pra lavar, roupa pra dobrar, lixo pra descer, etc.

É muito chato. Mas ok, faz parte da escolha que fizemos, e mesmo que volte pro Brasil, provavelmente não vamos pagar alguém pra limpar a casa, nem voltaremos a passar roupa e provavelmente teremos uma lavadora de louças. Realmente a expectativa de limpeza aqui é bem diferente e de maneira geral os serviços domésticos são mais práticos, justamente porque aqui não tem a cultura de pagar alguém pra fazer coisas que você mesmo pode fazer.

E ser mãe em tempo integral? Gente. Não tem preço. Poder estar com eles o dia todo, atender todas as necessidades deles a qualquer momento, ter tempo e paciência pra ouvir as histórias deles, poder fazer os deveres juntos, observar eles crescendo. Levar na escola sem pressa e buscar na escola com a cabeça vazia de problemas do trabalho, não tem dinheiro que pague. Mas me cobro muito por não ser a melhor mãe que eu poderia ser, por não saber brincar e sinceramente, por não ter vontade de brincar. Mas ninguém é perfeito, não é? Estou perto deles, com eles, observando e cuidando. Alimentando de comida e de amor. Não tem como explicar. Não trocaria essa experiência pelo
melhor salário que possa existir.

Se eu tenho vontade de voltar a trabalhar? Sim, tenho muita. Sinto falta de produzir, sinto falta de ser útil pra alguma coisa além de manter a casa em ordem. Mas não tenho vontade de voltar a ficar presa numa empresa, sem poder ficar com eles nas férias, sem poder ficar com eles no dia que acordarem com febre. Meu tipo de visto não me permite trabalhar. Então sigo vivendo minha vida como staying at home mother, mas hoje eu não trocaria a situação atual por um emprego com salário no final do mês.

Aproveito todo esse tempo que tenho pra olhar pra mim e buscar coisas que eu gosto. Confesso que é difícil de me organizar, de dar o primeiro passo, mas agora tenho todo tempo do mundo pra fazer as coisas que eu nunca fiz porque não tinha tempo. Agora posso aprender a costurar, posso caminhar com as amigas, estudar sobre qualquer assunto, ou simplesmente ficar largada no sofá assistindo série sem a menor culpa.

Não foi fácil a transição, chorei demais e me perguntei muito o que foi que eu fiz da minha vida "perfeita" no Brasil. Mas essa experiência que estou vivendo não tem preço. Devo voluntariar em breve. Eu poderia ter voluntariado desde a primeira semana, mas precisei de um tempo "vazio" pra olhar pra dentro de mim. Hoje os sentimentos estão bem mais claros dentro de mim. E já sei que não pretendo trabalhar fora do horário escolar dos meninos. Quero continuar estando com eles, cuidando, amando, curtindo...