terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

Mas e os meninos? Estão bem no inglês?

Mas e os meninos? Estão se virando bem no inglês? Arrisco dizer que essa é a pergunta que mais me fazem desde que nos mudamos pra cá. Acho que já deu pra perceber que eu gosto sempre de seguir uma certa ordem cronológica nos meus pensamentos, né? Então, vamos lá.


Com 13 anos eu comecei a estudar inglês no CCAA. "Good Morning, Magic Eyes, How are you? Fine, Thanks, and you?". No CCAA se aprende inglês como os bebês aprendem a falar. A gente escuta, repete sem entender mesmo, depois começa a usar aquelas palavras com algum contexto e assim vai evoluindo. Leitura e escrita vem por último. No CCAA eu costumava ser a melhor aluna, sempre muito elogiada pela pronuncia e por conseguir falar rápido e me fazer entender.

Depois de quatro anos de inglês, comecei a dar aulas. Uma das professoras teve bebê nessa época e vi ela falando inglês com ele e ali decidi que quando eu tivesse filhos, falaria inglês com eles desde a barriga. Preciso dizer que não foi bem assim que aconteceu?

Por imaturidade, parei de dar aulas de inglês. Me afastei quase completamente do inglês (digo quase porque eu nunca deixei de assistir filme legendado, por exemplo), mas sempre acreditei que ele estava ali, guardadinho, e que seria como andar de bicicleta: a gente nunca esquece. 10 anos depois de eu parar o inglês, o Diego começou a trabalhar com a empresa que ele trabalha hoje. E ele, que foi meu aluno um dia, começou a ir ficando cada vez melhor no inglês, enquanto eu permanecia na mesma.

Os meninos tinham o inglês da escola e só. Nunca consegui (e quando conseguiria, não tive coragem) pagar aulas de inglês pra eles. Uns meses antes de dar certo o visto, eu disse pro Lipe fazer duolingo, e ele fazia durante a tarde, um pouco, até encher o saco. O Pablo, nada! Por ele ser mais novo, sempre me disseram que ele aprenderia mais fácil.

Nos mudamos e levou um mês e meio pras aulas começarem. O que eles ouviam de inglês nesse tempo era em vídeos e os motoristas de uber que a gente cruzava, mas não tinham oportunidade de falar. As aulas começaram e na primeira semana o Lipe já tava se comunicando bem. Ele é mais peitudo, mete a cara e vai. Em poucos meses ele já tava me corrigindo e me ajudando com coisas que eu não entendo. A única coisa que me incomoda é ver o Lipe falando I "fink" quando tá querendo dizer "I Think". Fico louca, já expliquei mil vezes, mas não tem jeito, alguma alma ensinou pra ele assim no Brasil e não consigo fazer ele mudar.

O Pablo já teve um processo mais lento. No começo tava completamente perdido. Com o tempo, percebi que ele já entendia inglês, mas se eu perguntasse algo em inglês pra ele, ele respondia em português. O tempo foi passando e ele começou a arriscar a falar. Começaram as férias de verão e ele passou a ter pouca oportunidade de praticar o inglês. Em setembro as aulas começaram na escola nova e em um ou dois meses ele passou a falar mais inglês que português. 

Eu tenho bastante dificuldade pra me comunicar. Tenho impressão que as palavras estão trancadas em algum lugar do cérebro, elas simplesmente não saem. Na verdade, elas estão ali, na ponta da língua, mas não consigo transformar de pensamento pra fala. Então dou voltas, tento explicar com gestos, explico mais ou menos e as pessoas que me conhecem, acabam completando a frase ou falando a expressão correta e menos formal pra me ajudar. Na maioria das vezes eu sabia aquela palavra ou expressão, só não conseguia acessar. Não consigo entender.

Eu tenho ainda pouca oportunidade de conversar. Quando falo, demoro bastante e é difícil fazer uma conversa fluir como eu gostaria, apesar de as pessoas afirmarem que me entendem. Consigo conversar com uma pessoa por algumas horas, se estiver só eu e ela. Mas se tiver num grupo de pessoas falando não me sinto confiante pra entrar na conversa, fico mais observando, já que eu demoro bastante pra conseguir falar o que quero e nem todo mundo sabe do meu processo de aprendizagem.

Apesar de algumas pessoas aqui falarem que meu inglês é bom e que conseguem me entender, eu não me sinto segura falando inglês. Mas algo que acontece, que é interessante, é que eu não noto quando estou falando inglês ou português. Se estou falando inglês com alguém e de repente chega alguém falando português, eu começo a falar português sem perceber, esqueço que as outras pessoas não entendem português (apesar de muitas pessoas aqui falarem espanhol e ficarem curiosas por ser tão parecido). Parece que tem uma chave, que de um lado é inglês e outro português, e essa chave é automática, tu não percebe que ela mudou.

Normalmente os meninos saem da escola falando Inglês e continuam falando inglês sem perceber, até que alguém puxe algo em português, então eles mudam a chave pro português também sem notar. Mas o que hoje, um ano e dois meses depois da mudança, eu consigo perceber é que o inglês já está muito mais presente na cabeça deles do que o Português e mesmo quando eles falam português, eles acabam traduzindo do inglês pro português, como quando eles pedem "posso ter um bolinho de banana?" ou quando o Lipe fala "salvar a bateria" em vez de economizar. Em várias situações eles conseguem se expressar melhor em Inglês do que em Português.

Os meninos estão bem no inglês? Sim, estão melhores que eu, com um vocabulário super melhor que o meu e eles me ensinam coisas novas todos os dias. Tem bastante diferença entre o inglês que ensinam nos cursinhos e o inglês na prática. Também é legal falar, que por melhor que seja a nossa pronúncia, sempre vai dar pra saber de longe que não somos nativos, basta observar qualquer estrangeiro tentando falar português. O Pablo tem a pronúncia mais parecida com os americanos do que o Lipe, por causa da idade. Falamos inglês e português dentro de casa, sem nóias... e assim vivemos, as vezes pensando em português, as vezes sonhando em inglês, sem pressa, sem cobranças, só vivendo. :)